Copom define nesta “superquarta” se eleva taxa de juros nesta quarta-feira (3)

Se confirmado o aumento de meio ponto percentual na Selic, será a 12ª alta consecutiva, que pode não representar o fim do ciclo de aperto monetário, iniciado em março do ano passado
Analistas do mercado financeiro apostam em um alta de 0,5% da taxa selic

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Brasília – Uma semana após a reunião do Banco Central norte-americano, que elevou a taxa de juros em um percentual menor que o esperado, aliviando as bolsas de valores do mundo, o mercado aguarda com grande expectativa a posição do Banco Central (BC) brasileiro, que deve definir, em reunião de mais uma “superquarta” do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa básica de juros (Selic), que serve de referência para grande parte dos empréstimos no país.

A previsão majoritária dos analistas de mercado é de que o Copom vai aumentar a Selic em meio ponto percentual, indo para 13,75% ao ano. Se confirmada, será a 12ª alta consecutiva, que pode não representar o fim do ciclo de aperto monetário, iniciado em março do ano passado. Diante das expectativas de maior inflação para 2023, algumas instituições já esperam que a Selic encerre o ano em 14%, ou seja, há previsão para mais um aumento em setembro.

O último relatório Focus, divulgado na segunda-feira (1°), aponta que as projeções do IPCA, que mede a inflação oficial, para o próximo ano estão em alta há 17 semanas. Atualmente, o ponto médio (mediana) está em 5,33%, acima do limite da meta para 2023, que é de 4,75%.

Inflação está equilibrada, mas segue prejudicando atividade econômica
Economistas como Caio Megale e Tatiana Nogueira, da XP Investimentos, apontam que os dados desde a última reunião do Copom, em junho, sugerem uma perspectiva de inflação mais equilibrada, embora ainda desafiadora, o que acaba afetando a atividade econômica de forma global, impactando com maior poder a redução para baixo da atividade industrial e comercial, que precisarem de dinheiro novo para financiar suas operações, mas, o setor de serviços, o que mais emprega no país, tem acusado um duro golpe também com a alta da inflação.

“Os riscos de recessão global aumentaram, o que contribui para reduzir pressões inflacionárias. Porém, a inflação de serviços mantém-se em níveis elevados — sem qualquer sinal de acomodação — e o mercado de trabalho vem se mostrando bem aquecido”, diz relatório da XP.A corretora também considera que as expectativas de inflação continuam em alta, o que representa outro desafio para a política monetária. “Há um viés de alta para a inflação de preços administrados para 2023, principalmente em planos de saúde.”

Riscos fiscais também pressionam a inflação. O Congresso aprovou a Emenda Constitucional nº 123/2022, que permite um aumento substancial das despesas acima do teto neste ano. Os economistas apontam que quase não há clareza sobre qual será o arcabouço fiscal a partir de 2023: “Este parece ser o principal risco para a inflação no horizonte relevante do Copom”.

Ciclo de alta da Selic está próximo do fim
O estrategista Gustavo Cruz, da RB Investimentos, diz que o BC já está próximo do final do ciclo de aperto monetário. “Seus dirigentes já começaram a passar outra sinalização, a de que permanecerão com a Selic elevada por mais tempo.”

Ele lembra que, historicamente, o Copom não se envolve na disputa eleitoral, o que também joga a favor de encerrar o ciclo em breve. Segundo Cruz, o IPCA está desacelerando, mesmo que motivado por artifícios fiscais — isto é, redução de impostos estaduais e federais.Ele não vê espaço para corte de juros no começo de 2023. Atualmente, o mercado só precifica cortes a partir da quarta reunião do próximo ano, prevista para o fim de junho. Na última semana, de acordo com o relatório Focus, as projeções para a Selic no final do ano que vem aumentaram de 10,75% para 11% ao ano.

Os analistas do banco Itaú — maior banco privado da América Latina — esperam que o comitê sinalize que o cenário mais provável é o de encerramento de ciclo de aumento de juros nesta semana, mas deixando a porta aberta para uma eventual alta final na reunião de setembro, em caso da deterioração adicional do cenário de inflação ou das expectativas de mercado.“Neste contexto, destacamos que as incertezas para as projeções de inflação, sobretudo de curto prazo, estão maiores do que o usual, em meio a medidas recentemente adotadas de redução de impostos. Neste sentido, será especialmente importante acompanhar a evolução das expectativas de inflação até a decisão do Copom, uma vez que, neste estágio do ciclo, uma nova piora substantiva nas projeções pode levar o comitê a sinalizar esta alta adicional para setembro”, diz o banco, em relatório.

Ambiente internacional mais restritivo
O banco Bradesco considera que, se por um lado há sinais claros de aceleração da atividade, incertezas fiscais e continuidade da aceleração da inflação de serviços, por outro lado o ambiente internacional se tornou mais restritivo e as commodities caíram ligeiramente de preço. Assim, o banco espera o fim das altas nesta semana.

“Além disso, a deflação corrente e a ausência de novas surpresas fiscais tendem a interromper a deterioração das expectativas de inflação no curto prazo. Logo, dado o estágio avançado do ciclo de aperto monetário, esperamos que o Copom encerre a alta da Selic em 13,75% e a mantenha nesse patamar por um longo período”, diz o relatório.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.