Quando nem o Dia das Mães consegue atrair, para o comércio, clientes animados em comprar para presentear a pessoa mais importante das suas vidas, é sinal de que os negócios vão mal. Ou melhor, muito mal. É o que está acontecendo no centro comercial de Parauapebas, que vem agonizando nos últimos meses, com vendedores parados por falta de clientes.

Por todos os lados, muitas promoções, em todos os tipos de estabelecimentos, para atrair os compradores. Mas eles sumiram. A Reportagem do Blog do Zé Dudu passou boa parte da manhã de quinta-feira (22) percorrendo ruas e conversando com donos, gerentes e vendedores de lojas e ainda com ambulantes e manicures que trabalham na Praça do Cidadão. O que se ouve é unânime: de fato, a crise chegou por ali e ninguém se arrisca em dizer como serão os próximos meses. Os mais otimistas querem acreditar que tudo vai melhorar.
Uma coisa é certa – muitas lojas, principalmente as de pequeno porte, começaram a fechar as portas. Há quem colocou placas de aluga-se no estabelecimento. E há quem saiu deixando para trás, sem aviso, apenas restos daquilo que recentemente era o seu ganha-pão.

“Do começo do ano pra cá, mudou demais o comércio. Todo mundo está sentindo,” assegura Hugo Cavalcante, gerente da Love Cell, do ramo de celular. Ele estima uma queda de 30% a 40% nas vendas da loja, índice também sentido pela Casa do Campo. “Desde o início do ano está tendo uma queda significativa nas vendas,” garante um funcionário da loja, que preferiu não se identificar.
Desde 1993 no ramo de alimentação, Geovani Tavares tem uma pequena lanchonete no Comércio. Apesar de afirmar que seu negócio caminha normalmente, ele não deixa de observar o fechamento de muitas lojas. “A gente pode ver muita placa de aluguel e de vendas porque tem vários comércios que não conseguem se sobressair. Infelizmente, não é fácil mesmo,” reconhece.
Do menor ao maior
Segundo os lojistas, a maior movimentação no centro comercial tem sido à tarde; ruim para os vendedores de refeição na Praça do Cidadão, que sofrem com as mesas vazias. Mas não são apenas os pequenos empreendedores que agonizam no comércio.

Há cinco décadas no mercado e com lojas espalhadas pelo Pará e Maranhão, a Ótica Maia sente o impacto da crise, que diminuiu em cerca de 20% suas vendas em Parauapebas este ano. “Estamos vivendo uma situação bem parecida com o que vivemos na pandemia,” compara a gerente Luciane Sacramento. “Nem no Dia das Mães foi movimentado”.
Ela foi endossada pela atendente Adriane Soares: “A gente espera que melhore no Dia dos Namorados,” torce a funcionária. Ambas afirmam que nem a loja do Partage Shopping escapou do sumiço dos clientes, que vivem o período de “estou apenas dando uma olhadinha”.
Gerente da Aliança Magazine, de confecções e calçados, Cássio Moreno considera que na época da pandemia da covid-19 as vendas foram até melhores que no atual momento, devido ao apoio dado pelo governo federal aos empreendedores. “Na época, teve o crescimento na venda, e hoje, que a gente não está enfrentando nada de pandemia, a gente vê essa baixa,” critica.
Mas no caso do estabelecimento que gerencia, Moreno informa que, apesar de algumas dificuldades, as vendas não foram atingidas. “A queda a gente não está sentindo, mas a gente não está crescendo o que queria crescer”.
Culpa de quem?
Há quatro meses “marcando passo” no comércio, sem conseguir avançar nas vendas e com muitas contas para pagar, a Preta Cheirosa Calçados e Acessórios é mais uma empresa que fechará as portas dentro dos próximos dias. Os donos têm pressa – irão tentar um novo ramo de negócio, e para isso, realizam a queima de estoque, concedendo descontos de 40% a 60% aos clientes.

A política econômica nacional, incapaz de conter a alta da inflação sobre, principalmente, os alimentos, e a mudança de governo em Parauapebas são apontadas por comerciantes e comerciários como as grandes vilãs do mau tempo no centro comercial do município. Cássio Moreno, por exemplo, é enfático ao acusar o governo federal pela situação.
“Você vai ao supermercado hoje, as coisas estão num preço. Amanhã, outro preço. É a inflação. Ela está voltando aos poucos. Aí, infelizmente, o principal afetado é a gente, comerciante,” aponta o gerente. Para ele, a população está deixando de comprar supérfluos para garantir dinheiro para alimentos, remédios e moradia.
Já os entrevistados que acusaram a atual gestão de Parauapebas “de governar para outras cidades” e de “não estar nem aí para os problemas do Comércio” pediram para não serem identificados por receio de algum tipo de retaliação. Mas basta acompanhar as sessões da Câmara Municipal para entender a avaliação dos lojistas sobre o governo de Aurélio Goiano.
Na sessão ordinária da última terça-feira (20), os vereadores de Oposição na Casa manifestaram preocupação com os rumos do centro comercial e criticaram o prefeito pela insistência em comprar produtos e contratar serviços de empresas de fora do município e até do estado.
Conforme mostrado pela líder da Oposição, vereadora Maquivalda Barros (PDT), o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Parauapebas (Saaep) foi buscar em Xinguara um escritório de contabilidade, num contrato de R$ 1,1 milhão. Da mesma forma, contratou uma empresa do Tocantins por R$ 56 mil, para fornecimento de material de informática; e por mais R$ 55 mil, uma empresa de Canaã dos Carajás para confecção de brindes para eventos.
“Quantos comércios temos em Parauapebas que podem fazer esses brindes?”, questionou a vereadora. E insistiu: “Por que só empresas de fora estão tendo essa oportunidade? Por que não priorizar o comércio local?”. Em tom de alerta, o vereador Zé do Bode (Avante) prevê “muito CNPJ cancelado nesta cidade” no caso da prefeitura não adotar uma política de incentivo ao Comércio. “Nosso comércio está quebrado,” esbravejou, por sua vez, o vereador Sargento Nogueira (Avante).
(Texto: Hanny Amoras)