Chacina no DF: Polícia encontra, dentro de fossa, em Planaltina, mais três corpos de desaparecidos

Dez vítimas da mesma família foram assassinadas e um quarto suspeito está sendo caçado pela polícia
Com o auxílio de bombeiros militares do DF, investigadores da PC-DF encontram e resgatam três corpos que podem ser da mesma família e que estavam desaparecidos no caso da Chacina do DF

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Brasília – A Polícia Civil do Distrito Federal não tem mais dúvidas que os dez membros desaparecidos de uma mesma família foram todos assassinados por membros que se associaram em uma quadrilha para praticar os crimes e se apropriarem de grandes somas de dinheiro que as vítimas tinham em seu poder após a venda de imóveis que lhes pertenciam, no final do ano passado, no caso conhecido como a Chacina no DF.

Investigadores da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) com o auxílio de bombeiros militares do DF encontraram, na madrugada desta terça-feira (24/1), três corpos em uma fossa, numa área de mata, em Planaltina — próximo ao Vale do Amanhecer. Os cadáveres são dois corpos do sexo feminino e um do sexo masculino, coincidindo com a descrição das três últimas vítimas que estavam desaparecidas desde a virada do ano.

Peritos do Instituto Médico Legal do DF, confirmaram a identidade dos corpos de Elizamar, dos três filhos — Gabriel, Rafaela e Rafael — e do sogro dela, Marcos Antônio Lopes

Ainda não se sabe as identidades das vítimas. Até o momento, foram identificados os corpos da cabeleireira Elizamar da Silva, 37 anos; dos três filhos, Gabriel, 7, dos gêmeos Rafaela e Rafael, 6; e de Marcos Antônio Lopes, 54, sogro de Elizamar.

A polícia espera ainda a identificação de duas vítimas do sexo feminino encontradas carbonizadas dentro de um Renault Clio preto que foi incendiado, em uma via de Unaí (MG).

Os investigadores descobriram que o carro pertencia a Marco Antônio Lopes de Oliveira, 54, sogro da cabeleireira Elizamar, e que foi encontrado enterrado em cova rasa de uma casa que foi alugada pelos suspeitos dos crimes para servir de cativeiro para pelo menos seis das vítimas.

Marcos Antônio Lopes, 54 anos, trabalhava com dois dos acusados da chacina do DF. Ele foi sequestrado, torturado, degolado, esquartejado e teve os restos mortais enterrado em cova rasa no quintal do cativeiro, em Planaltina

Os restos mortais de Marco Antônio foi decapitado, esquartejado e tinha muitos sinais de violência. Ele era conhecido dos algozes que havia lhes dado emprego no ano passado. Foi assim, que os assassinos descobriram sobre a venda dos imóveis e planejaram os crimes.

Doze horas antes da descoberta do carro incendiado no estado mineiro, um outro carro, que pertencia a cabeleireira desaparecida havia sido encontrado em Cristalina, no Goiás, com quatro corpos carbonizados em seu interior. Posteriormente foram identificados como os corpos da própria cabeleireira e seus três filhos pequenos.

O enterro foi na tarde de segunda-feira (23), sob forte comoção, com as pessoas gritando “justiça, justiça” e portando cartazes cobrando uma rápida solução para os hediondos crimes.

A suspeita agora da polícia é que os corpos encontrados nas primeiras horas desta terça-feira (24), após intenso trabalho policial, sejam de Renata Juliene Belchior, 52, casada com Marco Antônio; o corpo da filha deles, Gabriela Belchior de Oliveira, 25 e o do filho mais velho, Thiago Gabriel Belchior, 30, que era marido da cabeleireira Elizamar da Silva, 39.

Caçada ao quarto suspeito

Até o momento, a polícia prendeu três pessoas no caso da chacina: Horácio Carlos, 49, Gideon Batista, 55, e Fabrício Silva Canhedo, 34. Gideon foi capturado no Recanto das Emas, na semana passada. Embora manteve o silêncio ao ser questionado sobre os fatos, o carro dele, um Renault Scenic, foi capturado por câmeras de segurança de um posto de combustível do Paranoá, horas antes do carro da cabeleireira ter sido encontrado carbonizado em uma via de Cristalina (GO). Nas imagens, Gideon chega ao estabelecimento e, em 10 minutos, compra um galão de gasolina, o que, para a polícia, seria usado posteriormente para queimar Elizamar e os filhos dela, Gabriel, 7, e os gêmeos Rafael e Rafaela, 6, dentro do veículo.

A alta periculosidade de Fabrício, Gideon e Horácio fez com que a Justiça convertesse a prisão dos suspeitos de temporária para preventiva em audiência de custódia

Fabrício, por sua vez, atuou na vigilância da casa onde as quatro mulheres foram mantidas em cárcere. Era ele quem ficava responsável por observar qualquer movimento suspeito e alimentar as vítimas. No quintal da mesma casa, cães farejadores do Corpo de Bombeiros encontraram o cadáver de Marcos enterrado em uma cova de 50 cm de profundidade. O corpo estava esquartejado e degolado. Os sequestradores utilizaram ainda cal ao redor da cova para disfarçar o odor, mas sem sucesso.

O quarto suspeito de participação na chacina do DF, Carlomam dos Santos Nogueira, 26, é membro da facção paulista PCC

A identificação do quarto suspeito, Carlomam dos Santos Nogueira, 26, veio após peritos papiloscopistas da PCDF identificarem impressões digitais dele deixadas no cativeiro e no carro de Gideon. Ao longo do dia de ontem, os policiais estiveram na rua para capturá-lo, mas o homem — apontado como membro da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) não havia sido localizado até o fechamento desta reportagem. Carlomam acumula antecedentes criminais por porte ilegal de arma de fogo, roubo, receptação e corrupção de menores. Em 2018, ele foi alvo de uma operação por atuar de dentro do Complexo Penitenciário da Papuda para a organização criminosa, com a transmissão de bilhetes para outros internos e batismo de novos membros.

Diante da nova descoberta nesta madrugada, cai por terra a versão dos suspeitos de que os crimes teriam sido planejados por Marcos Antônio e Thiago Gabriel Belchior, sogro e marido, respectivamente, da cabeleireira Elizamar.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.