Acordo entre o Ministério da Saúde e as empresas aéreas garante vaga a médicos e paramédicos.

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Se o avião estiver lotado, alguns passageiros poderão ser convidados a abrir mão do assento

Uma parceria assinada ontem entre o Ministério da Saúde e as companhias aéreas pode aumentar em até 10% o número de órgãos sólidos transportados. O acordo de cooperação técnica vai dar mais agilidade no embarque do material para transplantes. A ideia é diminuir ao máximo o tempo de deslocamento entre a captação e a realização da cirurgia em quem vai receber a doação. No ano passado, 1.296 órgãos e tecidos foram transportados. Neste ano, o número chega a 3.514. De acordo com dados da pasta, em alguns estados, quase 60% dos transplantes precisam do transporte aéreo. 

Na prática, as empresas se comprometem a ceder até dois lugares no avião a médicos e paramédicos envolvidos na logística do transplante, se não houver a possibilidade de transporte na cabine do piloto. Os passageiros serão convidados a ceder o lugar e embarcar no próximo voo. O ministro Alexandre Padilha, entretanto, esclarece que nenhum passageiro será obrigado a não embarcar ou a sair do avião. Ele, entretanto, fez um apelo aos passageiros para que façam a troca. “Não é uma doação de órgão, mas de horário, que pode salvar mais de uma vida.”

O presidente da Associação das Empresas Aéreas, Eduardo Sanovicz, no entanto, diz que são raras as situações em que um passageiro precisa ceder a vaga. “Geralmente, é levado na cabine, mas, algumas vezes, é preciso o acompanhamento de um médico. É importante estarmos preparados para essa situação”, disse. De acordo com ele, são feitos 2,7 mil voos comerciais e os transportes de órgãos ocorrem em cerca de 35 voos por dia. Além de garantir espaço no voo, o avião que faz esse transporte terá prioridade nos pousos e nas decolagens.

O presidente da Associação Brasileira de Transplantes e Órgãos (ABTO), José Osmar Medina Pestana, diz que a medida é boa, mas ressalta que as companhias aéreas poderiam ajudar ainda mais se dessem prioridade também para aqueles que vão receber os órgãos. “Nos estados mais distantes, fica difícil conseguir vaga nos voos. E quando ficamos sabendo da existência de uma doação, ela tem que vir logo. Esse cenário é ainda mais frequente que o de órgãos que precisam ser transportados”, destaca. A coordenadora do Departamento de Transplante Pediátrico da ABTO, Clotilde Garcia, acrescenta que esse é um procedimento em que cada minuto é decisivo. “O tempo de isquemia de um órgão, o período que ele fica fora do corpo, é fundamental. Quanto mais agilidade, melhor”, ressalta. A médica destaca que as companhias já têm dado suporte às equipes de transplante. “Mas ter isso (prioridade de embarque) previsto em um acordo é melhor. Quanto menor o tempo que o órgão leva para chegar a quem vai receber a doação, maior a chance de ocorrer tudo bem”, acrescenta.

De acordo com Alexandre Padilha, as companhias aéreas já ofereciam esse serviço gratuitamente, mas o acordo traz regras claras sobre os procedimentos. “A partir deste fim de semana, uma equipe formada por oito enfermeiros passa a trabalhar 24 horas por dia, por meio de rodízio, no Centro de Gerenciamento de Navegação Aérea (CGNA). Essa equipe acompanhará o fluxo dos voos para tomada de decisões rápidas sobre a logística do transporte dos órgãos que precisam ser transplantados”, informou.

O centro fica ao lado do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. A equipe de enfermeiros trabalhará ao lado de representantes das empresas aéreas e dos aeroportos, de meteorologistas de plantão e profissionais de diversas áreas, para monitorar informações, como voos disponíveis, conexões, condições meteorológicas e até a situação de obras em aeroportos, para dar ainda mais agilidade ao transporte.

Tráfego aéreo
Desde 2000, o Brasil aumentou o uso de voos para transporte de órgãos em 236%. Foram de 67 para 5,1 mil neste ano. No ano passado, foram quase 3 mil deslocamentos aéreos. No Distrito Federal, 61,1% dos transplantes de coração precisaram de transporte por aviões. No Rio Grande do Sul, o índice chega a 50,7% para os transplantes de rim e 24,3% nos transplantes de pulmão. Em Pernambuco, alcança 41% dos transplantes de fígado; e no Pará, 54,3% dos transplantes de córnea.

De acordo com o ministério, o crescimento é resultado do aumento da captação de órgãos e do número de transplantes, bem como de maior articulação entre a Central Nacional de Transplantes e as empresas aéreas.

Fonte: Correio Braziliense

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