Voz ao Leitor

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O post “Coluna do Frede: Crack, uma epidemia” colheu pertinente comentário de Wagner Dias Caldeira (foto), psicólogo formado pela UFPA com especialização em saúde mental. Wagner tem o know-how  no assunto pois é servidor do estado do Pará como coordenador regional de saúde mental, e do município de Parauapebas como psicólogo do Centro de Saúde do bairro Cidade Nova.Wagner Caldeira Acompanhe o diz Wagner:

Estamos precisando mesmo trazer à tona a questão do crack e suas consequências sociais. O plano do governo, como foi dito, tende ao fracasso, menos pelos possíveis desvios de verbas do que por um equívoco de princípios.

Vejam, estudos recentes (principalmente do psiquiatra Datiu Xavier da Silveira, que trabalha há mais de 10 anos com dependentes químicos) dão conta que as internações compulsórias de dependentes chegam a incrível percentual de 98% de fracassos, ou seja, de pessoas que, de volta à liberdade, voltam a usar a droga. Os tratamentos ambulatoriais (ou seja, em liberdade) conseguem recuperar 35 a 40% dos usuários.

Pois bem, o governo Dilma resolveu investir justamente no tratamento que retira o usuário do convívio social, ou seja, no modelo de tratamento das comunidades terapêuticas, já reconhecidamente ineficazes. Mas por que isso? Por que o Brasil que tem uma política de saúde mental que busca o fechamento dos manicômios e de quaisquer instituições totais, resolve investir no encarceramento dos dependentes e deixar os traficantes soltos?

Alguém deve estar ganhando com isso. São os donos dessas instituições, geralmente de cunho fortemente religioso, que estão fazendo pressão política pra que o governo federal lhes pague pra enxugar o gelo da droga.

Pra isso, criam campanhas para demonização do crack. Por que nunca revelam que o álcool e o cigarro matam muito mais que o crack? Por que nunca falam que os usuários de crack estão morrendo sim, mas não é de overdose e sim de violência e desassistência dos órgãos públicos, sobretudo a saúde? E que, principal, o crack cresce no mesmo ritmo da desigualdade, e da miséria?

Não estou querendo com isso diminuir o caráter devastador do crack, mas sim mostrar que antes da droga precisamos olhar o usuário e o seu contexto. O governo acerta ao combater o tráfico e com veemência, mas erra feio ao não conjugar a sua política de combate às drogas com outras políticas sociais como: moradia, emprego, assistência, educação, entre outros.

8 comentários em “Voz ao Leitor

  1. Cristobal Youket Responder

    I’d think this has to be some type of evolutionary trait to determine what type of individual someone is. Whether they are out to get food, if they are mean, someone you should look out for. People would need to understand how to react to them.

  2. Cidadão Brasileiro Responder

    Prezados Senhores,
    Todo tratamento a dependentes é válido. Porém a maior eficacia está na erradicação do tráfico da droga, problemas desta natureza deve ser tratado na raiz, na origem, é só pegar os traficantes e tudo fica muito mais fácil.

  3. Wagner Dias Caldeira Responder

    Sr. Parauapebas Júnior,

    Talvez eu devesse me deter mais em alguns pontos em outro momento pra que essas interpretações dissonantes, e até mesmo desviantes, não viessem poluir um debate tão interessante e necessário. Já falei sobre isso com o Zé Dudu e ele está quase concordando.

    Mas enfim, reli meu texto e não vi dois pontos que vc citou: 1. Não vi a passagem em que falo que o problema do crack é apenas social; 2. Não vi a passagem em que falo que sou socialista.

    O crack não é apenas social, nem apenas mental (como vc afirma), o crack é um fenômeno complexo: é um problema que envolve a esfera psíquica, social, biológica. Pra combatê-lo é necessário um diálogo entre saúde, educação, segurança, moradia, etc. e não apenas retirando os usuários do meio da rua, pra causar a falsa impressão de segurança nas pessoas.

    Por fim, devo avisar que a questão do crack não tem uma solução mágica. O que serve pra Inglaterra, pode não servir para o Brasil. O que serve pra Parauapebas, pode não servir pra São Paulo, e por aí vai. Por que? Justamente por conta dos aspectos sociais envolvidos no problema.

    Abraço

  4. Parauapebas Júnior Responder

    Ao tentar simplificar e mistificar o problema do vicio em crack o Sr. Wagner erra terrivelmente, como todos os socialistas ele tende a tratar todos os problemas do mundo como males sociais, mas como psicologo ele deve saber que os problemas da mente existem e alguns não têm cura e nem tratamento, o caso da psicopatia. Fosse o caso do consumo do crak estar associado à desigualdade e à “exclusão”, ele tenderia a diminuir, pois segundo LULA, o seu governo acabou com as desigualdades, falta apenas alguns detalhes a serem corrigidos pela pianista de guerrilhas. Sr. Wagner eu não sei como resolver o problema do crak e milhares de especialistas no mundo todo também não, se alguém soubesse, em qualquer parte do mundo já teria dado a solução que poderia ser copiada, mas uma coisa é certa, é cada vez mais forte a convicção de que ele não é um problema social, e sim um problema de saúde, da mente acho eu.

  5. SARA GIUSTI ABREU Responder

    Toda essa discussão sobre as comunidades terapêuticas se apoiam nas dificuldades de uma rede assistencial mal gerida. Antes da lei da Reforma Psiquiátrica (que pouquíssima gente entende), não havia recursos, politicas. Agora elas existem, estão muito bem elaboradas, mas precisam ser colocadas em prática (muitos exemplos temos de serviços que funcionam bem)
    A discussão está muito atrelada à nossa deficitária rede de saúde pública, aos quais os CAPS e demais ambulatórios estão inseridos. Ao fim, toda a população se ressente e padece com as precariedades do SUS. Não só uma saúde precária, mas um município que precisa se estruturar , e rápido, para todas as transformações sociais advindas de nossa realidade.

    Todos nós somos capazes de reconhecer esses limites e problemas do SUS, dos CAPS, mas todos nós também que vivemos essa transformação da assistência psiquiátrica, seja de que ponto for, usuário, técnico ou famíliar, queremos que essa rede se estabeleça de fato, que sobreviva aos reveses da política.

    Tenho pensado muito nos tempos iniciais da Reforma, nas durezas e rudezas de um grande parque manicomial de 100 mil leitos bem acomodados em uma rede lucrativa e danosa, e que um grupo de trabalhadores e usuários teve que enfrentar com muita coragem para que tenhamos hoje esse projeto de humanização (no sentido mais denso que podemos imaginar) da saúde mental.

    Não estaríamos hoje diante de um desafio tão mais ou igual a este momento inicial? Não estaríamos hoje diante daquele momento em que podemos ainda escolher se vamos deixar que tudo isso que foi construído se desmanche no ar e fique a espera de um outro tempo histórico para que uma nova reforma psiquiátrica seja possível?

    Não é essa a história da psiquiatria que se repete sempre? Não é esse o seu mito de fundação em Pinel? Salvar os loucos das correntes de uma sociedade excludente? E agora, os dependentes químicos? As reformas psiquiátricas têm sido essas tentativas recorrentes até serem reengolfadas por formas primitivas e obscurantistas de se pensar e viver em sociedade. Podemos escolher sim.

  6. CARLOS SEBASTIÃO DIAS CALDEIRA Responder

    O comentario de meu irmão Wagner é pertinente e muito inteligente e ele fala com propriedade de quem conhece, de quem trabalha com o assunto, o bom seria se os nossos governantes tomassem como base comentarios como esse e aplicassem em suas politicas publicas, porque é disso que precisamos.

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