Infarto é a doença do coração que mais mata em Parauapebas

Escolas precisam investir em esporte e municípios em atendimento de emergência, recomenda o cardiologista Adilson Santana, primeiro entrevistado de uma série de três reportagens do Blog do Zé Dudu.

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As doenças cardiovasculares são os principais agentes de mortalidade no mundo e os números assustam. A estimativa é de que, até 2020, sejam a causa da morte de aproximadamente 25 milhões de pessoas, com o maior número de registros – 19 milhões – em países de baixa e média renda.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil as doenças do coração matam cerca de 300 mil pessoas ao ano, vítimas principalmente de acidente vascular cerebral (AVC), doença vascular periférica, infarto agudo do miocárdio e morte súbita. Doenças que podem ser prevenidas a partir de hábitos simples, como evitar o álcool e o tabaco, praticar alguma atividade física e ter uma alimentação saudável.

Em Parauapebas, o coeficiente de mortalidade por doenças do aparelho circulatório em 2018 foi de 86,75 óbitos para cada grupo de 100 mil habitantes. De 176 óbitos, 52,84% foram no sexo masculino. O infarto agudo do miocárdio apresentou a maior incidência de mortes com um total de 56 registros e taxa de 27,68 mortes a cada grupo de 100 mil pessoas.

Em uma série de três reportagens, o Blog do Zé Dudu informará a respeito deste mal silencioso que afeta, cada vez mais, pessoas jovens. Serão abordadas as causas e as formas de prevenção para se manter longe do susto de um infarto ou até mesmo da morte súbita em um infarto fulminante.

Na primeira reportagem, a entrevista foi com o renomado cardiologista Adilson Santana, que é mestre, doutor e pós-doutor em cirurgia cardiovascular. Ele informa sobre as características, heranças e cargas genéticas que podem provocar um infarto. Quem sofre, por exemplo, com problemas de hipertensão, diabetes ou obesidade mórbida corre mais risco de ter infarto.

“A genética está lá, marcando seu DNA, dando aquela força para que o indivíduo seja acometido com mais facilidade”, alerta o médico, que considera de grande importância as pessoas serem conscientes de que apresentam tendência a doenças do coração, para se manter longe dos fatores de risco, como a obesidade, o sedentarismo, a alimentação inadequada, hidratação insuficiente, alteração na qualidade do sono, níveis anormais de colesterol, triglicerídeos, ácido úrico ou glicose.

Para quem tem maior probabilidade de sofrer doenças cardiovasculares e deseja manter-se fora da zona de perigo, Adilson Santana recomenda evitar longos períodos de jejum assim como ambientes desagradáveis e estressantes, buscando, preferencialmente, ser feliz.

Origem do infarto – No conceito científico, como explica Adilson Santana, as doenças coronarianas são tipificadas como inflamatórias. Começa quando os vasos sanguíneos passam a conviver permanentemente com um processo de inflamação, que forma uma barreira e passa a comprometer o fluxo natural do sangue. A partir daí, coágulos vão se formando e crescendo até chegar ao ponto de obstruir completamente as artérias, impedindo a passagem do sangue.

“Feito isso, a artéria que está após esse coágulo deixa de receber oxigênio e glicose. O infarto nada mais é do que a morte de uma área do músculo cardíaco. Assim, morrendo parte do músculo, a bomba perde a capacidade de contrair de forma eficaz, o que impossibilita que chegue sangue e outros nutrientes ao cérebro e demais órgãos. E a pessoa, naturalmente, vai a óbito”, explica Adilson Santana.

Salvamento de emergência – Havendo tempo de o médico socorrer a vítima de infarto, o primeiro procedimento deve ser a abertura da artéria entupida através de angioplastia (intervenção cirúrgica), cateterismo ou com uso de substâncias que dissolvam o coágulo.

Com o avanço do conhecimento médico, Adilson Santana diz que atualmente já é possível fazer uma intervenção de quatro a seis horas de duração, com bom resultado.

Deficiência de atendimento na rede pública – Apesar do grande número de pessoas atingidas por doenças cardiovasculares, as unidades básicas de saúde são despreparadas para atender esses pacientes, aponta Adilson Santana, que vê isso com preocupação. “Não existe serviço de emergência para o coronariano, que é o paciente infartado. Sendo que apenas quando ele chega é que vão chamar o cardiologista. E isso não é serviço de emergência, é simulação”, atesta o médico.

Adilson Santana ressalta que em todas as cidades “civilizadas” as emergências funcionam conjugadas com neurologista intervencionista e o cardiologista intervencionista, que tem como papel identificar o caso e atuar para recanalizar o fluxo sanguíneo. Esse é o atendimento normal. No mais, diz o médico, é tentativa de resolver o problema dependendo da gradação do problema para se obter bom ou nenhum resultado.

Prevenção e mais esporte nas escolas – Além dos bons hábitos, fazer avaliação médica no mínimo uma vez por ano pode ser uma das formas de evitar que a doença avance. É que muita gente não sabe que tem doença cardiovascular e é surpreendido ao fazer os exames. Aí é hora de redobrar os cuidados com a saúde.

Se o indivíduo tiver histórico familiar prévio, a rotina médica deve começar a partir dos 30 anos de idade para verificar alterações que, corrigidas, previnem qualquer doença. Um atenuante para os tempos atuais, de acordo com Adilson Santana, é a difusão dos benefícios de exercícios físicos, tanto que as academias invadiram as cidades.

Contudo, há um agravante apontado pelo médico: a falta de incentivo da prática de esporte nas escolas, o que tem contribuído para que as pessoas sofram, cada vez mais cedo, com doenças cardiovasculares. “Não faz muito tempo que os jovens praticavam esportes nas escolas; andavam, jogavam basquete ou outra modalidade. Hoje em dia, aluga-se um prédio, transformam-no em uma escola e fabricam pessoas para serem aprovadas em concursos e vestibulares”, contrapõe-se Adilson Santana.

Em tom de alerta, o especialista recomenda às escolas para que voltem a se preocupar com a saúde dos alunos desde a primeira infância e invistam na prática regular de esportes. Outras atividades físicas, como dança, capoeira, podem ser também um bom estímulo para crianças, jovens e adolescentes.

Mais estudos e conhecimento – O cardiologista Adilson Santana prevê que com o aumento de população inevitavelmente aumenta o número de pessoas sujeitas a adoecer. Além disso, a população brasileira vai envelhecendo, fase em que as doenças aparecem mais.

Diante desse fato, o médico sustenta que tudo precisa ser identificado, conhecido, para que o suporte de atendimento fique de acordo com a realidade da população e da possibilidade de surgimento de novas doenças.

“Não se pode sustentar um plano de 30 anos atrás em uma realidade atual. Em Parauapebas, temos uma população estimada em 300 mil habitantes, parte deles vindo de diversas partes do País, com doenças carreadas dos mais diferentes pontos”, observa Adilson Santana, que é membro efetivo da Sociedade Brasileira de Cardiologia, membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e do Colégio do American College of Source e ainda membro da Sociedade Alemã de Cirurgia Cardíaca e Vascular. 

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Na segunda reportagem do Blog do Zé Dudu, o personal trainer Fábio José explicará a melhor forma de fazer atividades e exercícios físicos para evitar doenças vasculares. Ele vai informar qual o momento ideal para se iniciar exercícios preventivos (idade ou condições); os cuidados que devem ser tomados antes de se iniciar uma rotina de atividades físicas; como deve ser a rotina de exercícios físicos para se manter saudável; a importância de exercícios físicos para a prevenção de problemas cardíacos; como devem ser introduzidos os exercícios físicos na rotina da pessoa que já apresenta problemas cardíacos; e o que pode ser feito, fora da academia, como atividades físicas e exercícios para manter a saúde.