Lula convence Simone Tebet que aceita pasta do Planejamento e Gestão

Não haverá mudança na estrutura da pasta. Terceira colocada no primeiro turno, atrás de Lula e Jair Bolsonaro, Tebet teve 4,9 milhões de votos e apoiou o petista no segundo turno

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Brasília – O presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu com satisfação na manhã desta terça-feira (27), a confirmação de que uma de suas principais aliadas no segundo turno da disputa à presidência aceitou o convite para comandar o ministério do Planejamento e Gestão, que será desmembrado do ministério da Economia, encampado no organograma do atual governo.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) foi peça decisiva para a vitória do candidato petista na acirrada disputa na eleição presidencial deste ano, ao conseguir transferir ao adversário no primeiro turno, parte dos votos que obeteve de um eleitorado com perfil de centro e centro direita, na reta final das eleições.

Ao aceitar assumir uma pasta que não lhe agradava, “Tebet dá mais uma demonstração de espírito público”, disse Fernando Haddad, futuro ministro da Fazenda, que jogará com a senadora, para fazer girar a política econômica da maior economia da América Latina e a 10ª do mundo.

O MDB não tem o que dizer a não ser agradecer, uma vez que Simone Tebet, terceira colocada na corrida eleitoral após abertas as urnas no primeiro turno, adquiriu o mérito de ganhar o status de “cota pessoal”, do tri eleito Lula.

O comunicado foi feito pelo deputado Alexandre Padilha (PT-SP), futuro titular da Secretaria das Relações Institucionais na Presidência da República. Ele negou, porém, que Lula tenha discutido com Tebet mudar a estrutura atual do ministério para convencer a senadora a reconsiderar aceitar a pasta.

“Temos uma sinalização positiva de que ela aceitou o ministério do Planejamento”, disse Padilha. “O presidente Lula fez o convite à senadora Simone Tebet pelo papel que ela teve no segundo turno, pela qualidade que tem como senadora, como ex-prefeita e capacidade como gestora. Essa foi a motivação.”

Padilha enfatizou disse que não haverá mudança na estrutura da pasta, pelo menos por enquanto, na estrutura já debatida do governo com Lula e demais ministros. O Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que a senadora teria sinalizado interesse em levar para o Planejamento como forma de robustecer a pasta, continua na Casa Civil. A ministra participará do comitê gestor.

O PPI já havia sido vinculado antes à Casa Civil e atualmente faz parte da estrutura do Ministério da Economia. Na prática, o secretário especial do PPI, que se reporta ao ministro ao qual o programa é vinculado, coordena o conselho.

Simone Tebet também havia manifestado interesse em ter vinculados ao Planejamento bancos públicos com capacidade de atuação direta, como a Caixa Econômica Federal e o Bando do Brasil. A ideia, no entanto, foi de pronto rechaçada no PT. Os bancos públicos são tradicionalmente vinculados à Fazenda, cujo futuro ministro será Fernando Haddad.

Segundo Padilha, a senadora conversará com Lula ainda nesta terça-feira, em encontro sem horário definido. O convite foi feito na sexta-feira (23), para que Tebet avaliasse assumir a pasta com o desenho e organograma montados previamente por Lula e outros ministros. Ele negou que tenham sido discutidos transferências de órgãos do governo para a pasta a ser chefiada por Tebet. O Instituto de Pesquisa como IPEA e IBGE ficarão vinculados, conforme sugerido antes pelo gabinete de transição.

“Não houve nenhuma discussão. Não tem acordo. Tem um convite feito para o Planejamento, na estrutura e nas responsabilidades do Ministério do Planejamento, que tem um papel decisivo de acompanhamento, participa dos comitês gestores coordenados pela Casa Civil. Inclusive do comitê gestor do PPI, que é coordenado pela Casa Civil e executado pelo ministério que está na ponta. O convite foi feito para essa estrutura do Planejamento e tivemos uma sinalização positiva”, afirmou Padilha. “Recebi uma sinalização de que (ela) tem a vontade de compor o ministério do Planejamento e estaria aceitando o convite feito sexta-feira, quando o presidente mostrou o organograma, os papéis e responsabilidades do ministério. Ele não será nem menor, nem maior, independentemente de quem seja a pessoa que venha a ocupá-lo. É um ministério central do governo, muito importante.”

A confirmação de Tebet no Planejamento encerra longas semanas de discussões e pode destravar a montagem final da composição da equipe de Lula, em negociações com o MDB, PSD e União Brasil. Lula vai dar sequência a reuniões com lideranças partidárias para concluir o anúncio dos 16 ministérios pendentes.

O Planejamento foi uma das opções aventadas a Tebet pelo gabinete de transição, depois que a senadora foi preterida do Desenvolvimento Social, pasta que mais desejava. A senadora foi cogitada no Meio Ambiente, Cidades e Turismo. Ela não era, no entanto, a primeira opção para a pasta. Lula tentou emplacar no Planejamento economistas de viés mais liberal, ligados ao PSDB, como Pérsio Arida e André Lara Resende, mas ambos recusaram. Até outros políticos foram cogitados, como o senador eleito Renan Filho (MDB-AL) e o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG).

Simone Tebet buscava uma posição com visibilidade política, com capacidade de tocar programas e entregar diretamente à população, embora o Planejamento tenha perfil mais burocrático. Por isso a predileção pelo ministério que cuida do Bolsa Família. Desde a campanha eleitoral, Lula já dizia que Tebet permaneceria em Brasília para ajudá-lo no futuro governo, indicando que desejava a aliada no primeiro escalão. Mesmo com dissidências e resistências internas no MDB, ela disputou a Presidência da República e seu mandato de senadora se encerra agora.

Terceira colocada no primeiro turno, atrás de Lula e Jair Bolsonaro, Tebet teve 4,9 milhões de votos e apoiou o petista no segundo turno, integrando-se à frente ampla da campanha. Ela também teve papel destacado ao longo do mandato de Bolsonaro no Senado, principalmente, durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.

Terceira rodada

Na terceira rodada de anúncio dos 16 ministros que faltam para fechar o time do primeiro escalão do novo governo, confira os nomes mais cotados para cada ministério:

• Marina Silva (Rede) – Meio Ambiente
• Alexandre Silveira (PSD) – Minas e Energia
• Carlos Fávaro (PSD) – Agricultura
• Elmar Nascimento (União Brasil) – Integração e Desenvolvimento Regional
• Paulo Pimenta (PT) – Secretaria de Comunicação
• Pedro Paulo (PSD) – Turismo
• Renan Filho (MDB) – Transportes
• Sônia Guajajara (Psol) – Povos Originários

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.