Disputa entre EUA e China por 5G pode atrasar chegada da tecnologia no Brasil

Nova tecnologia vai melhorar a velocidade e a qualidade da internet no país

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Brasília – A se confirmar a eleição do democrata Joe Biden como novo presidente dos Estados Unidos, o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) terá diante de si, um dilema inadiável: qual a tecnologia 5G, essencial para melhorar a qualidade e velocidade da internet no país, irá implementar? O tema, é destaque na disputa da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.

Enquanto os chineses têm todo interesse no imenso mercado brasileiro, os EUA tentam usar sua proximidade com o Brasil — na era Trump — para barrar a expansão dos rivais no país, como a da gigante chinesa Huawei, detentora do know-how desenvolvido pelos chineses.

O padrão 5G é uma tecnologia de transporte de dados em redes envolvendo dispositivos móveis. Ela traz melhorias significativas em relação às tecnologias anteriores, permitindo maior velocidade de conexão. Estima-se que seja até vinte vezes maior que a atual rede 4G. Assim, a quinta geração promete permitir o desenvolvimento de telemedicina, de veículos autônomos e diversas aplicações a nível industrial e no dia-a-dia das pessoas com a chegada da internet das coisas.

Para exemplificar, na Coreia do Sul onde o 5G já está em plena operação, a cobertura está em toda parte e avisa aos usuários, se for o caso, até que é hora de trocar a fralda do bebê.

5G no Mundo

Um total de 129 países têm rede 5G instalada, segundo a 5G Americas. No Brasil, a rede 5G deve estar comercial no fim de 2021, caso não haja atrasos e o governo faça o leilão em maio do próximo ano. A rede 5G no mundo soma 138 milhões de conexões ao fim de junho, com crescimento de 116% comparado com ao fim de março. São 190 modelos de aparelhos como celulares que permitem a conexão 5G, segundo a mesma fonte.

Fabricantes

Huawei, Ericsson, Nokia e Samsung são os principais fabricantes de infraestrutura no mundo, o que inclui 4G e 5G. No Brasil, a Huawei e a Ericsson têm cerca de 40% de participação do mercado seguido da Nokia, com 20%. Ainda não há rede 5G instalada no Brasil.

Por que os EUA acusa a Huawei de espionagem?

O governo americano alega que a Huawei é obrigada a ceder dados privados de usuários ao governo chinês. “A preocupação dos Estados Unidos é que eles usem dados e tecnologia para o benefício do Estado e não dos indivíduos”, diz Joshua Hodges, diretor para o Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional.

Qual o custo de uma eventual substituição?

Uma estimativa de um executivo do setor diz que serão necessários R$ 10 bilhões para trocar os equipamentos da Huawei. Essa troca pode levar quatro anos.

Uma eventual exclusão da Huawei no fornecimento de equipamentos pode encarecer a tecnologia para o consumidor?

Sim. Segundo especialistas, com a proibição da Huawei, sobrariam apenas dois fornecedores que hoje têm capacidade de atendimento ao mercado, a Ericsson e a Nokia.

As empresas de telecomunicações estão dispostas a mudar suas redes ou seus fornecedores?

Fontes nas teles destacam que as empresas de telecomunicações só vão querer dinheiro subsidiado para buscar novos fornecedores, se forem obrigadas devido à uma proibição da Huawei em fornecer equipamentos 5G. O desafio principal é que os equipamentos instalados hoje de 4G já estão aptos a funcionarem para o 5G. É necessário apenas uma atualização de software.

Caso o faça, isso pode atrasar o leilão de 5G no Brasil?

Segundo especialistas, todo esse imbróglio já atrasou o leilão do 5G no Brasil. Agora, o leilão deve ocorrer apenas em meados de 2021, caso Donald Trump vencesse a eleição, o leilão do 5G no Brasil pode atrasar ainda mais.

Reação: Em resposta aos EUA sobre o 5G, a embaixada da China diz que: “Os americanos se vangloriam de mentir, enganar e roubar.”

Em que países a Huawei já foi banida?

A Huawei está proibida de operar nos EUA, Reino Unido, Austrália, Suécia e Japão. Por outro lado, recebeu aval para operar em República Tcheca, Espanha, Portugal e Islândia, além de já ter redes 5G operando na Noruega, Suíça, Coreia do Sul, Kuwait e China.

O governo americano ofereceu crédito a empresas brasileiras comparem equipamentos de outras fornecedoras que não sejam a Huawei. O que está por trás da ofensiva americana?

Segundo Kimberly Reed, presidente do conselho de administração do Banco de Exportação-Importação dos EUA, o Exim (Banco de Exportação-Importação) foi autorizado recentemente pelo Congresso americano a funcionar por mais sete anos dentro de um contexto de preocupação com a competição global, e “particularmente” de competição com a China.

Por isso, 20% do portfólio do banco está orientado a criar alternativas para aliados no mercado internacional não comprarem produtos chineses. A Corporação Financeira dos EUA também foi criada pelo governo Trump para fortalecer essa estratégia geopolítica.

Esse crédito será usado apenas para a compra de novos equipamentos ou poderá ser usado para substituir os já instalados?

Os investimentos não são necessariamente para a rede 5G. O governo americano também sinalizou que estaria aberto a subsidiar a troca dos equipamentos chineses usados hoje pelas teles brasileiras por peças de outros fornecedores.

O governo brasileiro pretende banir a Huawei com fornecedora de equipamentos 5G?

O presidente Jair Bolsonaro estuda se irá banir a Huawei do leilão e a palavra final cabe a ele. Essa decisão, porém, pode ficar para depois, já que o leilão do 5G só deve ocorrer em 2021.

Se o Brasil banir a Huawei, o país pode sofrer retaliação da China? O que teríamos a perder com isso?

Tecnicamente não existe um fórum no qual a China possa recorrer. No entanto, há outras maneiras de demostrar insatisfação com a eventual decisão do governo brasileiro de banir a empresa, seja por reduções de importação e investimentos. No entanto, os chineses precisam importar alimentos e têm no Brasil e nos EUA seus principais fornecedores. Dado esse delicado equilíbrio de forças, interlocutores da área diplomática dizem que é difícil dizer o que a China poderia fazer contra o Brasil.

Val-André Mutran – É correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.