Trem para Santarém?

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O governo do Mato Grosso recebeu a oficialização do interesse chinês em construir o trecho ferroviário entre Cuiabá e Santarém, no oeste Pará. Ontem, uma missão empresarial de Pequim foi recebida em audiência pelo governador Silval Barbosa, ao qual ofereceu linha de negociação para levar a proposta adiante.

Desde meados da década passada a China sinaliza com a perspectiva de investir nos setores de transporte ferroviário e industrial em Mato Grosso, do qual é o principal parceiro comercial. Em 1999, o chefe de uma delegação chinesa em visita a Cuiabá se disse “surpreso” ao saber que a construção da ferrovia que liga Mato Grosso ao porto de Santos estava paralisada em Alto Araguaia sem que houvesse sequer plano para a retomada da obra.

A China tem austera política de segurança alimentar em defesa de sua população com mais de 1,3 bilhão de indivíduos. Mesmo em se tratando de país maior que o Brasil, ela tem desertos e regiões cobertas pela neve, o que reduz sua produção de grãos e a atividade pecuária.

A política de segurança alimentar chinesa vai além das porteiras das propriedades passando pela qualidade do transporte, agilidade portuária, desembaraço alfandegário, segurança jurídica para o uso da propriedade e até mesmo práticas que no Brasil seriam inaceitáveis, como trabalho análogo ao escravo e desequilíbrio ambiental.

Impossibilitada de aumentar a produção e sem condições de melhorar sua produtividade agrícola a China tem interesses em alguns parceiros que são polos do agronegócio, como é o caso de Mato Grosso. Daí o interesse por ferrovia, porque esse modelo de transporte é seguro, rápido e econômico para o escoamento da soja, que é imprescindível para a alimentação de seu povo e a fabricação de produtos que indiretamente também contribuem para assegurar a panela cheia em seus lares.

Silval recebeu representantes da China National Machinery e da Asian Trade & Investiments, dos quais ouviu a manifestação de interesse pela ferrovia que uma vez construída criaria importante logística ao escoamento das commodities agrícolas do Nortão ao porto da cidade de Santarém, na foz do rio Tapajós, no Amazonas, onde a navegação é considerada marítima.

O encontro dos chineses com Silval foi um dos passos da grande costura que se fará necessária para a viabilização da obra. O governador do Pará, Simão Jatene, o ministro dos Transportes e a presidente Dilma Rousseff serão visitados pelos representantes do governo de Pequim.

A ferrovia que interessa aos chineses foi descartada pela empresa América Latina Logística (ALL), que detém sua concessão. O governo não conseguiu encontrar no Brasil interessados pela obra e sua exploração por concessão federal.

Observando os princípios da soberania e as regras das relações comerciais internacionais Brasil e China devem aprofundar a questão, porque a parceria pode se tornar lucrativa para ambos e melhor ainda para Mato Grosso, que assim teria um corredor norte para reduzir o preço do frete da produção de seu maior polo agrícola.

A China tem interesses em alguns parceiros que são polos do agronegócio, como é o caso de Mato Grosso

Fonte: Diário de Cuiabá

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