Parauapebas foi o 2º município que mais desempregou no Brasil no 1º trimestre

Dados do Caged mostram que Capital do Minério demitiu em apenas 3 meses 20% do volume de trabalhadores que demorou 24 meses para ajuntar. Perda econômica supera R$ 21 milhões

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O município de Parauapebas criou 18.500 postos de trabalho com carteira assinada entre 1º de janeiro de 2020 e 31 de dezembro de 2021. Para quem não faz ideia da dimensão desse volume de empregos adicionados ao mercado de trabalho local, basta entender que apenas a quantidade de novos trabalhadores na Capital do Minério em dois anos é maior que a população inteira de 3.626 municípios brasileiros, 65% do total.

Porém, por se tratarem de empregos temporários, eles começaram a ruir, e com força. Nos primeiros três meses deste ano, Parauapebas perdeu cerca de 3.700 postos de trabalho com carteira assinada, o segundo maior — e pior — volume do Brasil. Bastaram apenas três meses para aniquilar 20% de todo o estoque conseguido pelo município nos 24 meses anteriores. Se mantiver o ritmo, Parauapebas poderá encerrar 2022 com 14.700 novos desempregados, mais gente que a população da vizinha cidade de Curionópolis.

As informações foram levantadas pelo Blog do Zé Dudu, que nesta sexta-feira (29) analisou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho. O Caged é referente a março e trouxe o pior março da história de Parauapebas, no tocante ao saldo de empregos formais. Foram desligadas de seus postos 1.078 pessoas, o que colocou o município minerador entre os 15 maiores demissionários do Brasil no mês passado.

A construção civil, que alcançou pico de contratações entre junho de 2020 e outubro de 2021, mantendo-se pujante e intocável mesmo durante os meses mais duros da pandemia de coronavírus, agora experimenta o efeito rebote. Apenas no início deste ano, quase 2.500 pedreiros, carpinteiros, ajudantes, entre outros profissionais do ramo, foram demitidos.

No setor de serviços, a baixa foi de quase 1.000 empregos no primeiro trimestre deste ano e a mineração despachou cerca de 350. A situação só não está ainda pior porque o comércio conseguiu, a duras penas, gerar 100 postos com carteira assinada no período, amortecendo os efeitos deletérios da crise agressiva que se abate sobre o mercado de trabalho local.

Menos R$ 85 milhões em 12 meses

Os prejuízos vão além das perdas individuais de emprego. No conjunto, quem é demitido na construção civil de Parauapebas perde R$ 1.760 de renda mensal, ao passo que quem sai do setor de serviços perde R$ 1.483 e quem é demitido na mineração perde R$ 3.891. Com isso, deixaram de circular no comércio de Parauapebas no início deste ano R$ 21,42 milhões em massa salarial, valor que pode superar R$ 85,67 milhões se os mesmos pais de família continuarem sem emprego até o final do ano.

A sensação de desemprego só não tem sido sentida com mais força porque o fato de Parauapebas ser considerado um município rico, com boas finanças, mascara a “temperatura”. Porém, até a prefeitura tem percebido diminuição de faturamento em relação ao mesmo período do ano passado por conta da queda na atividade mineral realizada pela multinacional Vale nas minas da Serra Norte de Carajás. A produção reduziu e, por efeito, os royalties de mineração também caíram.

Ainda assim, a Prefeitura de Parauapebas tomou da Vale o cetro de maior empregadora local, já que garante salário atualmente a 11.500 servidores, 7.000 dos quais não efetivos, enquanto a Vale emprega 8.500 operários na Capital do Minério. Com os salários médios muito maiores que os da mineradora, a prefeitura ajuda a tocar e aquecer os setores de comércio e serviços, fazendo com que os efeitos da perda de massa salarial na iniciativa privada sejam pouco perceptíveis para o comércio.

Mas mesmo a prefeitura, com as finanças sob pressão atualmente, começa a dar indícios de que uma eventual demissão em massa no seu quadro não pode ser descartada. Será aí que se começará a perceber que os números do Caged, mesmo alheios ao setor público, fazem sentido, para além das estatísticas. Parauapebas está com um pé no passado não muito distante — de desemprego, queda de receitas e crise imobiliária — que tenta a todo custo esquecer.