Após um socorro de R$ 2,5 bilhões para cobrir um rombo nas contas do Banco PanAmericano, do Grupo Silvio Santos, o Banco Central e a Caixa Econômica Federal decretaram uma espécie de intervenção na instituição. O aporte acontece quatro meses após o sinal verde do Banco Central para que a Caixa comprasse 49% do capital com direito a voto do banco. Ontem, começaram a circular rumores de fraudes no PanAmericano, que é um dos mais fortes do país em crédito consignado e não tem conta corrente.
Os problemas teriam sido constatados pelo BC há um mês. Para tapar o rombo, o dinheiro foi liberado por meio do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), e o Grupo Sílvio Santos deu garantia em bens. Logo a seguir, a instituição ganhou novos diretores. Em comunicado divulgado após o fechamento dos mercados, o PanAmericano anunciou que pode ter sido vítima de uma fraude bilionária. O texto fala de "inconsistências contábeis" que não permitiam perceber "a real situação patrimonial" do banco.
O mercado chegou a especular que o BC faria um comunicado no fim da tarde, mas ele não aconteceu e o PanAmerlcano soltou a nota. As ações do banco caíram 6,74% na Bolsa de São Paulo. O valor do socorro é bem maior do que o R$ 1,37 bilhão de patrimônio do banco.
Fraude no PanAmericano
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Banco do Grupo Silvio Santos recebe injeção de R$ 2,5 bi após BC descobrir rombo no balanço
Em meio a rumores de que estaria prestes a quebrar, o Banco PanAmericano informou ontem à noite que vai receber um socorro de R$ 2,5 bilhões. O dinheiro sairá de empréstimo que o Grupo Silvio Santos, seu principal acionista controlador, tomou do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), criado para proteger correntistas e poupadores de bancos em dificuldades, reembolsando até R$ 60 mil por CPF, e formado com contribuições compulsórias dos próprios bancos. Segundo fontes, o Banco Central (BC) teria considerado intervir no banco, o que foi descartado após pedidos do grupo controlador. Sócia do PanAmericano, com 49% do capital votante, a Caixa Econômica Federal começou ontem mesmo uma espécie de intervenção na instituição, ao indicar nova diretoria executiva para o banco. Também foi convocada reunião para decidir os novos integrantes do Conselho de Administração em 26 de novembro, ainda segundo comunicado divulgado pelo PanAmericano.
O banco atua apenas no segmento de financiamentos, sobretudo de automóveis, e não tem contas correntes, o que afasta a possibilidade de risco sistêmico. O PanAmericano é atualmente o 21° do ranking nacional, com ativos de R$ 12,5 bilhões ao fim de junho. O BC não quis se manifestar oficialmente sobre o assunto.
Nos bastidores, acompanhou o processo, avalia que as normas foram todas cumpridas e que o PanAmericano já foi capitalizado e não vai quebrar. O empréstimo do FGC ao grupo prevê o pagamento em dez anos, com carência de três.
No comunicado, o PanAmericano já indica que foi alvo de fraude. Assinada pelo presidente do Conselho de Administração, Luiz Sebastião Sandoval, a nota informa que o aporte ocorre porque foram constatadas “inconsistências contábeis” que não permitiam aos controladores perceber “a real situação patrimonial” do banco.
Os primeiros indícios de fraude teriam sido encontrados há um mês pelo BC, que, depois da crise de 2008, apertou a fiscalização principalmente junto a bancos de pequeno e médio porte — os mais atingidos na época pela falta de crédito. Segundo fontes do BC, o valor do rombo pode ser um pouco menor que o aporte de R$ 2,5 bilhões. O objetivo da injeção maior é ter uma margem de segurança para eventuais novos problemas. Há suspeitas de participação de executivos. A dúvida dos técnicos é se a fraude aconteceu antes ou depois da compra pela Caixa, em dezembro de 2009, por R$ 739,2 milhões. Uma parcela foi paga na ocasião e outra em julho último, quando o BC aprovou a operação.
Depois de descoberto o rombo, foi feita ainda uma tentativa junto a outros bancos (inclusive a própria Caixa) para adquirir o controle da instituição, mas não houve interessados. Sem alternativas, o BC cogitou intervir na instituição, mas o grupo conseguiu costurar o empréstimo junto ao FGC.
O montante de R$ 2,5 bilhões corresponde a 10% do atual patrimônio do fundo, de R$ 25,9 bilhões.
Ação teve 8° maior queda da Bolsa
Já o tamanho do rombo supera o atual patrimônio líquido do PanAmericano, de R$ 1,37 bilhão (segundo o balanço de junho, o último disponível). Fontes disseram que o Grupo Silvio Santos teria dado todos os seus bens — incluindo o canal de TV — como garantia para o empréstimo, que recebeu aval do BC.
Conforme a nota divulgada ontem, o PanAmericano informa que a nova diretoria executiva passa a ser comandada por Celso Antunes da Costa, que foi diretor de Gestão da Integração da Nossa Caixa. Ele substitui Rafael Palladino no cargo de diretor-superintendente da instituição financeira.
Os rumores sobre a quebra do PanAmericano derrubaram ontem as ações do setor bancário na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Os papéis preferenciais (PNs, sem direito a voto) do banco despencaram 6,74%, oitava maior queda da Bolsa (os papéis não fazem parte do Ibovespa, o principal índice do mercado brasileiro).
Desde 1° de outubro, a queda acumulada é de 20,73%. Ontem, os boatos arrastaram as ações dos bancos Santander (6,65%), Itaú Unibanco (2,69%, as preferenciais) e Bradesco (2,96%).
Os papéis ordinários (ONs, com voto) do Banco do Brasil recuaram 2,39%.
Segundo Eduardo Velho, economistachefe da Prosper Corretora, o aporte foi uma surpresa e afastou a possibilidade de uma falência do banco.
Ele afirma que a informação vazou e que por isso o banco antecipou a divulgação do empréstimo, para evitar uma forte queda da Bolsa hoje.
— A notícia caiu como uma bomba no mercado — afirma Velho.
No ano passado, a instituição informou ter registrado um lucro líquido de R$ 171,5 milhões em 2009, queda de 27,3% em relação ao ano anterior.
O PanAmericano adotou recentemente uma estratégia agressiva para atrair clientes. Aposentados e pensionistas do INSS que fechassem um contrato de empréstimo de qualquer valor ganhavam um vale-compras de R$ 50.
O banco do Grupo Silvio Santos comercializa ainda os títulos da Tele Sena.
Foram 54 milhões deles vendidos apenas no ano passado, quando desativou as vendas do Carnê do Baú e expandiu sua presença em redes de varejo.
Ontem, o Ibovespa encerrou em queda de 1,35%, aos 71.679 pontos, puxado pelo recuo das ações da Petrobras. Os papéis preferenciais da estatal caíram 1,48%, e os ordinários, 1,28%. Para o analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, o recuo pode ser explicado por um movimento de venda de ações para embolsar lucros, aproveitando a alta recente. Já o dólar fechou estável, a R$ 1,699, após dois leilões do BC.
Fonte: O Globo