Soma de alunos e eleitores supera população total em 79 municípios do Pará; entenda

IBGE não reconhece cadastros administrativos como parâmetro populacional e utiliza métodos próprios, nem sempre fiéis à realidade; confira o detalhamento municipal preparado pelo Blog

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é uma das instituições brasileiras de maior credibilidade em sua área no mundo, mas também é passível de erros. E errar é humano. Só que as estimativas da população do instituto, que são feitas anualmente em anos não censitários, podem estar tão incorretas que rebaixaram a população de 79 municípios do Pará e vêm prejudicando a formulação de políticas públicas locais, já que as prefeituras se baseiam em dados oficiais, dos censos ou das estimativas de população, para estabelecer investimentos locais.

À ausência de uma contagem da população no meio da década passada e devido ao atraso do censo, que por conta da pandemia e questões orçamentárias foi empurrado de 2020 para este ano, diversas localidades paraenses vêm sofrendo na pele os estragos que uma subestimativa causa, inclusive perdendo recursos públicos, como o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), cujo principal critério de rateio é o populacional.

Atualmente, o IBGE está com um censo em andamento, com coleta que se iniciou em agosto e se estende até o final do mês que vem. Mas até os primeiros resultados do tamanho da população serem divulgados, em dezembro, o Blog do Zé Dudu se adianta em um levantamento inédito, que compila duas bases de dados oficiais: o número de alunos matriculados na educação básica, a partir de dados do censo escolar realizado este ano pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), e o número de eleitores aptos, cadastrados oficialmente nas bases do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O resultado é que 55% dos municípios paraenses estão com população real acima do que o IBGE divulgaria como estimativa para 2022 caso não fosse ano de recenseamento demográfico. Há, por outro lado, situações que podem entrar para os anais das pérolas e batatas estatísticas, como a indicação de superpopulação para lugares que nunca tiveram tanta gente assim.

Municípios rebaixados

O tamanho real da população de Canaã dos Carajás é uma das coisas mais curiosas e bizarras que o próprio censo do IBGE deve mostrar no final deste ano. Com 22,3 mil alunos na educação básica e 49,1 mil eleitores, a Terra Prometida crava 71,4 mil moradores, 77,9% a mais que os 40,1 mil moradores que a projeção a partir de dados das estimativas equivocadas do IBGE aponta. E olha que o cálculo não considera eventuais residentes que, por exemplo, votam em outros lugares ou crianças com até 3 anos.

Parauapebas também é outra “vítima” das estatísticas falhas do instituto. A Capital do Minério teria, hoje, pelo menos 256,7 mil habitantes, mas se fosse depender de estimativa do IBGE, não passaria de 224,1 mil. Ou seja, 14,6% dos habitantes seriam completamente desconsiderados. É como se, nas contas do órgão, 32,7 mil habitantes — ou todo o complexo de bairros da VS-10 — simplesmente não existissem.

A maior das “presepadas”, contudo, é percebida em Jacareacanga, onde o assunto população já foi parar na Justiça. Na visão do IBGE, Jacareacanga não passa de 6,3 mil habitantes, mas só a quantidade de crianças e adolescentes nas escolas do município, no total de 8,3 mil, supera a miragem. Além disso, a população votante totaliza 13,3 mil cidadãos. Como resultado, por baixo, a população atual de Jacareacanga seria de 21,6 mil residentes, o triplo da estimativa do IBGE vigente e 242% a mais.

Municípios exaltados

Mas existe o inverso dessa situação, e a própria capital do estado pode ser “acusada” de ter uma população que não tem, assim como Ananindeua. Somando alunos e eleitores de Belém, a metrópole chega 1,342 milhão de habitantes, embora exista lá um contingente considerável de cidadãos que vivem na capital, utilizam seus equipamentos públicos, mas não votam lá, assim como se é de supor que existam crianças e adolescentes fora da escola em maior número em relação aos demais municípios. Em Ananindeua, a soma de estudantes da educação básica com o eleitorado totaliza 453,9 mil habitantes e o panorama é similar ao da vizinha Belém.

Ainda assim, o maior “problema técnico” das estimativas do IBGE está em São Félix do Xingu, que, teria hoje, nas contas do instituto, algo em torno de 139,4 mil habitantes, uma superestimativa que se arrasta desde o censo de 2010, quando São Félix recebeu números a mais de moradores, por falha censitária jamais admitida pelo órgão oficial de estatística.

Este ano, o total de alunos da creche ao ensino médio do município campeão em boi no pasto chegou a 18,5 mil e o eleitorado, 42,9 mil, totalizando 61,4 mil habitantes. São números próximos ao que Novo Repartimento tem hoje, 18,9 mil alunos e 45,8 mil eleitores, totalizando 64,7 mil habitantes, mas que, pelos números do IBGE, beiraria os 80 mil residentes — número exagerado, mas bem abaixo do delírio de São Félix do Xingu.

Situação similar é a de Água Azul do Norte, que pode ter apenas metade dos habitantes indicados pelo instituto. Com apenas 3,8 mil alunos e 9,8 mil eleitores, Água Azul contabiliza 13,6 mil moradores teoricamente, enquanto o IBGE jura ser aproximadamente 28 mil. Mas à medida que inflacionou a estimativa de Água Azul, rebaixou a níveis drásticos Curionópolis, que tem 8,1 mil alunos e 17,5 mil eleitores, totalizando 25,6 mil cidadãos, embora o órgão oficial considere apenas 17,7 mil, “matando” anualmente habitantes da eterna terra do garimpo de Serra Pelada na estimativa oficial.

Existem diversas curiosidades no confronto de números e situações como a de Marabá, que contabiliza cerca de 10 mil universitários de fora vivendo na cidade e uma considerável população da extensa área rural sem título de eleitor, o que pode subnotificar dados estatísticos para muito além da soma de alunos e eleitorado oficial.

O resultado do censo demográfico deste ano acabará com muitas heresias do IBGE ou jogará ainda mais lenha na fogueira, em que muitos municípios vêm sendo fritados desde 2010.

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*Confira o quadro preparado pelo Blog do Zé Dudu com informações de alunos matriculados em julho de 2022, eleitores aptos em julho de 2022, e a soma desses números para projetar a população real atual, sem considerar eventuais alunos fora da escola e habitantes que votam em outros lugares. Compare os dados com a estimativa da população de 2021 feita pelo IBGE e com a projeção de estimativa para 2022 produzida, a partir de dados do IBGE, pelo Blog.

2 comentários em “Soma de alunos e eleitores supera população total em 79 municípios do Pará; entenda

  1. Pingback: Canaã dos Carajás é o município que mais cresceu no Brasil, revela parcial do censo - ZÉ DUDU

  2. JP Responder

    Aqui em Belém, creio que nas outras cidades da região metropolitana também, tem muitos moradores que vivem há mais de 20, 30 anos mas que ainda votam nas suas cidades de origem. Os dias anteriores e seguintes ao dia da eleição a BR fica congestionada com o tanto de pessoas se deslocando de um município o outro pra votar e ver os parentes.

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