4 no Pará movimentam mais de R$ 500 milhões em agronegócio

Um deles consegue gerar seis vezes mais riquezas com açaí que a arrecadação inteira da prefeitura local. Grande desafio é transformar a produção em desenvolvimento social, que no estado é sofrível.

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Um levantamento inédito realizado pelo Blog do Zé Dudu cruzou dados de todas as pesquisas oficiais com dados consolidados em 2019 relacionadas ao universo rural para contabilizar a produção decorrente do agronegócio no Pará. O Blog vasculhou os três principais estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e organizou a movimentação financeira de cada um dos 144 municípios do Pará. A fonte dos dados foram os estudos da Produção Agrícola Municipal (PAM), da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) e da Pesquisa da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS).

A conclusão é de que, embora farto em pasto e gado, apenas quatro municípios do estado conseguem movimentar mais de meio bilhão de reais no conjunto formado por agricultura, produção animal, extrativismo vegetal e silvicultura, concentrando sobremaneira toda essa estrutura produtiva em commodities como açaí, soja e cacau. E pior: a dinheirama decorrente do robusto faturamento anual não se traduz em desenvolvimento humano e progresso social de fato.

Em 2019, o agronegócio no Pará produziu R$ 13,53 bilhões em movimentação comercial. Cerca de 20% dessas operações estão concentradas em Igarapé-Miri (R$ 898,68 milhões), Paragominas (R$ 726,05 milhões), Ulianópolis (R$ 526,71 milhões) e Medicilândia (R$ 518,17 milhões). À exceção de Paragominas, que tem na indústria extrativa mineral de bauxita a principal fonte econômica hoje, os demais municípios sobrevivem do agronegócio, mas sequer se dão conta disso.

Mesmo em Paragominas, que é um município financeiramente rico, o agronegócio movimentou duas vezes mais que a arrecadação da prefeitura local, cujo faturamento líquido no ano passado foi de R$ 331,46 milhões. Nesse município, devido ao portfólio de commodities rurais produzida (como gado, leite, peixes, madeira e soja), o agronegócio é identificado rapidamente e, em tese, poderia, sozinho, sustentar as contas da administração por mais de 24 meses. Não é, no entanto, o que acontece.

A dinâmica do agronegócio, embora socialmente invisível em Igarapé-Miri, tem lá o maior peso num cenário hipotético de escassez de recursos. Em Igarapé, a produção derivada do campo é quase sete vezes maior que os R$ 132,77 milhões arrecadados pela administração municipal. A maior parte desses recursos recebidos pela prefeitura vem de transferências de outros entes, dos quais Igarapé depende. Por outro lado, o que esse município produz em açaí é suficiente para o sustento das contas públicas por seis anos. Lamentavelmente, a produção local ainda é desconhecida e, para além disso, não fornece o retorno socioeconômico devido à população.

Riqueza X Subdesenvolvimento

Em Ulianópolis e em Medicilândia, a situação é a mesma. Embora ambos sejam grandes produtores de commodities agrícolas — o primeiro, de soja; o segundo, de cacau —, as riquezas geradas no meio rural não conseguem ser traduzidas em desenvolvimento e progresso.Não há, por exemplo, marketing positivo em torno do fato de Medicilândia ser o maior produtor de cacau do Brasil, mas as estatísticas oficiais do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) o apontam como um dos mil lugares de pior qualidade de vida do país, entre mais de 5.500 municípios.

Ulianópolis, um dos grandes produtores de soja da Região Norte, também convive com o drama de ser uma das 1.500 localidades mais atrasadas, considerando-se a nota do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Sua sina é a mesma da maioria dos conterrâneos paraenses: produzir muita riqueza, mas seguir convivendo com atraso e subdesenvolvimento.

Do top 10 dos municípios que mais geram riquezas movidos pelo agronegócios também fazem parte Portel (R$ 405,47 milhões), Dom Eliseu (R$ 357,84 milhões), Tomé-Açu (R$ 350,38 milhões), Cametá (R$ 350,24 milhões), Tailândia (R$ 340,65 milhões) e Santana do Araguaia (R$ 300,17 milhões). Por outro lado, três municípios do estado não conseguem contabilizar sequer R$ 2 milhões em commodities do campo, como São João de Pirabas (R$ 1,527 milhão), Primavera (R$ 1,483 milhão) e Marituba (R$ 1,163 milhão).