Está na hora do prefeito Aurélio Goiano colocar para trabalhar as duas empresas de contabilidade forasteiras que ele contratou para ficarem milionárias com os recursos — em marcha à ré — do pobre rico em decadência município de Parauapebas. O gestor em início de carreira tem muito a explicar à sociedade sobre o paradeiro de quase R$ 370 milhões que ele gastou no primeiro quadrimestre, mas que a população da Capital do Minério não sabe bem onde foi.

O Blog do Zé Dudu analisou dados reportados nas prestações de contas do primeiro quadrimestre enviadas pelo governo de Goiano aos órgãos de controle externo e ficou com a pulga atrás da orelha com o desfecho de R$ 368,35 milhões que sobraram da receita líquida após o pagamento de salários, do vale-alimentação e de restos a pagar que ele assumiu nos quatro primeiros meses deste ano.

De uma arrecadação já em queda da ordem de R$ 771,83 milhões, Aurélio Goiano pagou R$ 320,19 milhões em salários, incluindo rescisões. Pagou, ainda, R$ 51,87 milhões a título de vale-alimentação e outros R$ 31,42 milhões em restos a pagar processados (R$ 29,08 milhões) e não processados (R$ 2,34 milhões).

Para que eventuais defensores do prefeito não levantem questionamentos sobre o injustificável, já que a folha de pagamento é despesa corrente, embora o próprio gestor tenha feito esforços no início do ano para inchá-la, introduzindo centenas de puxa-sacos e desprezando a renovação de um processo seletivo para contratação temporária, o Blog excluiu a despesa com pessoal do cálculo.

Sobram, assim, “apenas” cerca de R$ 370 milhões para Aurélio Goiano explicar onde investiu em Parauapebas, já que, na visão de cidadãos comuns, os serviços públicos essenciais pioraram e até o asfalto da operação tapa-buraco se desmancha ao menor sinal d’água, o que é considerado o serviço mais malfeito da história da Capital do Minério.

RESUMO DA ÓPERA DO CAOS

• R$ 771.831.955,43 foi a receita líquida apurada de janeiro a abril
• — R$ 320.193.652,28 foi a despesa com pessoal no período
• — R$ 51.866.500,73 foi o pagamento de vale-alimentação
• — R$ 31.419.169,52 foi a despesa paga de “restos a pagar”
• R$ 368.352.632,90 foi o que sobrou da receita líquida para o prefeito usar
• R$ 3.069.605,27 foi a média de gasto diário de Aurélio Goiano nos primeiros 4 meses

Recorde de complicações

O governo de Aurélio Goiano é, de longe, o mais denunciado da história de Parauapebas. Nos primeiros quatro meses, ele acumulou mais decisões judiciais desfavoráveis, procedimentos no Ministério Públicos e denúncias nos órgãos de controle externo que os últimos polêmicos quatro anos de mandato do ex-prefeito Darci Lermen. E Darci, com teto de vidro à época, teve o próprio Aurélio como pedra, além de opositor ferrenho e barulhento.

Agora, na condição de vidraça e com atos administrativos criticados até mesmo por assessores próximos, que se sentem envergonhados e constrangidos por tanta improbidade, Aurélio corre risco de ser afastado ou ver algum secretário seu receber “homens de preto” no raiar do dia, o que seria uma decepção e uma marretada na confiança daqueles que acreditaram em um projeto de “reconstrução de Parauapebas”, mas cujos pilares se mostram insustentáveis no médio prazo.

Apoiadores envergonhados

A quantidade de licitações e contratos denunciados por cidadãos de bem já começou a acender o alerta até mesmo em Belém, para onde o prefeito corre atrás de apoio, temendo sanções severas pelos rastros de travessura que vai deixando. Soma-se a isso a completa falta de transparência nos atos, como a ocultação de notas fiscais e de pagamentos, a fim de dificultar o controle social e tapear até mesmo os poderes constituídos, como o Judiciário e o Legislativo.

Na Câmara, aliás, alguns vereadores da base de Aurélio Goiano, notadamente aqueles comprometidos com a ética e a moralidade, não conseguem mais disfarçar a tristeza e a angústia em seguir apoiando um governo denunciado diariamente por vícios e ilicitudes. Nas ruas, apoiadores mais críticos comparam o mandato de Aurélio com uma versão para lá de piorada do mandato atrapalhado de Valmir Mariano, ex-prefeito que não conseguiu mais se eleger em Parauapebas sequer como vereador.

Pelo tanto que prometeu em campanha e pela quantidade de dinheiro que já movimentou nos primeiros quatro meses, Aurélio, a bem da verdade, não teria reconstruído Parauapebas inteira, mas teria construído aqui quase uma Redenção, principal praça financeira do sul do Pará e que arrecada durante um ano inteiro cerca de R$ 460 milhões. É por isso que ninguém mais na rua engole que “ainda é cedo” para avaliar o governo de Goiano. 

Foram R$ 771,83 milhões em receita líquida, R$ 368,35 milhões dos quais evaporaram em supostos serviços essenciais — pagos, em sua maioria, por dispensas de licitação a empresas com sede fora do município. Os buracos seguem atormentando a população, a saúde continua caótica, o comércio afunda em quebradeira histórica e a vida do cidadão comum não mudou. Pelo balanço da primeira prestação de contas da era Aurélio Goiano, as cifras milionárias indicam qualquer coisa, menos reconstrução. Não para Parauapebas. A menos que seja a reconstrução das finanças de alguma empresa forasteira ex-falida.