Xicrins prometem queimar carros da Funasa em Marabá

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Por Ulisses Pompeu – Marabá

Nesta terça-feira, 12, completa sete dias a manifestação que cerca de 300 indígenas de várias comunidades desta região fazem em frente Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai), localizada na Folha 32 Quadra 1 Lote 20, Nova Marabá. Ontem, eles chegaram a fazer uma servidora de refém por cerca de 15 minutos e prometem radicalizar hoje, queimando veículos que da antiga Funasa que estão quebrados em frente à Casai.

Até domingo, faziam parte do protesto indígenas das comunidades Xicrin do Cateté e Gavião Akrâkaprekti, mas ontem, segunda-feira, o movimento engrossou com a chegada de uma representação da Suruí do Itahy, que também reclamam da qualidade do tratamento que recebem na Casai.

Em entrevista com o cacique Karangré, na tarde de ontem, este afirmou à reportagem que seus comandados vão permanecer no local por tempo indeterminado, e anunciou que hoje, terça-feira, pretendem radicalizar caso não venha a Marabá uma equipe de Brasília para discutir a pauta de negociação com eles.

“A gente vai queimar esses carros velhos da Casai que estão aqui na frente e não servem para nada. Eles (Secretaria Nacional de Saúde Indígena) tem de comprar carros novos, porque os que estão aqui não servem mais para nada, estão quebrando faz muito tempo”, critica.

Karangré não disse o horário que pretendem queimar os veículos, mas garantiu que essa será a única ação radical que tomarão e que não pretendem destruir documentos e equipamentos que estão dentro das três residências da Casai na Folha 32.

Aliás, um espaço mais amplo para atendimento é uma das principais reivindicações dos indígenas, que criticam a falta de espaço para atendimento e convalescência dos mais de 3 mil indígenas de várias etnias que moram em comunidades afastadas nesta região.

Karangré lamenta que até agora nenhuma autoridade do governo estadual e federal tenham vindo a Marabá negociar com eles.

Por causa da manifestação iniciada na última quarta-feira, os trabalhos no setor administrativo da Casai foram suspensos e os 43 funcionários foram dispensados, ficando apenas técnicos de enfermagem que cuidam dos indígenas doentes.

Karangré lembra que ano passado, um a equipe de Belém havia negociado alugar um prédio mais amplo, para que os indígenas pudessem ser melhor atendidos pela equipe da Casai, o que não foi cumprido. Os indígenas cobram medicamentos, alimentos, dormitórios adequados nos alojamentos e veículos para o transporte entre a entidade e os hospitais.

O cacique explica que os quartos existentes são pequenos para atender a grande quantidade de indígenas de várias comunidades desta região e a falta de medicamentos constrange e revolta quem precisa de atendimento.

Atualmente, o Polo Base de Marabá está vinculado ao Distrito Sanitário Indígena Guamá-Tocantins, em Belém. Por conta desse descaso, o Ministério Público Federal ajuizou em 2011 um Inquérito Civil Público para investigar o caos no oferecimento do serviço de saúde, que vem se arrastando há tempos, se agravando a cada momento, sem que haja nenhuma perspectiva concreta de resolução das irregularidades.

Welton Suruí revelou que seu povo está sofrendo com o descaso da Casai, principalmente em relação ao transporte. Em várias ocasiões, segundo ele, foram os próprios Xicrin que socorreram os membros de sua comunidade, emprestando veículo e combustível para trazer doentes da aldeia para Marabá, para serem tratados.

MPF

O procurador da República, André Casagrande Raupp, disse que recebeu uma comitiva de indígenas nesta segunda-feira, quando ouviu o clamor das comunidades e sugeriu aos líderes que entregassem uma pauta com as reivindicações, mostrando o que foi e o que não foi contemplado pelo governo federal desde que fora ajuizado pelo Ministério Público Federal uma Ação Civil Pública no final do ano passado, pedindo uma liminar para garantir o direito à saúde digna aos indígenas.

O procurador da República mostrou-se sensível à situação dos indígenas e disse que caso receba hoje, terça-feira, os documentos que solicitou às lideranças, amanhã mesmo, quarta-feira, deverá ingressar com uma reiteração de pedido de liminar à Justiça Federal.