Infectologista alerta para o perigo dos alimentos preparados sem as condições ideais de higiene e armazenamento

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Por Eleutério Gomes – de Marabá

Parece apavorante, mas, comer fora de casa, na praia, na rua, em carrinhos de lanche ou até em lanchonetes e restaurantes, pode trazer mais prejuízos à saúde do que se imagina. E não pense que é só o alimento mal preparado que carrega bactérias. Muitas vezes ele pode até ser feito com todos os cuidados, mas a mão de quem vai ingeri-lo pode estragar tudo. É o que revela, em entrevista ao Blog, o infectologista Alex José da Silva Freitas, do Hospital Regional de Marabá.

“É uma questão de muitos fatores que começa pela preparação do alimento que vai ser comercializado”, afirma ele. Segundo o médico, nem sempre quem prepara alimentos para vender tem os cuidados necessários nem a limpeza adequada no local em que elabora esses lanches ou refeições. “Então, fica a critério da consciência do vendedor”.

Depois vem o acondicionamento. Alex Freitas chama atenção para o fato de alimentos, como sanduíches, por exemplo, que levam em sua montagem maionese e presunto, ingredientes que devem ser guardados em locais refrigerados, muitas vezes ficam expostos ao calor excessivo.

“Caso não estejam armazenados nas condições recomendadas, esses alimentos já são impróprios para o consumo”, observa o médico, lembrando que muitas vezes a maionese é guardada em recipientes de plástico que quase nunca são lavados. “E quando a pessoa lava, se não guardar na geladeira, nada feito”.

Mãos sujas

Além desses cuidados com a preparação e com o armazenamento, Alex Freitas destaca um fator muito importante, mas que passa despercebido de quase 100% das pessoas: “O alimento pode até estar muito bem preparado, mas o

consumidor pega nele com a mesma mão que manipulou o dinheiro, que pegou e celular, o teclado de computador e o volante de carro”, observa, afirmando que, se a mão não estiver limpa, leva ao alimento a sujeira das pontas dos dedos.

“Aí cabe ao vendedor colocar à disposição do consumidor um guardanapo ou um álcool gel, para aqueles que sabem da necessidade de pegar o alimento com as mãos limpas”, aconselha o infectologista.

E qual o resultado dessa falta de cuidados em cadeia? Alex Freitas responde: “Complicações como diarreia de origem infecciosa, cólera, hepatite A e até infecções intestinais graves com manifestação sistêmica, uma infecção bacteriana que pode levar até levar à morte. Por isso, é necessário que se pratique consumo consciente, desde a sua fabricação”.

Não é mito

De tempos em tempos surgem nas redes sociais notícias de que essa ou aquela pessoa contraiu leptospirose porque tomou bebidas em latinhas levadas diretamente à boca. Essas postagens, pelo excesso e pela dramaticidade com que as histórias são contadas, acabam caindo no descrédito. Mas deveriam ser levadas a sério. É o que confirma o infectologista.

Segundo ele, nem sempre, ou quase nunca, as latinhas são guardadas em locais isentos do trânsito de roedores e outros insetos. E se tratando dos roedores, atraídos pelo cheiro, eles passeiam por esses depósitos e muitas vezes urinam sobre as latas.

“Basta simplesmente lavar as latinhas antes de servi-las ou, no mínimo, limpar bem com um lenço de papel, antes de levá-las à boca”, afirma Alex Freitas, informando que é a urina do rato que carrega a leptospirose.

Frituras

Ao falar das frituras, o médico até admite que, ao passar pelo calor na hora da preparação, a alta temperatura elimina algumas bactérias, mas o perigo está na qualidade do óleo usado na preparação dos alimentos.

“O vendedor está preocupado com o sabor e com a economia e acaba usando um óleo da pior qualidade. Porém, mais grave que isso, é preparar o alimento com o óleo que sobrou de outra

fritura, o óleo saturado”, alerta Freitas, completando: “Isso vai parar diretamente nas coronárias, causando o enfarte agudo do miocárdio, o derrame cerebral e o aumento da pressão arterial”.

Fezes ao vento

Quanto às comidas preparadas ao ar livre, como o frango e as costelas assadas em grandes churrasqueiras, nas esquinas das ruas, ou as frituras na chapa, que começam a ganhar corpo em Marabá, o médico diz que o recomendável é que fossem preparadas em ambientes fechados e justifica: “Ali esses alimentos estão expostos à poeira, saliva das pessoas que passam e examinam e, o mais grave, à poeira de fezes de animais que fazem suas necessidades ao ar livre e estas ficam ressecadas, sendo levadas pelo vento”.

Carnes cruas

Alex Freitas alerta ainda quanto às carnes mal passadas, sangrando, as preferidas de muitas pessoas que frequentam churrascarias. “O não cozimento ou o cozimento parcial, possibilita que parasitas intestinais, existentes das carnes cruas venham a atingir o sistema nervoso central das pessoas. Ou, pior ainda, que estas sejam acometidas de toxoplasmose”, alerta.

O infectologista destaca o fato de que 70% a 80% da população tem contato com a toxoplasmose, ao ter em casa, gatos, cães, cavalos e vacas, neste último caso, quem mora no campo. “Então, o germe que não foi morto no cozimento pode causar também a toxoplasmose ocular, com cegueira parcial ou total, e até afetar o feto na barriga da mãe”, adverte.

Por fim, Alex Freitas lembra que o sushi, prato da culinária japonesa que tem na base de sua preparação o peixe cru, é um alimento onde os germes podem facilmente proliferar, levando doenças graves ao organismo humano. “Isso sem falar na manipulação pelo sushiman que, em tese, prepara o alimento com as mãos absolutamente limpas”, observa infectologista, acentuando que, nesse caso, uma das doenças transmitidas ao consumidor é a hepatite A.

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