Por Herbert Viana ( * )
Configura-se em um desafio nos países competidores no mercado global a identificação dos aspectos que influenciam a produtividade dos trabalhadores nas suas atividades laborais, observa-se uma busca em todas as empresas globais da elevação da produtividade dos seus efetivos de trabalhadores, uma vez que quanto maior tal produtividade, maior é a competividade das companhias, por exemplo, na América Latina, segundo Botero et al. (2004), as empresas do setor de construção e manutenção sofrem com a falta de eficácia e produtividade, o que resulta em perdas na sua competividade.
Segundo Dantas (2011), em 1980, um trabalhador brasileiro produzia em média o equivalente a US$ 21 mil por ano. Em 2008, esse número recuou para US$ 17,8 mil. Houve, portanto, uma queda de 15% no período. Esses dados fazem parte da Penn World Table, banco de dados do Centro para Comparações Internacionais de Produção, Renda e Preços da Universidade da Pensilvânia.
O Brasil só ganha de 21 países, sendo 11 da África, incluindo Costa do Marfim, Malawi, Somália, Camarões, Togo e Zimbábue. Todos os outros países africanos tiveram desempenho melhor do que o Brasil. Na América Latina, a evolução da produtividade do trabalho brasileira nas últimas décadas só não é pior do que a apresentada por Paraguai, Venezuela, Nicarágua e Haiti.
A queda da produtividade do Brasil possui uma breve interrupção da tendência de queda ocorrida nos anos 1990, que representaram uma inversão da curva do crescimento da produtividade da indústria brasileira, até então havia uma tendência de queda ano a ano, desde o fim do chamado “milagre brasileiro”.
Acredito que as políticas macroeconômicas implantadas na época, tais como: privatizações e desregulamentação da economia, ou seja, aplicações do neoliberalismo, tenham contribuído para tal inversão, de acordo com Rossi Junior et al (1991), a tarifação de produtos importados no setor da mecânica, reduziu de 58,8% em 1988 para 16,7% em 1994, no setor químico a queda foi de 32,4% para 6,6%, no setor têxtil de 142% para 15%, esta forte abertura comercial do mercado interno brasileiro, provocou falências, mas também a ruptura com o modelo gerencial arcaico praticado até então pelas grandes corporações industriais, as quais buscaram implantar programas de qualidade capazes de lhes devolver a competitividade necessária para retomada do mercado perdido pelos produtos e preços vindos do estrangeiro.
A partir deste momento histórico a indústria nacional começa a apresentar melhores resultados, um deles na sua produtividade do trabalho – hora, que entre 1985 e 1989 apresentou taxa de crescimento médio de 0,74%, avançando para 6,25% entre 1990 e 1993, e saltando para quase 8% entre 1994 a 1997, sendo este período dono da queda no número de empregos, e mesmo assim, um aumento na produção (ROSSI JUNIOR et al, 1999), o Brasil inaugura na prática, a partir daí na sua industrial, o conceito de fazer mais com menos.
As empresas donas de uma prática efetiva e plena destes conceitos conseguiram evoluir, fortalecendo-se em suas rotinas internas e, por conseguinte, obtendo cada vez melhores resultados no mercado em que atuavam.
No entanto, nosso país não manteve a curva evolutiva no quesito produtividade nas duas primeiras décadas do século XXI como apontado no artigo de Dantas (2011), voltamos a cair e isto preocupa, pois repousa na elevação da produtividade do trabalhador brasileiro, um dos desafios das organizações neste século, uma vez que tal variável configura-se em um dos fatores de sucesso para o desenvolvimento de vantagem competitiva ante o cenário de concorrência globalizada de produção de bens e serviços. Nas palavras Krugman citado por Lüders et al. (2012), “produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo”. Ou seja, ela é a chave para pavimentar a rota de um país para o enriquecimento.
Um país mais produtivo é um pais mais rico e desenvolvido, o brasileiro não trabalha menos que os estrangeiros, Luders et al. (2012) traz que no Brasil os trabalhadores dedicam mais horas ao trabalho do que a população da maioria dos países ricos, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho e da OCDE, no entanto, ter mais horas de trabalho não quer dizer maior produção, Luders et al. (2012) exemplifica esta afirmação com o caso dos trabalhadores alemães, que são os mais produtivos da Europa com jornada média de 38 horas de trabalho semanal e 40 dias úteis de férias, e quando comparados aos brasileiros são quatro vezes mais produtivos, segundo Pessôa citado por Luders et al. (2012).
Neste contexto precisamos enquanto nação refletir sobre nossos caminhos futuros, discutindo modelos e crenças aqui adotadas, a competição é global, e não há como voltar aos 1980 e reestabelecer barreiras comerciais que a impeçam, este jogo o Brasil tem que ganhar em campo, ou seja, buscando mais produtividade e gerando mais riquezas de maior valor agregado.
Infelizmente nosso plano de desenvolvimento e ideia de riqueza continua muito ligado a figura do Estado, este traço cultural se apresenta de várias formas, ora de maneira simples, ora de maneira complexa, por exemplo:
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no Brasil existe um exército de pessoas dedicadas aos concursos públicos, mas não temos a mesma quantidade dedicada ao empreendedorismo;
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nossa infraestrutura de logística é muito baseada em obras estatais, sendo ainda tímida a presença da iniciativa privada, podendo citar algumas rodovias privatizadas na região sudeste;
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em termos de legislação, nosso ordenamento jurídico ainda não transmite uma forte confiança aos pretensos investidores, uma vez que as mudanças de premissas legais ocorrem em alguns casos, digamos, de forma surpreendente. E quem investe a longo prazo é avesso a surpresas de curto prazo.
Este conjunto de crenças e condições de contorno, muitas vezes de fundo cultural, faz com que sejamos uma nação avessa ao risco, daí, assumimos posições mais conservadoras na vida privada, bem como, enquanto coletividade, o que traz a edificação de dispositivos de proteção em vários da vida socioeconômica brasileira, que atingem em cheio a nossa produtividade, nos tornando um país mais caro para se produzir, logo, menos competitivo.
Também ao falar de produtividade, não há como não puxar um tema a ela umbilicalmente ligado: a educação. Países com déficit educacional são notadamente improdutivos, mas esta reflexão será tema do artigo para próxima semana, até lá.
( * ) – É Graduado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), com mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também possui especialização em Tecnologia Mineral pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e Gestão Empresarial pela PUC de Campinas – SP (PUCCAMP).
1 comentário em “O Brasil e sua produtividade”
Olá Herbert um tema complexo, apesar de estar presente em nosso dia-a-dia. Como sou da área, dedico neste caso, um comentário sobre a educação. No que pese a indisposição de “correr risco” do brasileiro e de cultivar pouco o espírito empreendedor, o que é significativo mesmo é o pouco caso que a “política de governo” destina à educação.
Poderíamos elencar um sem números de fatores que impactam o baixo nível do ensino brasileiro, mas é bom lembrar que se tivéssemos uma boa formação docente, a partir do aparelhamento das Instituições formadores, valorização desse profissional, não só no reconhecimento financeiro, mas na revisão das metodologias e conteúdo acadêmico… escolas de tempo integral que acaba se tornando um falácia, etc.
A continuar do jeito que está nosso país continuará uma “colônia”, ou um país com características de desenvolvido, mas um pais periférico.