Tabagismo: Novo remédio dobra as chances de fumantes largarem o cigarro

Citisiniclina é nova alternativa após 20 anos. Começará a ser comercializada no Reino Unido no fim do mês, mas ainda não tem previsão para países como EUA e Brasil
O tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas a cada ano e o tabagismo continua sendo a principal causa evitável de morte em todo o mundo

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Um novo fármaco à base de plantas, que se liga aos receptores de nicotina no cérebro, de modo a aliviar o desejo pela substância e, consequentemente, inibir a vontade de fumar, é o que promete a citisiniclina, novo aliado ao combate ao tabagismo, vício que mata milhares de pessoas em todo o mundo. O medicamento é uma novidade que chega em 20 anos de pesquisas. Além disso, reduz a gravidade dos sintomas associados à abstinência. É um mecanismo semelhante à vareniclina, substância do Champix, da Pfizer, aprovada nos EUA e no Brasil para o combate ao tabagismo, embora seu custo seja proibitivo para a maioria dos usuários de cigarros.

O laboratório que o lançará anunciou que o medicamento começará a ser comercializada no Reino Unido no fim do mês, mas ainda não tem previsão para países como EUA e Brasil. Também não se sabe o preço, que segundo o fabricante, terá baixo custo.

Em comparação com similares do mercado, como o kit de tratamento completo do Champix, patenteado pela Pfizer, está custando no Brasil, astronômicos R$ 1.944,72 e seu alto custo o fazem difícil de ser encontrado nas farmácias, mesmo nas que possuem sites na internet.

Kit de tratamento da Pfizer, o preço do Champix é proibitivo para a maioria dos dependentes de tabaco no Brasil

Segundo a OPA/OMS (Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde), o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas a cada ano. Mais de 7 milhões dessas mortes são resultado do uso direto do tabaco, enquanto cerca de 1,2 milhão são resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo. Quase 80% dos 1,1 bilhão de fumantes do mundo vivem em países de baixa e média renda.

O medicamento a base de citisiniclina não é novo, foi sintetizado ainda em 1964 na Bulgária. Além disso, pelo caráter fitoterápico que diminui as regras para comercialização, já é utilizado amplamente em diversos países da Europa desde os anos 1960.

Porém, apenas agora estudos clínicos rigorosos começaram a ser conduzidos para comprovarem o potencial entre aqueles que querem deixar de fumar. No Reino Unido, por exemplo, somente há pouco tempo a cistina recebeu um aval regulatório para ser usada oficialmente com esse objetivo, e estará disponível para venda a partir do próximo dia 22 de janeiro, mediante prescrição médica.

Omar de Santi, toxicologista do Hospital Nacional de Posadas, na Argentina, que liderou o novo estudo publicado na revista científica Addiction, destaca que a citisiniclina poderá ser uma nova e importante arma contra a dependência de cigarros especialmente em países de média e baixa renda, que ainda têm pouco acesso aos medicamentos já disponíveis.

“Nosso estudo aumenta a evidência de que a citisina é uma ajuda eficaz e barata para parar de fumar. Poderia ser muito útil na redução do tabagismo nos países de baixa e média renda, onde são urgentemente necessários medicamentos com boa relação custo-eficácia para parar de fumar. Em todo o mundo, o tabagismo é considerado a principal causa de morte evitável. A citisina tem potencial para ser uma das grandes respostas para esse problema”, afirma, em comunicado.

O novo trabalho analisou os resultados de 12 ensaios clínicos, que englobaram quase 6 mil voluntários. Oito deles compararam a cistina com um placebo, e demonstraram que ela aumenta em mais de duas vezes a chance de o indivíduo parar de fumar.

Os outros testes clínicos avaliaram o medicamento em comparação com terapias de reposição de nicotina, como adesivos, goma de mascar, inalador e aerossol, e com a vareniclina. Os resultados apontaram que o remédio tem eficácia semelhante à da substância do Champix, mas levemente superior à das terapias de reposição.

Em julho, a farmacêutica responsável pelo medicamento, a Achieve Life Sciences, disse que pretendia submeter os dados do remédio para aprovação de uso pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, na primeira metade de 2024. Não há ainda estimativa para a solicitação de aval em outros países, como o Brasil, cujo órgão regulador é a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

“O tabagismo continua sendo a principal causa evitável de morte em todo o mundo, mas nenhum novo medicamento para parar de fumar foi aprovado pela FDA por quase duas décadas. Existe uma necessidade urgente de novos medicamentos porque os atuais não ajudam todos os fumantes a parar e podem ter efeitos colaterais inaceitáveis. Se aprovada pelos reguladores, a citisiniclina pode ser uma nova opção valiosa para tratar a dependência do tabaco”, disse em comunicado a autora do estudo Nancy Rigotti, diretora do Centro de Tratamento e Pesquisa de Tabaco do Hospital Geral de Massachusetts, da Universidade de Harvard, na época.

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.