É mentira que o governo Lula tenha cancelado programas sociais na Ilha do Marajó

Em nota, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania alerta para a divulgação e compartilhamento de fake news sobre cancelamento de ações e projetos iniciados no governo passado
Na foto montagem de Val-André, acima, a Ilha de Breves, abaixo à esquerda a cantora e compositora gospel, Aymeê, e abaixo à direita, equipe do ex-presidente Jair Bolsonaro, na Agência-Barco Ilha do Marajó, que navega por diversos municípios do Pará

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Mais uma vez a Ilha do Marajó, conjunto de 16 cidades que compõem o maior arquipélago fluvial do mundo, e a região mais pobre do Pará, ganha as manchetes da grande mídia de forma enviesada e a culpa é da polarização política que virou uma praga no Brasil. Na sexta-feira (23), o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), divulgou nota na qual alerta para a divulgação e compartilhamento de fake news (notícias falsas) sobre cancelamento de ações e projetos do governo federal na região — a um ano da realização da COP 30 — Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que será realizada na capital do Pará, na cidade de Belém.

De acordo com a nota do MDHC, em maio de 2023, foi criado o Programa Cidadania Marajó, com recursos para o combate à violência de crianças e adolescentes e promoção de direitos humanos e acesso a políticas públicas.

“É preciso inverter a lógica assistencialista e modos de vida da população do Marajó. Possuímos o compromisso de não associar imagens de vulnerabilidade socioeconômica ou do próprio modo de vida das populações do Marajó, em especial, crianças e adolescentes, ao contexto de exploração sexual”, diz o ministério.

O próprio ministro Silvio Almeida divulgou vídeo condenando a divulgação das falsas informações. Veja a fala do ministro a partir dos 31:35’’ do VT veiculado no programa Repórter Brasil, da Rede EBC, canal do governo federal. Confira:

Cantora gospel pinta Marajó como trerra sem lei

No dia 22 de fevereiro, a cantora gospel marajoara cujo nome artístico é Aymeê, viralizou nas redes sociais após apresentar uma música autoral para alertar sobre a exploração sexual de crianças na Ilha de Marajó, no Pará. A artista cantou “Evangelho de Fariseus”, durante a semifinal do programa “Dom Reality” — um programa de competição musical entre artistas do universo gospel. Na interpretação a cantora e compositora citou os versos: “A Amazônia queima / Uma criança morre / Os animais se vão / Superaquecidos pelo ego dos irmãos”.

Aos jurados, a participante ainda realizou um alerta para a situação na região: “Marajó é muito turístico, e as famílias lá são muito carentes. As criancinhas de 6 e 7 anos saem numa canoa e se prostituem no barco por R$ 5”, chocando a plateia e inflamando as redes sociais e não demorou para circular na internet falsas informações (fake news) em forma de acusações ao atual governo.

A que ganhou mais repercussão foi a de que o Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), teria suspendido o Programa de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), denominado “Abrace o Marajó”, deixando a região a própria sorte.

Alguns influenciadores se emocionaram e compartilharam a apresentação de Aymeê, após o seu alerta. Após cantar no programa de competição musical entre artistas do universo gospel, a jovem ainda revelou aos jurados: “Marajó é uma ilha a alguns minutos de Belém, minha terra. E lá tem muito tráfico de órgãos. Lá é normal isso”. Confira:

Após a onda de repercussões, Aymeê ficou mais conhecida e atualmente, já acumula mais de um milhão de seguidores em suas redes sociais.Vale mencionar que uma ilha do arquipélago do Marajó possui o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), do Brasil. Em maio de 2023, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) instituiu o Programa Cidadania Marajó, com o propósito de promover a cidadania, garantir os direitos fundamentais e combater a exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes.

Dom Reality

O Dom Reality é o primeiro reality show de música gospel do Brasil, cujo objetivo é revelar os talentos musicais sob o júri de grandes nomes como Thalles Roberto, Aline Barros, Gabi Sampaio, e Ana Paula Valadão.

O vencedor vai ganhar um contrato artístico de cinco anos com o selo Dom, que é distribuído pela Universal Music, a produção de três músicas assinadas por Junior Papalia, um contrato de gestão de carreira artística com Paulo Alberto e uma bolsa de estudos 100% de um curso da EAD Unicesumar, de escolha do vencedor(a).

Congresso trata da questão há 14 anos

Em 2010, após o tema da exploração sexual infantil ser tema de comissões locais, o Senado Federal se debruçou sobre dezenas de denúncias e relatos de que o arquipélago concentrava diversos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes.Durante a CPI, os parlamentares também mencionaram o caso do ex-deputado Luiz Afonso Seffer, condenado, anos mais tarde, a 20 anos de prisão pelo crime de estupro de vulnerável. Ele foi acusado de adotar uma criança aos 9 anos, prometendo trabalho, mas iniciou os abusos dias após a chegada da menina.

A comissão também destacou a exploração sexual nas embarcações, principalmente nas balsas e navios de transporte de cargas para a cidade Manaus, identificada como “rota da exploração sexual”, abrangendo, principalmente, os municípios de Portel, Muaná, Breves, Curralinho, São Sebastião da Boa Vista e Gurupá.

O bispo Dom José Luis Azcona, que há décadas luta contra a exploração de menores na ilha, teve participação importante na CPI e voltou a chamar atenção para o caso novamente em 2015, ao relatar que crianças se ofereceram aos ocupantes de balsas com consentimento familiar.

Em 2023, após receber um pedido para deixar a região da representação diplomática do Vaticano, houve protestos locais e a liderança religiosa se manteve na região.

Ministra de Bolsonaro se baseou em relatos falsos sobre a ilha

Em 2020, a então ministra Damares Alves mencionou em um culto em Goiânia (GO) que buscava soluções para denúncias de mutilação e tráfico de crianças para exploração sexual na Ilha de Marajó, afirmando possuir evidências.

Após pedido do MPF por informações, ela declarou que as denúncias se baseavam em relatos, não em provas. O MPF alegou propagação de fake news, exigindo retratação pública e uma indenização de R$ 5 milhões por danos sociais e morais à população do arquipélago. O inquérito segue aberto e gerou repercussões na internet.

Em vídeo no Instagram o governador Helder Barbalho também se pronuncia sobre o assunto

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.