Brasília – Após reunião realizada na terça-feira (30), os funcionários dos Correios anunciaram que estarão em greve a partir da meia-noite de hoje, 31 de julho. A Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect) enviou ao novo presidente ECT, Floriano Peixoto, que assumiu a companhia no dia 21 de junho, um ofício informando que a paralisação por tempo indeterminado se deve a “reivindicações não atendidas pela empresa à mesa de negociação” e por falta de “reajuste salarial e contra a retirada de direitos históricos da categoria”.
Os Correios contam com uma dívida de R$ 6 bilhões relacionados a planos de saúde e previdência de funcionários, motivo pelo qual pretende mudar a taxa de participação de funcionários em convênios. Hoje, esta taxa está na casa de 30%.
A categoria reivindica, além da reposição da inflação do período (3,62%), a manutenção dos direitos conquistados, bem como revisão das mensalidades do plano de saúde e a não privatização dos Correios, por entender que se trata de uma empresa estratégica para o desenvolvimento nacional e patrimônio do povo brasileiro.
Durante o dia, representantes dos funcionários irão ao Tribunal Superior do Trabalho (TST), que tenta mediar as conversas e impedir a greve. Serão discutidos temas caros aos funcionários, como o “baixo reajuste salarial” e a retirada dos pais como dependentes no plano de saúde dos empregados.
A empresa também quer debater a taxa de coparticipação dos funcionários nos convênios médicos, que hoje está na casa dos 30%. Os Correios carregam uma conta de R$ 6 bilhões com planos de saúde e previdência dos funcionários.
O secretário de imprensa da Fentect, Fischer Moreira, afirma que, apesar da data marcada para a greve, os funcionários ainda estão disponíveis para negociar. “Entendemos o momento da empresa, mas é necessário também ver o lado do trabalhador”, diz.
Impasse na privatização
A estatal já foi apontada pelo presidente Jair Bolsonaro como uma das prioridades de privatização de seu governo. A equipe econômica enxerga nos Correios uma companhia inchada e ineficiente, com brechas demais para desvios e um histórico de corrupção.
Os Correios passaram por quatro anos seguidos de prejuízo, de 2013 a 2016. As perdas acumuladas que ainda não foram pagas chegam a R$ 2,5 bilhões. Nos últimos dois anos, a empresa voltou ao azul, mas com margem de lucro apertada e grande necessidade de investimento.
A privatização é um assunto que não está resolvido nem mesmo no próprio governo. O secretário de Desestatização e Desinvestimentos do Ministério da Economia, Salim Mattar, é um dos defensores da venda, mas o ministro Marcos Pontes, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, já deu declarações defendendo maior reflexão sobre o tema.
O general Juarez Cunha, que ocupava a presidência da estatal antes de Floriano Peixoto, foi demitido por Bolsonaro, que não gostou de sua postura durante uma audiência pública no Congresso sobre a privatização da estatal.
“Não necessariamente a privatização vai trazer preços mais acessíveis, inclusive para regiões periféricas, e a precarização de serviços vai ser ampliada. A gente sabe que existe esse fantasma da privatização e combate essa perspectiva”, disse Fischer Moreira.
Os Correios afirmam que “continuam em negociação com representações dos empregados”, com mediação do TST, e que “não é oportuno tratar de greve neste momento”.
* Val-André Mutran – É correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.