Um lepretop em minha vida

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Por Chico Brito

Mais nem tudo era disgraças.

Um dia, ganhei um prêmio. Foi um sorteio do Armazém Caraíbas. Um lepretop. Um Le pretope, se você não sabe, é um computador desses preto igual uma maletinha que a gente pode carregar pra todo lado. Aí, falei: é porcaria, não me serve de nada. Queria era uma bicicreta! Mais um amigo meu, vendo meu aborrecimento, me falou-me: Cara, tu tá é contudo. Sortudo! Tú agora pode abrir um jornau. Que jornau aqui, é qui ta dando dinheiro. Tem mais de dez na cidade, e o prefeito paga vinte mil por mês pra cada um. Que é pra num falá os podre dele.

Ó, olhai: tem o Marcão, qui era cunsertadô de fugão hagás e geladeira até outro dia, montou um jornau, e agora tá é rico. Esse é o mais istudado. Ficou na escola até o terceiro ano. Do primário. Tem outro qui ocê cunhece. Um qui levô oito bomba na primeira série. Até qui a diretora formou ele, de compulsório, e meteu um diploma de primário nele. Pois agora esse também tá é cheio da grana, mais por causa de seus tempos de miséria não paga conta a ninguém. Pois tu tem é qui abri um jornau, cara. Aí, tu tá com a vida feita!

E intão eu montei O DIARIU DU DIA, um jornau que copiava uns horoscopus e resumus de novela da TV, o resultado dos jogo de futebol da semana passada, contava uns acontecidos, uns leroleros, e tinha a ajuda de um amigo meu qui era o calunista sociau, negócio de tirar retratus de gentes que gosta de aparecê, e que circulava uma vez no mês ou de quinze em quinze dias. Eu virei jornalista! Logo fui no prefeito e avisei pra ele e ele me ofereceu negócio de treis mil por mes, que eu disse: não. E larguei ele falando com as paredes. Mas na edição seguinte, segundo me orientaram, dei nele uma bordoada. Foi macuco nu imbornau! Foi tiro e queda. Contei que só de notas fiscal frias de arrumação de estradas da roça ele já tinha pago pelo serviço em mais de 40.000 kilometrus, e a gente não tinha nem dois mil kilometrus dessas istradas qui eles chamam de vicinal. Ai, loguim loguim ele mandou me chamar e chegou nos vinte.

E meus tempo de jornau foi mesmo assim. Mais terminei com isso, por que nem gosto muito de confusão. Mais feixei mesmo foi pur causa de duas reportages que publiquei. Só verdadeiras. Que comigo num tem mentiras. E aí eles não gostaram. Uma reportage que fiz foi quando teve um desfauque do governo e botei na primeira página o retrato da Dona Roseana com uma montanha de dólar, das verdinha.

E a manchete: ROSEANA ROUBOU SEIS MILHÕES DO POVO MARANHENSO. E contei a história, como depois saiu até na VEJA. E na mesma edição pubriquei também a reportage do Zé Ribamar da Siuva. Com a manchete: CIDADÃO PEGO QUANDO DESVIAVA DINHEIRO DA FARMÁCIA. E junto, a foto do home, tirando a grana do caixa. E que logo que chamado o delegado chegou e deu nele a voz de prisão, mais quando chegou lá fora o crime do Riba, como disse o seu delega, ainda era muito mais peor: pois ele tinha desviado também quatro galinhas, que ainda estavam amarradas na garupa da bicicreta dele, em vias de encontrar o caminho das panelas, as penosas. E que crime abesurdo,- disse o Delegado -, de quase dar pena de morte, sendo este: de querer passar na degola e ainda chamar de galinhas, de desmoralizar aqueles bichos que muito machos eram, todos os quatros, galos de briga da estimação do juiz, doutor Alfredo, que era chegado numa rinha de apostação. Pois só porque pubriquei isso, quase que me lincharam. Deram pressão. Que estava tudo trocado, me expricaram. Que quando político rouba a gente não pode falar que roubou mas tem que dizer que desviou e que pobre é outros quinhentos. A gente publica a foto dele, falando que é ladrão. Que isso é uma tal de semanca ou semântica, como um professor levou um tempo me expricando como é que se iscreve. Não sei bem. E também não entendi nada.

Mas me injuriei-me. Meti o pé no balde. E falei: jornalista também, tendo de ser puxa-saco, e mentiroso, não vou ser mais. E aposentei essa profissão. E ainda saí com um monte de processo nos costados. Fiquei puto. E peguei o Le pretop, rranquei as tripas do bicho e joguei tudo no mato. Foi nisso que deu um Le pretop aparecer em minha vida. Só confusão!

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4 comentários em “Um lepretop em minha vida

  1. ANONIMO Responder

    Essa é a cara da nossa cidade. Os jornais de pebas na realidade fazem assessoria de comunicaçao para a PMP. O que Chico relata tao bem, nao sei se por experiência, é a realidade da comunicaçao de pebas.

  2. Com noção! Responder

    Rir pra não chorar. Situação vergonhosa sim! Com certeza os cidadãos preocupados com o municipio o apoiarão. Qt ao texto: Parabéns! Perfeito!!! Tudo haver! rsrs

  3. ze rinaldo Responder

    Zé,

    a desordem da nossa cidade é tão grande, que a gente ri e depois fica com vergonha.
    Vamos ter que achar uma saída urgente, não podemos ficar esperando para depois das eleições. Chegamos ao fundo do poço, a cidade está destruida, obras que não saem do papel, e quais obras? pq não temos! prefeitura omissa em todos os sentidos, se alguem sabe nos diga:- em que nos temos infraestrutura na nossa cidade? Qual orgão seja ele fereral, estadual ou municipal funciona com o mínimo de respeito ao cidadão?

    Temos que sair da inercia, temos que pensar uma maneira. Se possível pelo seu blog a população falar dar ideias, somos cidadãos dessa cidade, escolhemos aqui para viver, e queremos qualidade de vida.

    Vou marcar um encontro na ACIP, para discutirmos o que fazer o mais rápido possível, pq assim não dá. Vamos ter que fazer alguma coisa .
    E espero que todo cidadão de bem nos apoie nessa empreitada.

    ZÉ RINALDO
    PRESIDENTE DA ACIP

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