Brasília – “A exploração clandestina da madeira está impulsionando o avanço do desmatamento na Amazônia”, denunciou o senador Paulo Rocha (PT-PA). Ele ainda disse que a culpa é do governo federal responsável por esse cenário, por ter desmantelado a política de proteção ambiental e ter afrouxado e até mesmo suspendido as operações de fiscalização na região.
Segundo o senador, desde 2018, a área devastada dobrou em relação ao ano anterior, sendo que 44% do total desmatado ilegalmente está no Pará. Paulo Rocha cobrou do governo federal a retomada de fiscalização mais rigorosa.
“O próprio governador do estado, Hélder Barbalho (MDB), declarou que são números devastadores, por causa desta ausência de fiscalização e esse processo criminoso de devastação da nossa Amazônia. Então, há consequências graves para a nossa Amazônia, para o clima e para a proteção ambiental”, lamentou o parlamentar.
Paulo Rocha disse ainda que a exploração clandestina ocorre também em terras indígenas, onde são registrados casos de violência contra lideranças que buscam combater a retirada ilegal da madeira.
Números
Com 1.204 km² de áreas desmatadas, o primeiro trimestre de 2020 apresentou uma queda de 5,4% nos alertas de desmatamento em relação ao mesmo período de 2019, que somava 1.273 km², conforme o sistema Deter de monitoramento por satélite, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Pesquisadores e ambientalistas temiam uma explosão dos alertas de desmatamento durante a pandemia, já que a contenção do contágio e o afastamento de fiscais no grupo de risco teriam diminuído as operações de fiscalização.
No entanto, o registro dos alertas do Deter/Inpe não confirma uma tendência de explosão, apesar de indicar um número mais alto em março: 357,9 km². A área agregada pelo Deter em fevereiro era de 278 km². Em março de 2019, no entanto, a área flagrada com desmatamento chegava a 820,9 km².
O que aumentou em 2020 foi a participação da exploração de madeira entre os vetores do desmatamento: ela é responsável por 20,4% do desmatamento neste ano.
O corte seletivo de espécies, que marca a exploração madeireira, foi responsável por 246,8 km² do total do desmatamento observado na região neste primeiro trimestre.
O número é 133% maior do que o mesmo período de 2019, quando o corte seletivo abrangia 106 km², representando apenas 8,3% do total de desmatamento para o primeiro trimestre daquele ano.
Neste ano, a participação de 20,4% do corte seletivo no total de desmatamento do trimestre só perde para o desmatamento com solo exposto, que compõe 63% do total do trimestre, com 761,4 km² de área desmatada.
Desde 2015 o corte seletivo não aparecia entre os três principais vetores de desmatamento –– causado principalmente por queimadas, incêndios e por desmatamento com o solo exposto, ligado à grilagem de terras.
O aumento da participação da exploração madeireira entre os vetores de desmatamento acontece após uma série de decisões do governo federal sobre a atividade.
Desde novembro, a fiscalização do Ibama passou a enfrentar dificuldades para exigir a documentação que comprova a origem legal da madeira retirada da Amazônia, após uma decisão emitida pelo presidente do órgão, Eduardo Fortunato Bim, de que o comprador não poderia ser responsabilizado por documentação fraudulenta da origem da madeira.
Em outra decisão, também foi anulada uma regra que exigia a autorização do Ibama para a exportação de madeira. Na última semana, uma reportagem da Reuters revelou que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, demitiu um analista que era contrário à anulação.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.