A indústria começa a projetar o mundo do futuro graças à impressão em 4D

A revolução em curso utiliza materiais inteligentes e fabricação aditiva
A indústria começa a projetar o mundo do futuro graças à impressão em 4D

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Brasília – Nesse exato momento, uma revolução tecnológica está em curso com potencial de criar um mundo novo. Laboratórios de alta tecnologia começam a colher os frutos das pesquisas das possibilidades e limites da impressão tridimensional e a manufatura aditiva, um termo que chega para o vocabulário da indústria de ponta. A impressão 4D, tecnologia de fabricação digital, de impressão 3D, onde se inclui uma nova dimensão: a temporal fará a revolução. Isso quer dizer que o material impresso, após pronto, poderá se modificar, transformar ou se movimentar autonomamente por conta de suas propriedades intrínsecas que respondem aos estímulos do ambiente. É algo absolutamente sensacional.

O conceito foi popularizado pelo pesquisador Skylar Tibbits, que dirige o Self-Assembly Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT), celeiro de prêmios Nobel, que em colaboração com as empresas Stratasys — líder mundial em impressão aditiva, e a Autodesk, igualmente líder em softwares de aplicação em 3D .

A tecnologia ainda é bastante nova, mas espera-se que ela seja utilizada em muitos campos, desde a construção civil, infraestrutura, indústria automobilística e aeronáutica e até mesmo para a saúde, combinado com a bioimpressão.

O poder do 4D

A impressão 4D depende diretamente dos materiais que comporão o objeto. Os chamados materiais inteligentes, como a pesquisadora Anna Ploszajski demonstrou em recente palestra. Tais materiais são sólidos que possuem uma propriedade, — sua forma, dimensões ou cor —, mudam em resposta a um estímulo externo, como calor, luz, umidade, pressão ou magnetismo, apenas por causa de suas propriedades materiais internas.

Segundo Anna Ploszajski: “O mundo material tridimensional de hoje é feito de materiais passivos e inanimados, como tijolo, aço e vidro. Estruturas quadridimensionais são feitas de ‘materiais inteligentes’ (ativos e animados), que se movem de forma autônoma — inchando, encolhendo ou dobrando em reação a um estímulo — combinados com materiais passivos. Isso permite que eles se movam e mudem sem robótica, eletrônica ou motores”, é o estabelecimento de uma nova era civilizatória.

A cientista cita o exemplo da pinha, como um material inteligente natural. Resumindo seu funcionamento, duas camadas de fibras rígidas que correm em direções distintas permitem abrir ou fechar a pinha, para que as sementes só sejam liberadas quando o tempo estiver propício para a germinação no solo (quente e seco). Quando a umidade é alta, a pinha permanece fechada, protegendo as sementes. De fato, buscar entender e replicar os complexos processos da natureza de adaptabilidade, resiliência e eficiência é algo que motiva engenheiros de materiais. É também a força motriz da biomimética, em que a impressão 4D pode permitir materializar muitas das ideias que a tecnologia ainda não alcançou.

O principal intuito da impressão 4D é conseguir programar a matéria, fazendo-a reagir conforme os parâmetros ambientais. Mas para que isso pode servir? Skylar Tibbits também em recente palestra, demonstrou que algumas experiências em curso, em que objetos, quando aquecidos ou estimulados de alguma forma, se dobram e assumem outro volume tridimensional. Os pesquisadores envolvidos no projeto citam as diversas outras possibilidades, como para aplicações e solução em infraestrutura.

Por exemplo, um encanamento de drenagem que possa se contrair ou se expandir conforme o fluxo de água. Ou ainda, uma rede de esgoto que possa transportar os resíduos através de contrações e relaxamentos similares aos movimentos peristálticos do intestino, podendo vencer as inclinações do terreno. É a velha e sólida comprovação científica do poder de observação de fatos que passam despercebidos por mentes que não sabem o poder de treinamento científico no uso, tentativas, erros e acertos que transformam o mundo, agora, em prazo sempre menor.

Aplicações infinitas

As aplicações futuras podem ser vistas nas indústrias de construção e manufatura ou de materiais avançados, onde as peças podem se autotransformar de matérias-primas para estruturas finais embutidas no local sem intervenção humana num cenário sem precedentes.

“Esta é realmente uma mudança radical em nossa compreensão das estruturas, que até agora permaneceram estáticas e rígidas (aeroespacial, automotiva, indústrias de construção etc.) e em breve serão dinâmicas, adaptáveis e ajustáveis para desempenho sob demanda. A impressão 4D aprimorada pela tecnologia de multimateriais pode provavelmente revolucionar nossa capacidade de controlar e programar materiais com precisão, desde a concepção da ideia até a impressão de transformações que mudam a forma”, atesta artigo do Skylar Tibbits, em colaboração com o The Self-Assembly Lab, do MIT.

“As aplicações futuras podem ser vistas nas indústrias de construção e manufatura ou de materiais avançados, onde as peças podem se autotransformar de matérias-primas para estruturas finais embutidas no local sem intervenção humana. Esta é realmente uma mudança radical em nossa compreensão das estruturas, que até agora permaneceram estáticas e rígidas (aeroespacial, automotiva, indústrias de construção etc.) e em breve serão dinâmicas, adaptáveis e ajustáveis para desempenho sob demanda. A impressão 4D aprimorada pela tecnologia de multimateriais pode provavelmente revolucionar nossa capacidade de controlar e programar materiais com precisão, desde a concepção da ideia até a impressão de transformações que mudam a forma.” (Skylar Tibbits | The Self-Assembly Lab, MIT)

Regeneração

Já há, também, pesquisas sérias de Impressão 4D de materiais poliméricos para regeneração de tecidos e órgãos, ou mesmo para a reconstrução de ossos. As possibilidades são muitas e as experimentações podem ir muito além.

Imagine tudo o que materiais inteligentes e impressão 4D poderiam proporcionar às envoltórias dos edifícios, adaptando-se ao clima e respondendo aos mais diversos estímulos?

Ainda que a tecnologia ainda esteja engatinhando e se concentre em alguns poucos laboratórios tecnológicos pelo mundo, parece que há um futuro promissor. Quando buscamos compreender e imitar a natureza, no lugar de buscar dominá-la, os resultados geralmente são impressionantes. Se a história mostra que não é o mais forte que sobrevive, mas o que melhor se adapta às mudanças, a impressão 4D com materiais inteligentes parece algo a se levar em conta.

Veja abaixo o vídeo da aplicação prática da tecnologia de impressão em 4D.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.