Cine Caeté leva mostra ambiental para Eldorado dos Carajás

Entre os destaques está o filme “A Mãe de Todas as Lutas”, gravado no Pará e Minas Gerais, pela cineasta carioca Susanna Lira

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A Mostra Cine Caeté, uma realização da Sapucaia Filmes, contemplada com o Prêmio Mergulho, da Fundação Cultural do Pará (FCP), aporta no Assentamento 17 de Abril, localizado em Eldorado dos Carajás, no período de 13 a 15 de outubro (sexta a domingo), com entrada franca. A programação inclui uma mostra ambiental com cinco filmes, entre curtas, médias e longas-metragens, todos produzidos no Pará. Além disso, terá três oficinas e bate-papo com os cineastas e outros convidados.

A programação inicia nesta sexta-feira, 13, com a realização das oficinas de “Iniciação à linguagem audiovisual”, “Cinema e antropologia” e “Documentário e jornalismo ambiental”. Ao longo do sábado, 14, ocorre a mostra cinematográfica, com exibição de cinco filmes: “Andiroba”, de Luiz Saraiva, Jessica Leite e Paulo Oeiras, “A mãe de todas as lutas”, da carioca Susanna Lira, “Katu, nós somos o povo Ka’apor”, de Alessandro Campos, “A pandemia e os conflitos no território Jambuaçu, no Pará” e “Mangues, Mundus”, ambos de Cícero Pedrosa Neto e San Marcelo.

FILMADO EM ELDORADO

Destaca-se entre os filmes da mostra o longa-metragem “A mãe de todas as lutas”, que tem direção da carioca Susanna Lira, filmado em Eldorado dos Carajás, no Pará. Este é um documentário que recorre à memória para vislumbrar um futuro de mudanças sob a ótica feminina. O filme acompanha a trajetória da paraense Maria Zelzuita e da indígena Shirley Krenak, mulheres que estão no front da luta pela terra no Brasil. 

“A ideia [ao escolher esse filme] foi voltar com ele para Eldorado dos Carajás. A gente sempre quis voltar com ele para mostrar para a personagem que a gente acompanhou lá [Maria Zelzuita]. Ela nunca chegou a assistir”, conta San Marcelo, que assina fotografia adicional do filme, cuja estreia ocorreu no canal pago Curta!. 

“O documentário surgiu depois que eu vi a lista da Pastoral da Terra, que tinha várias mulheres na lista de pessoas marcadas para morrer”, conta Susanna Lira. A paraense Maria Zezuita está ligada ao MST, e Shirley Krenak aos indígenas de Minas Gerais. “Eu estou muito emocionada do filme ser exibido em Eldorado, eu espero que a comunidade e a própria Maria Zelzuita se reconheça nisso. Eu espero que o filme seja um instrumento de luta para eles e de reconhecimento identitário também”, completa a diretora.

BATE-PAPOS

Após a exibição dos filmes, ocorre o bate-papo com a própria diretora do filme, Susanna Lira, junto aos também cineastas San Marcelo e Cícero Pedrosa Neto, que estão com duas produções na mostra. No sábado, 14, às 17h, também ocorre a roda de conversa “Narrativas Afro-indígenas no Cinema”, com a bióloga e produtora cultural Larissa Farias. Em seguida, às 18h, ocorre a roda de conversa “Mulheres e a Defesa do Território, Luta e Visibilidade dos Conflitos”, com a integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Nieves Rodrigues.

OUTROS FILMES

Sobre os demais filmes em exibição, “Andiroba” destaca-se por ser a oportunidade para um realizador que está começando. “Ele [Luis Saraiva] participou de uma oficina com a parceria nossa [da Sapucaia], além de ter sido meu orientador de mestrado”, pontua San Marcelo. O filme destaca a experiência da agricultora e extrativista dona Maria, mostrando sua habilidade em extrair o óleo de andiroba e seu uso medicinal pela comunidade.

“A pandemia e os conflitos no território Jambuaçu, no Pará”, que tem co-direção de San Marcelo, destaca-se por ter sido gravado a partir de filmagens em 16 comunidades quilombolas da região de Moju. “É um filme que chega falando de pandemia, mas também das mineradoras, linhas de transmissão, entre outras empresas que dificultam a convivência no território. Apesar de ser um filme pequeno, ele é bem impactante”, acrescenta o cineasta.

“Mangues, Mundus”, assinado também por San Marcelo com Cícero Pedrosa Neto, mostra a trajetória de Marly Lúcia pela proteção dos mangues amazônicos. Por fim, a Mostra Cine Caeté traz “Katu, nós somos o povo Ka’apor”, de Alessandro Campos. O filme foi realizado a partir do pedido de lideranças Ka’apor da aldeia Axinguirendá, T.I. Alto Turiaçu, situada no Maranhão, que se organizaram para fazer o próprio filme. 

“É bem interessante compartilhar esse filme”, comenta Alessandro Campos. “A grande massa da população não conhece as especificidades dos povos. A grande visão é que só uma grande comunidade de indígenas, enquanto que existe uma infinidade de povos, de cultura, de línguas, de tradições. Então, levar um filme desse sobre um povo específico, eu acho que contribui muito para a elucidação e, de alguma forma, a quebra do preconceito da maioria da população quando se fala dos povos indígenas”, completa.

BELÉM

Dias 20 e 21 de outubro, a Mostra Cine Caeté aporta na Casa das Artes, em Belém, com bate-papo, exibição dos filmes convidados e mais duas produções, fruto das oficinas.