O negócio do futebol, por Carlos Alberto Parreira

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É hora de dar uma orientação empresarial a essa forte paixão nacional

Carlos Alberto Parreira – Fundador do Footecon e ex-técnico da Seleção Brasileira

Equipes treinadas, metas bem definidas, estratégias de ataque ou de contenção. Há tempos os negócios pegam emprestado termos e ideias do mundo dos esportes, em especial do futebol. Muitos dos principais atores do mercado veem seu campo de trabalho exatamente assim: uma grande competição. Nos últimos tempos, a metáfora tem ganhado peso. O negócio do futebol é crescente no Brasil. E será ampliado.

O principal marco desse movimento acontece em menos de dois anos, quando o país voltará a receber a Copa do Mundo, 64 anos depois daquela que inaugurou o Maracanã. O megaevento deve movimentar mais de R$ 142 bilhões, aponta estimativa da Ernst & Young. Serão criados 3,6 milhões de empregos diretos e indiretos, em 90 setores. A realização da Copa sinalizará para o mundo que o ambiente de negócios no futebol brasileiro está sólido. Receber a responsabilidade de organizá-la representa um desafio, mas também um aval de competência e capacidade de gestão.

Após décadas de amadorismo e administração deficitária, os clubes brasileiros entenderam que precisam incorporar as modernas práticas de gestão das grandes empresas. O processo está longe da conclusão e não é fácil, com impactos dentro e fora das quatro linhas. Líderes tradicionais, que se julgavam intocáveis, foram alijados das diretorias a duras penas. Hoje as condições e as garantias para negócios são bem mais favoráveis, como palestrantes especializados nessas áreas vão mostrar no Fórum Internacional de Futebol (Footecon 2012) , fundado por mim há nove anos. Muitas equipes contam com dezenas de milhões de torcedores espalhados por todo o país, que automaticamente se transformam em clientes em potencial.

O resultado desse processo é acompanhado de perto em um campeonato disputado – poucos países têm uma alternância de campeões como aqui – e um mercado sólido e maduro para o futebol. Nossas revelações não são mais tão seduzidas pelas ofertas dos campos europeus, do Oriente Médio ou da Ásia. Nossas estrelas com projeção internacional já optam por ficar e os torcedores, agradecidos, não economizam para brindá-los, alimentando ainda mais essa indústria.

A organização da Copa do Mundo, antecedida, no ano que vem pela Copa das Confederações, potencializará esse cenário e tudo que gira em sua órbita. Todas as regiões do país ganharão estádios, modernos e com metas rentáveis não só durante os campeonatos e competições, mas como sede de grandes eventos. Os dias de jogo se transformarão, cada vez mais, em entretenimento para toda a família, algo comum no exterior. Mesmo estádios que não receberão partidas oficiais foram reformados, o que comprova o acerto da estratégia.

O futebol conta ainda com um ativo extra, raro em outros mercados: a paixão do torcedor. É o cliente mais fiel, refratário à sedução da concorrência e disposto a fortalecer esse amor.

Em um momento em que o líder do Campeonato Brasileiro é treinado por um técnico formado em economia, a mistura de futebol com negócios é benéfica para os dois e rentável para patrocinadores e investidores.

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