Minério de Parauapebas vai durar só mais 20 anos, aponta Vale em nova projeção

Em Canaã, por outro lado, onde apenas blocos C e D do corpo S11 estão sendo mexidos, há minério para muitas décadas de lavra. Terra Prometida possui intactos ainda blocos A e B e a Serra do Rabo

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Mesmo diante do desespero para esticar o que ainda resta de minério de ferro economicamente viável para exploração na Serra Norte de Carajás, a mineradora multinacional Vale voltou a apontar em seu relatório anual que a commodity vai exaurir de terras parauapebenses em 2045. A estimativa, a mais precisa da história, considera as minas de N4 e N5, atualmente em exploração, bem como N1, N2 e N3, e até mesmo o rejeito da barragem do Gelado.

As informações foram levantadas com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu, que analisou minuciosamente as 226 páginas do relatório anual, em inglês, que a multinacional depositou na Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, onde mantém ações em bolsa. Pela primeira vez, a Vale incluiu no cálculo da exaustão de suas minas o minério descartado – e que pode ser reaproveitado – na barragem do Gelado.

A perspectiva é dramática porque, mesmo com a inédita entrada em operação das minas de N1, N2 e N3 em 2025, Parauapebas só terá minério suficiente para sustentar a Vale por 20 anos, catando aqui e ali. Se o município fosse depender das minas de N4 (em atividade desde 1984) e N5 (em atividade desde 1998), em dez anos o trem carregaria as derradeiras toneladas. Repórter do Blog já havia anunciado a exaustão há mais de uma década no Portal Pebinha de Açúcar. Para N4 e N5, as principais e mais valiosas relíquias minerais de Parauapebas, praticamente nada mudou.

O que mudou em relação aos dez anos de sobrevida da extração mineral é o cômputo de N1, N2, N3 e do rejeito ferroso do Gelado. A quantidade de minério de ferro estocada neles, contudo, não chega a ser metade da metade do que N4 foi um dia. É por isso que a exaustão prevista passou de 2034, em 2013, para 2045 no encerramento contábil da Vale em 31 de dezembro de 2024.

Por outro lado, na atual velocidade de produção de 88,2 milhões de toneladas métricas, a menor dos últimos dez anos da Vale em Parauapebas, o recurso das novas minas pode acabar antes do previsto. A reserva total computada pela multinacional é de 1,568 bilhão de toneladas dentro da Serra Norte, em Parauapebas, incluindo os 111 milhões de toneladas da barragem do Gelado. A título de comparação, apenas nos blocos C e D da Serra Sul, em Canaã dos Carajás, há 3,402 bilhões de toneladas, mais que o dobro de Parauapebas, portanto.

Nos próximos anos, até 2045, o ciclo da atividade mineradora em Parauapebas – e todos os benefícios financeiros que vêm a reboque, como royalties e impostos – vai entrar em declínio. O baque maior vai ser sentido entre 2028 e 2034, quando as minas de N4E, N4W e N5 concluírem seu ciclo operacional. A perda de receitas, tanto com Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) quanto com Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e Imposto Sobre Serviços (ISS), será letal, de maneira que a arrecadação com essas fontes de recurso tende a cair proporcionalmente a menos da metade do que é hoje. A Capital do Minério, contudo, não se preparou para despertar de um sonho, que até se pensou ser eterno ou, na hipótese mais pessimista, durar 400 anos.

O futuro é Canaã

Em Canaã dos Carajás, a Vale prospecta lavrar minério até 2068 nos blocos C e D do corpo S11, após o que deve partir para outros alvos, como os blocos B e A e a Serra do Rabo, todos os quais localizados na Serra Sul. Se a empresa fosse vender esse universo de minério dos blocos atualmente em lavra na Terra Prometida, não passaria adiante por menos de R$ 21,71 bilhões, enquanto todas as minas de Parauapebas valeriam R$ 15,34 bilhões.

A esmagadora parte dos R$ 70 bilhões que a Vale e o governo federal anunciaram em Parauapebas no início deste ano para investir na “região” diz respeito à ampliação da capacidade nominal de S11D, em Canaã, além de mais uma expansão na mina de cobre Salobo, em Marabá. A Parauapebas restam apenas projetos manjados, sem novidade revolucionária na geração de empregos ou receitas como outrora, e o barulho do apito do trem.

Todas essas são questões estratégicas e históricas que a geografia e os limites territoriais escondem por detrás da marca mundialmente famosa de Carajás, mas que terá Canaã como epicentro e, a partir deste ano, consolidará o município vizinho como maior produtor de recursos minerais do Brasil (e maior faturamento por isso).

Ao entrar em declínio, Parauapebas terá de assistir e aprender a conviver com o apogeu do filho prodígio que rejeitou no passado e que se tornou na atualidade uma Terra Prometida. O mundo dá voltas. Às vezes, capota e desaba.

8 comentários em “Minério de Parauapebas vai durar só mais 20 anos, aponta Vale em nova projeção

  1. Eleuterio Gomes - Jornalista Responder

    No início dos anos 1980, quando começou o Projeto Grande Carajás, a previsão era de que as jazidas de minério de ferro ali descobertas tinham capacidade de exploração por 400 anos. Já no início da década de 1990, essa expectativa caiu para 200 anos. Em 2007, quando estive, pelo Jornal Opinião, ao lado de outros jornalistas de Marabá, em Carajás, ouvi de um engenheiro da própria Vale, que, devido ao avanço da tecnologia, que possibilitou a exploração com mais rapidez e mais eficiência, a expectativa caiu drasticamente para 35 anos. Então a interpretação do Blog está correta. Além do que interesse teria a Vale em divulgar um relatório com informações inverossímeis?

  2. Vitor Responder

    Isto até entrar em operação as minas na Guiné na África q já teve a Vale como detentora da mina hoje está com a Rio Tonto e empresas chinesas devem começar a explorar ainda este ano nas montanhas de Simandu aí a história vai ser diferente para nós , estão do outro lado do Atlântico , com Rio tinto e chineses no comando a qualidade do minerio e igual ou melhor q carajás! O custo deve ser bem menor! Vale a se cuide deixou escapar um grande negócio q poderá complicar as coisas por aqui!!!

  3. Helena Castro de Muniz Responder

    Essa cortina de fumaça é antiga, mas infelizmente o blog é igual papagaio de pirata, só repete o que se paga. Levanta o cérebro da cadeira e faz um matéria jornalista de verdade. Já li literatura na ANM, que o que se fez até agora na complexo mineral carajás foi apenas 15% do seu potencial.

    • Ana Meire Responder

      Triste daquele ou daquela que não consegue interpretar o que lê. Se você mora em Parauapebas, certamente debaixo de seus pés tem minério de ferro, mas não é economicamente viável explorar. Então, nem todo esse potencial que você leu na “literatura da ANM” é viável economicamente. Literatura da ANM… só faltava essa… kkk

  4. Francisco Lázaro Responder

    Infelizmente não tivemos nesse período, nem um gestor,que preparasse a cidade para seguir sem a Vale. Resumindo, Parauapebas será uma cidade fantasma, que situação triste. Valeu Zé Dudu. Vc já vem alertando esse povo há muito tempo…

    • Raimundo Responder

      depois dessa reportagem passou a circular nas redes sociais o relatorio da vale q atesta as informacoes . parabens pelo brilhante trabalho de investigacao de temas tao relevantes p/ o povo desta regiao !

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