Brasília – A Grão Pará Bioenergia, criada a partir de uma joint venture entre o Grupo Mafra e a Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA), anunciou a construção de uma refinaria de etanol de milho em Redenção, no sul do Pará. O empreendimento vai investir R$ 2 bilhões até 2029, sendo R$ 600 milhões este ano. A nova agroindústria prevê a geração de 600 empregos diretos e 3 mil indiretos.
O bilionário grupo paulista, com atividades que vão de equipamento médico a pecuária de corte, em sociedade com o grupo mineiro CMAA, do segmento sucroenergético, prevê que a indústria entre em seu primeiro estágio de funcionamento em 18 meses, já com o milho da segunda safra 2024/25 utilizado na produção. O presidente executivo da Grão Pará Bioenergia será Flávio Inoue.
A nova empresa surge, assim, sob o comando de um profissional experiente no agro. Inoue foi CEO da Insolo, empresa comprada pela Granja Faria em 2021, e é sócio-fundador da SeedCorp HO. Seu currículo extenso inclui ainda a posição de diretor sênior no Pátria Investimentos, onde atuou no escritório de investimentos, além de passagens pela McCain Foods e na Syngenta.
Segundo Carlos Mafra Júnior, diretor do Grupo Mafra, a ideia de criar a agroindústria surgiu pela própria operação da empresa na região. Conglomerado familiar, o grupo possui cerca de 150 mil hectares de terras em torno de Redenção.
Mafra afirmou que, desse total, cerca de 75 mil hectares são destinados à preservação e o restante é explorado. São 100 mil cabeças de gado e 20 mil hectares onde são cultivados soja, na primeira safra, e milho na segunda.
Ele destacou que a ideia do negócio surgiu do grupo, que viu na região um movimento crescente de conversão em áreas desgastadas pela pastagem de bois em áreas agricultáveis.
“Nossa ideia é, em cinco anos, converter mais áreas de pecuária em agricultura e aumentar a área de grãos. Com isso, nosso grupo contribui com a parte agrícola, de milho e de DDG – o grão de milho seco obtido da destilação do cereal,” explicou. “Ele é utilizado há mais de cem anos pela indústria norte-americana como alimentação do gado de corte e, mais recentemente, foi introduzido na pecuária brasileira – que é consumido pela pecuária, e a CMAA contribui na parte industrial. Nascemos com um know-how rico sobre o negócio”.
O Grupo Mafra é conhecido por ser o criador da Viveo, empresa de capital aberto especializada na fabricação e distribuição de materiais para o setor de hospitais e saúde humana. A empresa gerou receitas de quase R$ 3 bilhões só no terceiro trimestre do ano passado, o último que teve seus resultados divulgados.
Mafra contou que, ao longo de sua existência, o grupo foi diversificando seus investimentos pelo país. Dentre essas incursões, passou a atuar no agro por volta de 2004, quando comprou fazendas justamente em Redenção.
A decisão de unir sua expertise na agropecuária com quem “entendesse de indústria e etanol” os levou até a CMAA. “Nossa família tem negócios em outras indústrias, mas não na agroindústria,” afirmou.
Reconhecida no setor sucroalcooleiro, a CMAA possui três usinas na região do Triângulo Mineiro. A empresa, produtora de açúcar e etanol, é a terceira maior do estado e foi criada em 2006 pelo grupo JF Citrus. Em 2013, a Indoagri, multinacional da Indonésia que atua no setor agrícola e na indústria de distribuição de alimentos, passou a ter 50% da empresa.
A empresa fechou o ano safra 2022/2023, encerrado em março do ano passado, com um faturamento de R$ 2,1 bilhões. Ao todo, foram processadas 8,5 milhões de toneladas de cana, que deram origem a 658 mil toneladas de açúcar e cerca de 310 milhões de litros de etanol.
A JF Citrus, uma das sócias da empresa, é uma holding que figura entre os quatro maiores produtores de laranja do país, com cerca de 5 milhões de pés de laranja no estado mineiro. A empresa foi criada também em 2006 pela família de José Francisco dos Santos, um empresário local que já atuou no setor de batatas e de cítricos. Ele atualmente é presidente do conselho da CMAA. Seu filho, Francisco José, comanda a holding, que não divulga seus números de faturamento.
DDG e boitel no plano de negócios
A ideia da Grão Pará Bioenergia é fomentar o cultivo de milho na região, aproveitando áreas de pastagens degradadas em agricultura, de acordo com Carlos Mafra Júnior.
“A pauta de sustentabilidade converge totalmente com a estratégia de investimentos dos Grupo Mafra e CMAA. Isso agrega valor na produção em áreas já antropizadas, intensificando a pecuária e agricultura, com zero necessidade de abertura de novas áreas e preservando as reservas de florestas nativas,” destacou.
Ele destacou que o negócio terá três etapas de desenvolvimento. No ano que vem, a empresa vai começar a processar 255 mil toneladas de milho ou sorgo, o que deve gerar 106 milhões de litros de etanol.
Na segunda etapa o montante dobra, indo para 510 mil toneladas de milho processadas, originando 212 milhões de litros de etanol. Na terceira fase de ampliação, ele acredita que a Grão Pará Bioenergia produzirá 430 milhões de litros de etanol provenientes de 1,1 milhão de toneladas de milho.
Segundo estimativas da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), cada tonelada de milho processada numa indústria como essa gera 450 litros de etanol, 212 quilos de DDG, 19 quilos de óleo de milho e ainda 151 quilowatts hora de eletricidade. Para dar energia à indústria, cada tonelada do grão precisa de 464 quilos de biomassa.
Mafra acredita que a cadeia na joint venture seguirá uma proporção parecida à estimada pela Unem e, com a produção na capacidade máxima, a empresa deve gerar cerca de 230 mil toneladas de DDG por ano.
Esse DDG servirá, segundo o executivo, para atender a demanda local, tanto do gado do grupo quanto de empresários locais. A própria Grão Pará Bioenergia também oferecerá um serviço de engorda de bovinos para pecuaristas parceiros, que poderão utilizar a estrutura da unidade para confinar bovinos em regime de “boitel” – estratégia para terminação de bovinos de corte em confinamento que se assemelha a um “hotel”. Neste caso, os hóspedes do boitel são os bovinos que possuem acesso a toda infraestrutura, alimentação, sanidade e manejos que possibilitam a sua engorda –, com o uso de DDG proveniente da produção de etanol de milho.
No começo, todo milho e sorgo virá das fazendas do Grupo Mafra, mas a ideia é de, nos anos seguintes, receber grãos de fazendeiros parceiros próximos à indústria.
A energia da planta virá de biomassa, assim como é feito nas principais usinas do Mato Grosso e será originada de árvores de eucalipto.
Em um comunicado oficial, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), destacou que esse tipo de iniciativa é muito importante para o estado. Segundo ele, esse empreendimento traz benefícios econômicos importantes à região.
“Além de movimentar a economia local, gerará renda e oportunidades de negócios para os mais diversos setores envolvidos, como construção civil, transporte, comércio e serviços, entre outros. A indústria também tem potencial de aumentar a arrecadação de impostos para o estado,” afirmou em nota.
Por Val-André Mutran – de Brasília