Cabanagem, 177 anos

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memorial da cabanagem Em 6 de janeiro de 1835, há 177 anos, liderados por Antônio Vinagre, os rebeldes (tapuios, cabanos, negros e índios) tomaram de assalto o quartel e o palácio do governo de Belém, nomeando Félix Antônio Clemente Malcher presidente do Grão-Pará. Os cabanos, em menos de um dia, atacaram e conquistaram a cidade de Belém, assassinando o presidente Lobo de Souza e o Comandante das Armas, e apoderando-se de uma grande quantidade de material bélico.

No dia 7, Clemente Malcher foi libertado e escolhido como presidente da província e Francisco Vinagre para Comandante das Armas. O governo cabano não durou muito tempo, pois o novo presidente, Félix Malcher – tenente-coronel, latifundiário e dono de engenhos de açúcar – era mais identificado com os interesses do grupo dominante derrotado, e é deposto em 19 de fevereiro de 1835, com o apoio das classes dominantes, que pretendiam manter a província unida ao Império do Brasil.

Francisco Vinagre, Eduardo Angelim e os cabanos pretendiam se separar. O rompimento aconteceu quando Malcher mandou prender Angelim. As tropas dos dois lados entraram em conflito, saindo vitoriosas as de Francisco Vinagre. Clemente Malcher, assassinado, teve o seu cadáver arrastado pelas ruas de Belém.

Agora na presidência e no Comando das Armas da Província, Francisco Vinagre não se manteve fiel aos cabanos. Se não fosse a intervenção de seu irmão Antônio, teria entregue o governo ao poder imperial, na pessoa do marechal Manuel Jorge Rodrigues (julho de 1835). Devido à sua fraqueza e ao reforço de uma esquadra comandada pelo almirante inglês Taylor, os cabanos foram derrotados e se retiraram para o interior. Reorganizando suas forças, os cabanos atacaram Belém, em 14 de agosto. Após nove dias de batalha, mesmo com a morte de Antônio Vinagre, os cabanos retomaram a capital.

Eduardo Angelim assumiu a presidência. Durante dez meses, a elite se viu atemorizada pelo controle cabano sobre a província do Grão-Pará. A falta de um projeto com medidas concretas para a consolidação do governo rebelde, provocaram seu enfraquecimento. Diante da vitória das forças de Angelim, o império reagiu e nomeou, em março de 1836, o brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa como novo presidente do Grão-Pará, autorizando a guerra total contra os cabanos. Em fevereiro, quatro navios de guerra se aproximavam de Belém, prontos para atacar a cidade, tomada pela desordem, fome e varíola. No dia 13 de maio de 1836, o brigadeiro d’Andrea estacionou sua esquadra em frente a Belém e bombardeou impiedosamente a cidade. Os cabanos insurgentes escapavam pelos igarapés em pequenas canoas, enquanto Eduardo Angelim e alguns líderes negociavam a fuga.

O brigadeiro d’Andrea, entretanto, julgando que Angelim, mesmo foragido, seria uma ameaça, determinou que seus homens fossem ao seu encalço. Em outubro de 1836, numa tapera da selva, ao lado de sua mulher, Angelim foi capturado, tornado prisioneiro na fortaleza da Barra, até seguir para o Rio de Janeiro. A Cabanagem, porém, não acabou com a prisão de Eduardo Angelim. Os cabanos, internados na selva, lutaram até 1840, até serem completamente exterminados (nações indígenas foram chacinadas; os murá e os mauê praticamente desapareceram).

Calcula-se que de 30 a 40% de uma população estimada de 100 mil habitantes morreu. Em 1833 o Grão-Pará tinha 119.877 habitantes; 32.751 eram índios e 29.977, negros escravos. A maioria mestiça (“cruzamento” de índios, negros e brancos) chegava a 42 mil. A minoria totalizava 15 mil brancos, dos quais mais da metade eram portugueses.

Em homenagem ao movimento Cabano, em janeiro de 1985, durante o governo de Jader Barbalho, foi erguido um monumento projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer na entrada de Belém: o Memorial da Cabanagem  (foto), que aponta para a vila de Icoaraci onde muitos combatentes cabanos foram mortos e enterrados.

O Memorial da Cabanagem, é um sinal, um símbolo de algo, de alguém ou de um grupo social cuja memória rejeita a ideia de morrer. Os cabanos foram exterminados brutalmente, mas a essência daquela luta permanece, pois as suas causas estão tão vivas quanto naqueles anos de 1835-1840, causas que já vinham de muito antes e que permanecem muito tempo depois. Ele é um convite insistente para que cada um de seus apreciadores não desista: não importa o momento presente, nós e aqueles que nos sucederem, construiremos, sim, uma sociedade onde todos e cada um possamos encontrar oportunidade de apresentarmo-nos como humanos, decentes, felizes. O Memorial nos informa que isso não só é possível, como inadiável!  Manoel Dutra, Professor-doutor e jornalista.

11 comentários em “Cabanagem, 177 anos

  1. Mauricio Silva Responder

    a história cabana nos mostra a força de nosso povo e o respeito patriótico que temos por nossa terra. É uma marca que carregaremos para toda a eternidade e que não nos deixa esquecer que para defender a nossa cidade, o nosso estado(que por sinal não são devidamente respeitados pelas demais regiões, autoridades e até por alguns cidadãos conterrâneos)vale todo e qualquer sacrifícil, mesmo que custe a própria vida do nosso povo. Gostaria que a nossa geração atual tivesse mais orgulho de ser paraense e da nossa história e que tomasse como exemplo a luta desses nossos ancestrais, que deram as suas vidas em prol da liberdade e do amor a essa nossa terra tão abençoada, lutasse para melhorar a vida do nosso povo, acabar com a corrupção e o descaso de nossos políticos e busque conquistar o respeito e consideração que sem dúvida merecemos.

  2. Mozarildo Quintanilha Responder

    Parauapebas Junior, muito provavelmente de onde voce vem não existe história de luta, por isso é impossível pra voce entender o que significa algo como a Cabanagem, a Farroupilha ou a Sabinada. Pergunta pra algum gaucho ou baiano se os protagonistas dessas revoltas são bandidos? Bento Gonçalves, Garibaldi viraram nomes de cidades. Se já ouviu falar no EJA, sugiro que voce volte a sentar num banco de escola que não é vergonha estudar depois de velho.

  3. Senna Responder

    Aos “sem pátria” e “sem sentimentos cívicos” está aí o exemplo de luta. Nada se constrói sem luta e sem objetivos. O que se percebe é a falta mesmo de identidade, muitos não sabem de onde vem, nem para onde vão, por isso não sabem quem são…
    Parabéns Zé Dudu! A homenagem é legítima e historicamente um marco para seu blog. O Pará lhe agradece.

  4. Paulo Henrique Responder

    Se não fossem os “bardeneiros” com vc mesmo diz não seria possível termos librdade de expressão, não seria possível vc decidir em plesbicito a divisão de um Estado. Não é só o Pará todos os Estados brasileiros homenageam seus hérois sendo eles de esquerda ou de direita.

  5. Mozarildo Quintanilha Responder

    Tenho orgulho da nossa história de luta e de ter o sangue Cabano correndo em minhas veias. Nenhum forasteiro, por maior que seja o seu poderio, jilitar ou econômico, intimida quem ama esse grandioso estado.

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