Considerado aliado fundamental de profissionais de saúde e pacientes, por contribuir de forma determinante no direcionamento precoce da conduta médica no tratamento de enfermidades como a Covid-19, o tomógrafo nunca antes fora tão demandado em hospitais brasileiros. E se tornou alvo de estudos quanto a sua distribuição geográfica no país. O Centro Universitário do Distrito Federal, com sede em Brasília, acaba de lançar uma pesquisa intitulada “Tomógrafos X Covid-19: Análise da distribuição espacial de Tomógrafos no Brasil em tempos de pandemia”, que traça o raio-x desses equipamentos.
O Blog do Zé Dudu conferiu na íntegra nesta quinta (29) as 89 páginas do estudo e verificou que os resultados do Pará são nada animadores. O levantamento utiliza dados do Ministério da Saúde, por meio das bases do DataSUS e do Cadastro Nacional dos Estabelecimento de Saúde (CNES). Também lança mão de números da estimativa populacional de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para apurar a distribuição per capita de tomógrafos em 2020.
Ao todo, o estado possui 125 tomógrafos, sendo que 41 deles (33%) estão concentrados em unidades de saúde da capital paraense, Belém. O SUS tem 74 (59%) dos aparelhos e apenas 31 municípios (21,5%) dos 144 têm equipamentos para realizar tomografia computadorizada.
O Pará possui uma das mais baixas densidades de tomógrafo por habitante, com 0,86 aparelho para cada grupo de 100 mil pessoas. Taxas piores que essa só são verificadas nos estados do Acre (0,56), Amazonas (0,72) e Sergipe (0,82). No Maranhão e no Ceará, a distribuição percentual de tomógrafos é similar à paraense. Além disso, do total de aparelhos identificados no levantamento, 6% estão fora de uso aqui no estado.
Distribuição nos municípios
De acordo com o estudo, Belém é a maior “tomografolândia” do estado, com 41 aparelhos, 18 dos quais na rede pública. Em seguida, Ananindeua concentra 12 equipamentos, enquanto Parauapebas e Castanhal aparecem empatados com oito tomógrafos cada. Santarém com sete e Marabá com seis completam o ranking.
Curiosamente, no município de Capanema há cinco tomógrafos e todos são da rede pública. Em Tucuruí também há cinco. Chama atenção o fato de municípios tecnicamente importantes, como centros regionais e locais, terem apenas um aparelho. É o caso de Abaetetuba, Altamira e Breves. Altamira, por exemplo, é praticamente uma minicapital regional no coração do Pará e aonde muitos habitantes dos arredores recorrem em situações complexas de saúde.
Outra situação percebida pelo Blog é a ausência de tomógrafo em municípios com arrecadação robusta e cujas prefeituras estão entre as 25 mais endinheiradas do estado. É o caso de Oriximiná, São Félix do Xingu, Novo Repartimento e Vitória do Xingu. Já em municípios mais tímidos financeiramente, como Curuçá, Jacundá, Capitão Poço, Novo Progresso e Tomé-Açu, é possível encontrar um aparelho. Em Tucumã, no sul do Pará, há dois disponíveis, mesma quantidade encontrada em Redenção e Conceição do Araguaia. Em Xinguara, por seu turno, só há um.
As imposições da geografia
Os autores do estudo observam que, no tocante ao acesso das demandas aos serviços de saúde no Brasil, a distância ou a proximidade entre a residência do usuário e o local da prestação do serviço constitui a razão para orientar a distribuição dos recursos e a ampliação da rede de unidades de serviços de assistência médica. No caso do tomógrafo, uma portaria do Ministério da Saúde de 2015 considera como área de cobertura máxima do equipamento, para garantia do acesso ao exame principalmente em casos de urgência e emergência, um raio de 75 quilômetros ou 100 mil habitantes (o que for atingido primeiro).
Mas, observando-se a realidade paraense, o Blog identificou que muitos municípios estão longe dessa meta devido à dimensão do território, principalmente nas regiões do Baixo Amazonas, da Transamazônica e no sul do estado. De Pacajá, na Transamazônica, por exemplo, o tomógrafo mais próximo está a 178 quilômetros de distância, na cidade de Tucuruí, que também é a mais próxima com mais de 100 mil habitantes. É mais uma evidência de que as políticas públicas de saúde no Pará não conseguem alcançar a todos, mesmo com regras claras e definidas.