Apesar de uma dúzia de ações movidas pelo Ministério Público Federal, polêmicas internacionais envolvendo a Organização dos Estados Americanos (OEA), levantes indígenas e vídeos de protesto estrelados por atores globais, a mais cara e polêmica obra do governo Dilma conseguiu avançar. Seis meses depois de o Ibama ter liberado a licença de instalação da hidrelétrica de Belo Monte, a usina em construção no rio Xingu, no Pará, já deixou de ser apenas um projeto.
Em junho, quando o consórcio Norte Energia recebeu o sinal verde para tocar a obra, a empresa tinha apenas 40 funcionários na área administrativa. Hoje, 4,2 mil funcionários estão dentro da floresta amazônica, tocando as operações de terraplenagem. Nos próximos seis meses, mais 3,5 mil pessoas deverão ser contratadas. Para reduzir custos e evitar os transtornos com o deslocamento de pessoas, a Norte Energia tem treinado a população local para preencher as vagas, mas nem sempre isso é possível. Do quadro de funcionários atuais, apenas dois terços vêm de Altamira e região. Os demais 33% são de cidades distantes ou de outros Estados.
Nos próximos dias, os operários de Belo Monte começarão a atuar na operação que prevê o desvio do rio Xingu. Será erguida a primeira “ensecadeira”. Trata-se de uma barreira de pedra e terra que altera o curso do rio, para que seja feita erguida a primeira das duas barragens previstas para Belo Monte. Até duas semanas atrás, o consórcio estava proibido de mexer nas águas do rio, por conta de uma liminar movida em setembro pela Associação dos Criadores e Exportadores de Peixes Ornamentais de Altamira (Acepoat). A Justiça Federal do Pará, no entanto, derrubou a liminar e abriu caminho para que o consórcio entre no Xingu.
Com milhares de funcionários e máquinas em plena atividade, a rotina de Belo Monte tem esvaziado cada vez mais o efeito de protestos como o realizado por atores e representantes do movimento Xingu Vivo Para Sempre, contrário à construção da hidrelétrica. Na semana passada, numa audiência com os ministros da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho; do Meio Ambiente, Isabella Teixeira; e de Minas e Energia, Edison Lobão, foi feita a entrega de 1,35 milhão de assinaturas colhidas pelo Movimento Gota D”água, pedindo a paralisação imediata da usina. A conversa teve um ar amistoso, mas, em termos práticos, os manifestantes tiveram de deixar a Esplanada com um sonoro “não” nos ouvidos, relatou uma fonte que participou do encontro.
Os protestos continuarão. Enquanto isso, as obras começam a avançar, inclusive, no entorno do futuro canteiro de obras da usina. O trecho de 60 quilômetros de estrada de terra da Transamazônica, entre Altamira e o canteiro de obras, já está quase todo asfaltado. Um grupo de empresários já desembolsou R$ 8 milhões por uma fazenda de 350 hectares que fica a apenas dois quilômetros de distância do canteiro. Outra área de 250 hectares já está em negociação. A fazenda à beira da rodovia Transamazônica, localizada no município de Vitória do Xingu, vai virar um grande loteamento. Será um tipo de entreposto para receber projetos de pequenas indústrias e comércio. Os lotes, cujo metro quadrado deverá custar entre R$ 40 e R$ 60, devem começar a ser vendidos em fevereiro.
A urbanização no entorno da usina é uma preocupação para o governo, principalmente em usinas da região amazônica. “Todas as hidrelétricas existentes e em construção na Amazônia ocupam apenas 0,32% da região. O problema é a ocupação desordenada que a obra induz”, diz uma fonte do alto escalão do Ministério do Meio Ambiente.
O pico das obras de Belo Monte é previsto para 2013, quando 20 mil pessoas estarão trabalhando na construção da hidrelétrica. Apesar de ter a sua conclusão estimada para 2019, a primeira turbina da usina deverá ser ligada já em fevereiro de 2015.
Fonte: Valor Econômico
2 comentários em “Belo Monte avança e inicia desvio de rio”
É a constatação do dito: contra força não há resistência. Se pelo trabalho o homem transforma a natureza e a si mesmo… A questão é saber em que seremos transformados.