Revista Época entrevista pistoleiro

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Em entrevista à revista Época, um pistoleiro conta como, para quem e por que matou 16 pessoas em Castelo de Sonhos e em Mato Grosso. Hoje ele é caçado por matadores de fora da região para não abrir a boca. Os fazendeiros citados pelo matador de aluguel em entrevista gravada coincidem com os denunciados no relatório ‘Violação de Direitos Humanos no Pará’ como mandantes de crimes. No relatório, divulgado nessa segunda-feira em Brasília, aparecem os nomes de várias pessoas marcadas para morrer no Estado do Pará. Entre elas, Carmelita Félix da Silva e Ednalva Rodrigues Araújo, ambas de Parauapebas. Confira a entrevista:

ÉPOCA – Como começou a matar?
Pistoleiro – Levei um tiro no garimpo. Persegui o cara. Quando viu que eu ia atirar, ele botou o filho na frente. Acertei na cabeça do menino. Ele correu. Continuei atrás e matei aquele pai covarde. Isso foi em 1986. Virei matador de aluguel e fui trabalhar de guaxeba nas fazendas.

ÉPOCA – O que é guaxeba?
Pistoleiro – É a polícia dos fazendeiros.

ÉPOCA – Para quais fazendeiros trabalhou?
Pistoleiro – Trabalhei na fazenda Tigre ( hoje em processo de desocupação pelo Incra, e também para o Maneca (preso como mandante da morte de Brasília (sindicalista) e para o Fiorindo Minosso. O resto foi particular.

ÉPOCA – Como é particular?
Pistoleiro – 50 gramas de ouro por cabeça.

ÉPOCA – Os fazendeiros pagam por morte?
Pistoleiro – Por mês. Uma humilhação. Me pagavam R$ 800.

ÉPOCA – Como é que funciona?
Pistoleiro – O fazendeiro passa a ordem pro chefe dos guaxebas e ele passa pra gente. A gente fica de olho para não invadirem as terras. Se aparecer na picada, é pra atirar e esconder o corpo. A gente pede aumento mas eles não dão. É só aquele valor no fim do mês, tanto faz matar como não matar.

ÉPOCA – E o que você fez com os corpos?
Pistoleiro – Eu carregava pro mato e enterrava. Quando tinha rio grande jogava dentro. Em Matupá (MT) enterrei um atrás do cemitério. Outros joguei debaixo da ponte do Rio Peixoto. Enterrei uns pra frente da sede do Panquinha, em Castelo, mas esses a Polícia Federal já achou. Numa estradinha que vai pra fazenda de um rapaz por nome Toninho tem mais quatro corpos no mato de umas pessoas que queriam a terra do Maneca. Os dois do Minosso foi o chefe dos guaxebas dele, Hamilton, que consumiu. Não sei onde tão.

ÉPOCA – E os da Tigre?
Pistoleiro – Eles estavam no movimento dos sem-terra. Foi o seu Antônio e um outro que tinha apelido Rabo de Couro. Gostava de usar aqueles chapeuzinhos porque veio do Ceará. Mas esse foi por acaso. A espingarda estava destravada e quando eu pulei da caminhonete disparou. Era só para tirar ele de lá, mas o chumbo pegou na garganta.

ÉPOCA – Quantos trabalhadores você matou porque queriam fazer acerto?
Pistoleiro – Quatro.

ÉPOCA – O que sentia quando matava?
Pistoleiro – Naquele momento era brincadeira. Não tinha remorso de nada. Tem quem nunca fez mal pra nós, mas o sangue da gente não combina. Esse tipo não precisa nem um preço muito alto pra fazer. Mas tem gente que o sangue combina, chega na hora de disparar a arma e dá um remorso. Mas depois passa. É só pegar o dinheiro e ir pros bar tomar cerveja e pronto. Só a criança é que eu lembro até hoje.

ÉPOCA – Você fazia alguma marca?
Pistoleiro – Só virava de peito pra cima e pulava duas vezes o corpo antes de ir embora. Superstição da gente pra não ser pego.

ÉPOCA – Já foi pego?
Pistoleiro – Graças a Deus só uma vez. Fui condenado a 16 anos, mas vendi tudo o que eu tinha, paguei R$ 72 mil pro advogado e pro juiz e saí. Estou na condicional.

ÉPOCA – Os pistoleiros de Castelo estão sendo eliminados. O que você vai fazer?
Pistoleiro – Vou embora, mas não posso falar nem pra  onde e  nem quando. Minha história por aqui acaba. Não sei se tem continuação.

5 comentários em “Revista Época entrevista pistoleiro

  1. Luiz Vieira Responder

    Luiz Vieira cuidado senão…
    Típico dos covardes que se escondem no anonimato para fazer ameaças. Desde que cheguei em Parauapebas em 1987 tenho sofrido ameaças de morte pela minha luta por justiça e dignidade. Até hoje estou vivo e não temo a ninguém pois minha proteção vem de DEUS que é mais poderoso de que qualquer assassino. Quanto a esse que fez a ameaça anônima, desejo que tenha vida plena com muita saude e prosperidade e que veja seus filhos prosperarem.

  2. MÍRIA Responder

    Infelizmente vivemos num mundo de incerteza e dor, a nossa região estar domada por melícias de diverssos seguimentos.

    Nesse instante senhores, gostaria de feixar os olhos de nossos filhos e tapar lhes os ouvidos, para não ver e ouvir tal desrespeito para com a vida.

  3. cuidado carmelita Responder

    quem poderia fazer mal a uma senhora como dona carmelita so se for um monstro como esse da entrevista mesmo, dona caca como e chamada pelos intimos sabe que todos nos torcemos por ela, mais o luiz vieira esse tome cuidado se nao….

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