Plano de obras para Belém sediar COP 30 permanece um mistério

A capital do Pará não tem infraestrutura adequada para sediar o evento
Infraestrutura da capital do Pará é precária e rede hoteleira insuficiente

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Brasília – Há uma boa e uma má notícia, ao se constatar que Belém, a quadricentenária capital do estado do Pará, foi escolhida pelo governo federal, a candidata do Brasil para sediar a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), a ser realizada em 2025. Essa é a boa notícia.

A má notícia é que a cidade não tem a menor condição de infraestrutura para sediar o evento, exceto se houver uma corrida contra o tempo para dotar a cidade de mínima qualificação  a fim de abrigar o evento de alcance global. E isso não sairá barato!

Dotada de sofrível malha de transporte público, com veículo sobre trilhos inexistente e frota de ônibus completamente sucateada, ao ponto de nesta semana as empresas com concessão para a exploração de linhas metropolitanas desistirem de participar do edital de renovação dos contratos.

O serviço de limpeza pública é sofrível e a cidade possui uma das piores redes de tratamento de esgotos do país. No bairro mais chique da capital paraense o esgoto corre a céu aberto em frente aos principais hotéis da cidade.

A rede hoteleira da cidade é insuficiente para acomodar a demanda gerada pelo evento, de alcance internacional. O fluxo do tráfego urbano de veículos nos horários de pico leva as pessoas à loucura.

Embora o Itamaraty tenha dado início aos esforços diplomáticos para lançamento da candidatura da cidade de Belém, como sede do evento, que reflete a prioridade conferida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com total apoio do governador Helder Barbalho (MDB), ao combate à mudança do clima e à preservação ambiental da região amazônica. Uma coisa é o proselitismo político da postura dos mandatários e outra coisa é o plano para “maquiar a cidade” a fim de evitar o inevitável: um mico de proporções internacionais.

A sede da COP 30 deverá ser decidida por ocasião da COP 28, em dezembro de 2023. Há tempo de promover obras e consertos numa cidade problemática, na qual até a coleta de lixo é um suplício diário?

Os governo do município e do estado e o próprio Governo Lula não têm a resposta, porque não há um plano para isso, até onde se sabe. Se existe, está guardado a sete chaves, porque os três entes nacionais envolvidos na indicação, não respondem os pedidos de esclarecimentos do plano de obras, execução e custo necessários para as intervenções.

O estado deplorável em que se encontra o Aeroporto Internacional de Val-de-Cans é um exemplo clássico do abandono e da falta de investimento na capital paraense. Listado, ainda no governo de Jair Bolsonaro no programa de privatizações, não se sabe em que medida o equipamento receberá investimentos necessários a tempo do evento.

Oficializar a capital do Pará para receber, em 2025, lideranças de 156 países que irão traçar as diretrizes mundiais para enfrentar as mudanças climáticas parece ótimo, mas a realidade é oposta a intenção.

Entre o marketing de colocar o Brasil e a Amazônia como protagonista na condução das discussões sobre mudanças climáticas e futuro sustentável soa bem, mas sem obras, Belém passará vergonha diante da cobertura da mídia internacional em seus aspectos mais primários. E, como cartão de visita, o governo brasileiro escolheu a cidade de Belém, capital do Pará, como candidata a sede da COP 30, que será realizada em 2025 o que pode resultar num mico sem precedentes.

Responsável pela gestão da cidade o prefeito Edmilson Rodrigues se atém a declarar: “Esse é o momento de a Amazônia ser lembrada como uma região importante para o futuro da humanidade. Ser pensada em uma perspectiva estratégica de futuro sustentável para o Brasil e para o mundo, tendo os amazônicos como parte dela. Queremos ser protagonistas desse projeto de futuro”, sem apresentar nenhum plano de ação para que transforme a cidade que administra em uma concorrente competitiva. Hoje, ao cair de uma chuva um pouco mais forte sobre a cidade, o caos se estabelece numa cadeia de consequências colossais. O centro da cidade submerge — literalmente.

“Para Belém, a indicação é uma chance de mostrar ao Brasil e ao mundo como uma metrópole pode se desenvolver e ainda manter uma relação de harmonia com a floresta e buscar qualidade de vida para sua população” é o que diz os panfletos da campanha, porém, nenhum belemense ouviu falar de algum plano para que do sonho escrito no documento de intenções, haja efetividade do plano ter chance de se tornar realidade

Embora o ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho seja do Pará e irmão do governador do Estado, ao que se sabe, não há qualquer previsão orçamentária da pasta para obras que visem o evento e a pergunta que não quer calar é: essa previsão pode ser incluída no orçamento do ano que vem, mas, outra pergunta se impõe: os projetos estão prontos? E o prazo das licitações? Os três governos não apresentaram as respostas.

“Belém é uma metrópole amazônica com cultura e histórico políticos fortes, com universidades e centros de produção técnico-científica. Nosso bioma é rico e pode nos render um futuro virtuoso. A realização da COP é a afirmação de Belém como capital da Amazônia, como o lugar onde o mundo busca referências para pensar o futuro da humanidade”, diz o prefeito, um político profissional, arquiteto, mas cuja gestão é criticada até por apoiadores.

Incrustada na porção oriental da maior floresta tropical do mundo, Belém já foi sede de diversos eventos multinacionais, como o Fórum Social Pan-Amazônico, numa outra época, em que a cidade estava melhor organizada. Entretanto, o evento é 10% em comparação com uma COP.

Nadando contra a maré, o prefeito insiste em afirmar que: “Belém já conta com uma boa capacidade hoteleira e espaços para grandes eventos. Mas tudo pode estar ainda mais bem preparado para recepcionar as milhares de pessoas que virão debater essa crise climática. Que nesses três anos possamos trabalhar para preparar esse evento com a certeza de que o governo Lula e o governo do Estado ajudarão a prefeitura nessa missão”, diz Edmilson Rodrigues.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.

1 comentário em “Plano de obras para Belém sediar COP 30 permanece um mistério

  1. Jean De Almeida Responder

    A falta de tal infraestrutura como você deve ser vista como um ponto favorável do ponto de vista de políticas públicas.
    Devemos sim torcer por Belém.

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