Brasil tinha 168 municípios bilionários em 2024, e Canaã foi nº 3 em receita per capita

No universo das prefeituras que faturaram mais de R$ 1 bilhão, a de Barcarena foi quem mais viu a receita crescer de um ano para outro, proporcionalmente. Ananindeua tem 3ª menor arrecadação por pessoa e Castanhal é um dos poucos com mais de 200 mil habitantes que ficaram de fora do ranking

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Ao longo do ano passado, o Brasil contabilizou 167 prefeituras mais o governo de Brasília com receita líquida superior a R$ 1 bilhão. O Pará contribuiu com sete nomes na lista, tendo recebido Barcarena no seleto pelotão dos governos municipais mais poderosos do país. Anda assim, o destaque fica com a presença de Canaã dos Carajás, 3º que mais arrecadou por habitante, com duas vezes e meia o faturamento proporcional de Parauapebas.

As informações fazem parte de um levantamento inédito e exclusivo realizado pelo Blog do Zé Dudu, que é o primeiro veículo de comunicação do Brasil a coletar dados consolidados das prestações de contas entregues ao Tesouro Nacional, encaminhados aos tribunais de contas ou lançados em portais de transparência de todos os municípios mais ricos. Órgão máximo de contas, o Tesouro se vale da Declaração de Contas Anuais (DCA) encaminhada ao Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (Siconfi).

Em 2024, a Prefeitura de São Paulo (R$ 93,766 bilhões) foi, de longe, a mais rica do país, seguida de Brasília (R$ 36,115 bilhões) e do Rio de Janeiro (R$ 34,89 bilhões). Os mais jovens bilionários são os municípios mineiros de Ribeirão das Neves (R$ 1 bilhão) e Congonhas (R$ 1,001 bilhão) e o goiano Senador Canedo (R$ 1,006 bilhão).

No Pará, Belém seguiu sendo o município mais rico, com R$ 4,928 bilhões de receita líquida, e ocupou a 20ª posição, porém arrecadando abaixo de municípios com menos da metade de sua população, como os fluminenses Maricá (R$ 6,599 bilhões) e Niterói (R$ 5,903 bilhões), ambos os quais beneficiados pela intensa movimentação petrolífera na costa do estado do Rio de Janeiro e, sobretudo, por royalties pela exploração do petróleo.

Com faturamento de R$ 2,675 bilhões em dinheiro vivo, a Prefeitura de Parauapebas, segunda mais rica aqui no estado, ocupou a 49ª colocação, mas perdeu oito posições em relação a seu melhor momento, 2021, quando desfilou em 41º lugar beneficiada por “toneladas” de royalties de mineração, que, à época, contribuíram para uma receita épica, de R$ 2,798 bilhões, que nunca mais foi alcançada — e dificilmente o será. Se em 2021 Parauapebas arrecadava mais que 12 capitais, agora o número caiu para não mais que cinco.

Canaã, o fenômeno

A Prefeitura de Canaã dos Carajás foi um das que mais enriqueceram no Brasil ano passado. Sua receita líquida saltou de R$ 1,798 bilhão em 2023 para R$ 1,953 bilhão em 2024, avanço de 8,6% em um ano marcado por inflação de 4,83%. Com essa expansão, a Terra Prometida passou ocupar o assento número 71 no ranking dos municípios que mais arrecadam.

Canaã dos Carajás já tem receita maior que as capitais Macapá (R$ 1,893 bilhão) e Rio Branco (R$ 1,599 bilhão), e está a um passo de engolir Palmas (R$ 2,046 bilhões). Além disso, com seus cerca de 87 mil habitantes, a Terra Prometida arrecada mais que municípios com mais de meio milhão de habitantes, a exemplo de Belford Roxo (RJ), que tem 518 mil e faturou R$ 1,597 bilhão em 2024.

O maior destaque de Canaã dos Carajás fica por conta de sua agressiva arrecadação por habitante, no valor de R$ 22.539, a 3ª maior receita per capita do país entre os municípios bilionários, atrás somente do desempenho de Saquarema (R$ 31.70) e Maricá (R$ 31.128), municípios do estado do Rio de Janeiro que se beneficiam de volumosos royalties do petróleo. A título de comparação, a média de arrecadação por pessoa em Parauapebas é de R$ 8.951 e em Belém R$ 3.524 — inclusive a média da capital paraense é a menor entre as capitais.

Ananindeua, o fiasco

Se Canaã dos Carajás é destaque positivo em arrecadação em relação ao tamanho da população, Ananindeua, 121º mais rico no ranking das bilionárias, está no extremo oposto: é o 3º com a pior receita per capita: R$ 2.622.

Com 508 mil habitantes e receita líquida de R$ 1,332 bilhão, o segundo mais populoso município do Pará só não foi pior que São Gonçalo (R$ 2.558) e São João de Meriti (R$ 2.510), ambos no estado do Rio. A falta de diversificação econômica é um dos calos no sapato da economia e das finanças de Ananindeua e, por isso, leva o município a arrecadar tão pouco para seu tamanho.

Por outro lado, Marabá, com R$ 1,476 bilhão arrecadado e na 104ª posição, tem geração de receita per capita de R$ 5.117, que é praticamente o dobro de Ananindeua. Santarém, com faturamento anual de R$ 1,428 bilhão e 109º colocado, também tem desempenho melhor, com receita de R$ 3.996 por habitante.

Por fim, a Prefeitura de Barcarena, a mais nova integrante do grupo das bilionárias, arrecadou R$ 1,054 bilhão ano passado e fez bonito, em 156º lugar, com receita líquida per capita de R$ 7.675,67. Conforme já havia revelado o Blog em levantamento anterior exclusivamente sobre a receita de prefeituras paraenses em 2024 (relembre aqui), a Prefeitura de Barcarena foi a que mais enriqueceu no Pará e, também, no Brasil entre as bilionárias, com salto de quase 32% frente à arrecadação de 2023.

Potenciais integrantes

Em 2024, dos 168 municípios bilionários, 48 estavam no estado de São Paulo (28,6%), 18 no Rio de Janeiro (10,7%) e 17 em Minas Gerais (10,1%). Santa Catarina (dez representantes), Rio Grande do Sul e Paraná (nove cada), Bahia e Pará (sete cada) vêm na sequência. Cada uma das 27 unidades da federação conseguiu emplacar ao menos o nome de sua capital no ranking.

Mas o grupo de prefeituras bilionárias terá novas movimentações este ano. O Blog apurou que ao menos dez prefeituras podem selar seus nomes na lista do bilhão, a maioria do estado de São Paulo. São municípios com arrecadação líquida na faixa entre R$ 950 milhões e R$ 1 bilhão que estão prestes a cruzar a fronteira.

Os mais cotados são Itaboraí (R$ 987 milhões) e Itaguaí (R$ 975,72 milhões), ambos no estado do Rio de Janeiro; Cajamar (R$ 984,51 milhões), Bragança Paulista (R$ 983,6 milhões), Valinhos (R$ 968,67 milhões) e Araçatuba (R$ 965,2 milhões), todos no estado de São Paulo; Olinda (R$ 976,08 milhões), em Pernambuco; Rio Grande (R$ 974,78 milhões) e Passo Fundo (R$ 952,02 milhões), ambos no Rio Grande do Sul; e Juazeiro do Norte (R$ 960,07 milhões), no Ceará.

Dos 158 municípios brasileiros com mais de 200 mil habitantes, 11 não haviam alcançado até o ano passado receita da ordem do bilhão de reais, entre eles o paraense Castanhal, que, com 208 mil habitantes, arrecadou apenas R$ 760,47 milhões. Os demais foram Paulista (PE), Parnamirim (RN), Colombo (PR), Águas Lindas de Goiás (GO), Viamão (RS), Santa Luzia (MG), Luziânia (GO), Valparaíso de Goiás (GO), Nova Friburgo (RJ) e Nossa Senhora do Socorro (SE).

Por outro lado, os municípios bilionários menos populosos foram Canaã dos Carajás; São Sebastião (SP), este com 84 mil habitantes e receita de R$ 1,416 bilhão amparada em movimentação portuária; e Congonhas (MG), com 55 mil residentes e arrecadação líquida de R$ 1,001 bilhão, escorada em royalties pela extração de minério de ferro.

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