Ações de siderúrgicas têm maiores quedas na Bolsa com “inundação” de aço chinês no mercado

Empresas nacionais apontam que o aço chinês chega ao Brasil com “preços predatórios”
Planta de produção de vergalhões da Sinobras, no Distrito Industrial de Marabá (PA), controlada pelo Grupo Aços Cearenses Industrial

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Desde o ano passado, as maiores siderúrgicas do país têm alertado o governo do risco de desindustrialização do setor, em razão da “inundação” do aço fabricado na China, que chega ao Brasil com “preços predatórios”, reduzindo a atratividade das empresas locais. Os principais dirigentes do setor sugeriram uma sobretaxa a ser aplicada ao produto chinês, mas até agora não houve qualquer sinalização sobre o pedido.

Para se ter uma ideia e precificar o problema, basta verificar o desempenho das ações das principais siderúrgicas listadas na Bolsa de Valores (B3). Desde o ano passado, a Gerdau, mas não só ela, experimenta uma das maiores quedas de 2024 do Ibovespa, em baixa de quase 10%. Outras siderúrgicas, como Usiminas e CSN, também ocupam a lista, com ambas tendo quedas de cerca de 9%, como a Aço Cearense – uma siderúrgica em ascensão no mercado –, que controla a Sinobras, que mantém uma grande planta de produção no Distrito Industrial de Marabá, onde gera cerca de 1.500 empregos, mas que não está listada na bolsa e cujos números são desconhecidos.

O setor vem sofrendo já há algum tempo na Bolsa. Em 2023, a “invasão do aço chinês” no Brasil, motivada pelo desaquecimento da economia do gigante asiático e pela crise do setor imobiliário por lá, derrubou os lucros das companhias e se tornou um concorrente considerado “desleal” frente aos resultados das metalúrgicas nacionais.

“A China vem produzindo um volume maior de aço plano e focando em exportação para diversas regiões. Com isso, os resultados das siderúrgicas no Brasil estão pressionados desde então,” explica João Abdouni, analista da Levante Corp. “É incerto falar se ela continuará em 2024, pois a China pretende manter o patamar de crescimento do PIB em 5%. Nesse sentido é difícil que o gigante asiático mude a postura. Em contrapartida, há quem especule que o ritmo das siderúrgicas chinesas será menor este ano”.

Outro fator que pesou neste começo de 2024 é que o minério de ferro, nos últimos dias, também vem caindo – e justamente por conta da baixa demanda na China. O recuo sinaliza, para especialistas, que as siderúrgicas estão com bastante aço estocado. Um menor estoque por lá pode sinalizar novas ondas de exportação, inclusive para o Brasil.

Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, menciona que o aço chinês chega ao Brasil com “preços predatórios”, reduzindo a atratividade das empresas locais. Já Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, destaca que há previsões de que as importações brasileiras de aço chinês podem voltar a subir em 2024.

Por fim, não ajuda também a alta no preço do minério, apesar das quedas recentes, o que pressiona ainda mais as margens da Gerdau, da CSN e da Usiminas.

Visões para 2024

As visões para 2024, contudo, se dividem. A Levante Corp, por exemplo, diz enxergar o setor pressionado, ainda por conta do cenário imobiliário chinês, preferindo mineradoras. Já Ferrer avalia que os próximos 12 meses não devem ser empolgantes para Gerdau, Usiminas e CSN. “Teremos uma manutenção de tendência do que aconteceu no ano passado, ou seja, não vai ser um grande ano. Obviamente que pode ser muito importante que a indústria consiga um aumento da taxa de importação,” pondera.

No entanto, ele menciona que o fator Estados Unidos pode ser positivo, principalmente para a Gerdau, que tem forte participação no país norte-americano na sua receita.

Angelo Belitardo, gestor da Hike Capital, vai no mesmo caminho, apontando que a sinalização do país de retirar o direito da sobretaxa de 103,4% da produção de aço brasileira, uma barreira comercial, pode ser positiva. Isso com o acréscimo de que a maior economia do mundo ainda estar rodando estímulos para o setor de infraestrutura, que demanda aço longo.

“A sobretaxa era considerada por mais de 30 anos uma barreira comercial para exportação brasileira no segmento de tubos soldados de aço ao continente norte-americano. A medida deve fortalecer as operações da Gerdau frente à concorrência chinesa,” diz Belitardo.

“Fora isso, a potencial queda de juros nos EUA ainda em 2024 torna as ações da Gerdau ainda mais atrativas na cotação atual e o setor de aço tende a ser beneficiado com a retomada do setor de construção e infraestrutura no Brasil, China e nos países desenvolvidos. Tudo isso por conta do ciclo de queda na taxa de juros, o que impulsionará a demanda e cotação da commodity,” completa.

De acordo com a compilação LSEG com analistas de mercado, Gerdau segue na preferência entre as siderúrgicas brasileiras.

Por Val-André Mutran – de Brasília