Lideranças industriais discutem futuro do setor no Enai 2018

Para José Conrado Azevedo Santos, presidente da FIEPA, o evento alinha a posição de todas as Federações do Brasil da Confederação em relação às perspectivas do setor no contexto das eleições gerais de 2018

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Estabilidade econômica, reformas da previdência e tributária, melhorias institucionais e de gestão com segurança jurídica são pré-requisitos necessários para o crescimento sustentado do setor, diz Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), na abertura do ENAI 2018, no centro de Convenções Internacional de Brasília, na manhã desta terça-feira, 3.

Porta-voz dos industriais brasileiros, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, destacou que o Brasil não pode mais esperar uma agenda consistente de reformas estruturantes que conduza o país para um futuro de crescimento econômico sustentado. Em mensagem na abertura do 11º Encontro Nacional da Indústria (ENAI), Andrade falou dos desafios a serem enfrentados pelos governantes que serão eleitos em outubro para a consolidação de um ambiente de negócios que contribua para aproximar o Brasil do grupo de países desenvolvidos.

“Se fizermos as escolhas corretas, poderemos colocar o Brasil na rota do crescimento e do bem-estar. Se repetirmos erros do passado, o país continuará na rota da incerteza e do baixo crescimento”, disse, ao destacar que esta edição do ENAI ocorre às vésperas das eleições de 2018, momento em que as escolhas dos brasileiros serão decisivas para o futuro do país. “O setor produtivo necessita de sinais claros e firmes de que a política econômica se movimentará na direção de maior estabilidade, de melhoras institucionais e de criação de condições para que o Brasil fortaleça, de fato, a sua indústria”, cobrou.

Agenda

Andrade falou da importância do Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022, documento que deu origem a 43 estudos que apresentam diagnósticos e propõem soluções para os entraves à competitividade do país e para a consolidação de uma indústria inovadora, global e sustentável. Entre os antigos problemas a serem enfrentados, o Mapa trata do sistema tributário complexo e ineficiente, a infraestrutura precária, a educação de baixa qualidade, o financiamento caro e relações de trabalho que, até a modernização da lei trabalhista, eram regidas por uma legislação rígida e anacrônica.

Aproximadamente três mil industriais de todo o Brasil prestigiaram o evento. A comitiva paraense foi liderada pelo presidente do Sistema FIEPA, José Conrado Azevedo Santos e pelo Vice-Presidente e Deputado Estadual Shydney Jorge Rosa.

Após a abertura o ministro da da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge, explicou que desde o lançamento em março do ano passado, pelo governo federal, o Portal Único do Comércio Exterior, já conta com um módulo de exportações funcionando desde dezembro agilizou em 50% o ganho de tempo nas operações de exportação que reúne 22 Portos diferentes para o industrial que produz produtos para a exportação possam utilizar numa plataforma integrada, desburocratizando o processo.

O presidente Michel Temer reforçou a importância de o ENAI ocorrer às vésperas do período eleitoral, ao trazer a público e para os concorrentes ao Palácio do Planalto o conjunto de propostas do setor produtivo como contribuição ao crescimento e à competitividade da economia. “É preciso ousadia para realizar as reformas que contribuem para o desenvolvimento do país. Fizemos reformas e colocamos a reforma da Previdência na pauta política do país. Não haverá candidato à Presidência que deixará de se manifestar sobre isso no período eleitoral”, destacou. Temer defendeu, ainda, a aprovação da nova legislação trabalhista e afirmou que a Reforma da Previdência Social será tema inevitável durante o debate eleitoral de 2018.

Segurança jurídica

Segundo a classe industrial, estudos técnicos da equipe da CNI, em cooperação com as demais federações da indústria em todo o país, detectaram problemas decorrentes da falta de governança no poder público, que leva à graves ineficiências na execução de políticas públicas e à má-alocação e desperdícios nos gastos orçamentários em todos os níveis de governo. Ele deu especial destaque, contudo, ao tema da insegurança jurídica, um dos fatores-chave para a competitividade trazidos no Mapa Estratégico e tema transversal nos 43 documentos que foram entregues aos candidatos à Presidência da República e nortearão as discussões do Diálogo da Indústria com os Candidatos à Presidência, que a CNI realiza em Brasília, nesta quarta-feira, 4.

“É muito preocupante quando vemos empresas deixando de produzir no Brasil, deixando de gerar empregos por conta de problemas decorrentes da insegurança jurídica. A insegurança nasce já no processo de formação de leis e é fruto, ainda, das crescentes tensões entre os Poderes da República e de disputas políticas, com enormes custos para a sociedade. Isso gera uma incerteza sobre o presente, o passado e o futuro. É paralisante e, pela sua dimensão, equivale a uma crise de governança”, criticou Andrade.

Painéis

Após os discursos, três painéis foram apresentados com os seguintes temas:

Painel 1 –  A governança do Brasil: os problemas, a agenda, as saídas

• Fernando Henrique Cardoso – Ex-Presidente do Brasil
• Joaquim Falcão – Professor de Direito Constitucional
• Pedro Parente – Presidente do Conselho da BRF Foods

Painel 2  – Os desafios para o cenário econômico

• Luiz Guilherme Schymura – Diretor do Instituto Brasileiro de Economia – FGV IBRE
• Otaviano Canuto – Diretor Executivo do Banco Mundial

Painel 3 – Os desafios da quarta revolução industrial no Brasil: um olhar sobre a inovação tecnológica e a produtividade, mediados pelo jornalista William Waack, pelo período da manhã.

Após uma pausa para o almoço, Soumitra Dutta – co-editor do Índice Global de Inovação, ex- reitor e Professor, da Escola de Negócios SC Johnson College, Universidade de Cornell apresentou uma palestra sobre os efeitos da transformação 4.0 sobre a indústria e a sociedade. Entre os vários exemplos da sofisticação do avanço tecnológico, ele citou a nova capacidade de a inteligência artificial interpretar dados ambíguos e desestruturados, típicos do raciocínio humano, a partir da observação dos processos de aprendizagem de pessoas e também da interação com outras máquinas. Dutta também explicou como a experimentação e o uso da tecnologia pela Amazon, nos Estados Unidos, e pelo Ali Baba, na China, abalou as estruturas tradicionais do varejo.

Em solo americano, por exemplo, a Amazon lançou um mercado em que o cliente entra, escolhe o produto e leva para casa sem precisar passar no caixa. Isso porque a tecnologia de sensores, visão computacional e internet das coisas automaticamente inclui os itens no carrinho digital do aplicativo da empresa. As compras são debitadas no cartão de crédito. “A base de todas essas possibilidades são os dados. Estes são os novos motores da indústria. A competitividade será medida pela sua capacidade de lidar e trabalhar com dados dentro da sua organização e na sua economia”, afirmou. Por isso, lembrou ele, a estratégia nacional de digitalização tem ocupado lugar de destaque entre as potências industriais, ainda que as empresas e os próprios governos saibam que navegam por território desconhecido. Para o Brasil, o chamado de Dutta é de audácia. “A mudança é significativa, rápida e não está desacelerando. Não sintam como se estivessem para trás. Sejam audazes nesse tempo de mudança. Lidem com o risco da melhor maneira possível e tomem a dianteira. O Brasil é e deve ser um líder natural não apenas na América Latina, mas no mundo”, disse.

Painel 4  -Sustentabilidade e fortalecimento do Sistema Associativo da Indústria

• Robson Braga de Andrade – Presidente da CNI • Carlos Eduardo Abijaodi – Diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI
• Leonardo Souza Rogério de Castro – Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo – FINDES
• Gilberto Porcello Petry –  Presidente – Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul – FIERGS

Foi lançado os critérios para o 1º Prêmio Nacional de Boas Práticas Sindicais.

Outro concorrida palestra abordou as Eleições 2018: Quais as principais tendências e cenários

• Christopher Garman – Diretor das Américas da Eurasia Group.

Os industriais acompanharam a apresentação do documento ” Diálogo da Indústria com os Candidatos à Presidência da República”

• José Augusto Coelho Fernandes – Diretor de Políticas e Estratégia da CNI, detalhando os critérios que nortearão a programação da quarta-feira, 4, com os pré-candidatos à presidência da República.

Também houve lugar no 11º Encontro Nacional da Indústria para o lançamento do “SESI SENAI para o Futuro”, pelo diretor da CNI, Robson Braga de Andrade, de uma megaprojeto ao custo de meio bilhão de reais que será erguido em Brasília, bancado pela CNI, SESI SENAI e Federações da Indústria de todos o país, pelo da Presidente da CNI com a presença de Rodrigo Rollemberg –Governador do Distrito Federal, que anunciou apoio ao projeto anunciando no evento que assinou nesta terça-feira, 3, um Decreto de Governo tornando a iniciativa de interesse popular o que vai
agilizar os processos para a rápida execução do empreendimento, cujas obras terão início no primeiro semestre de 2019 e devem durar dois anos. Será um dos maiores centros de capacitarão tecnológica e formação de mão de obra altamente qualificada com viés para a indústria do Brasil.

Falta investimentos para transformar o Pará numa China do Brasil

Para o presidente da Fiepa, José Conrado, o debate com os presenciáveis será replicado no Estado do Pará com os pré-candidatos ao Governo. De acordo com ele, será demonstrado aos postulantes ao governo que a diminuição do tamanho do Estado na economia impacta positivamente o ambiente econômico e isso se dará necessariamente com as reformas já citadas.

“O Pará é um estado promissor e com novos investimentos e aumento da produtividade irá refletir na valorização dos nossos produtos.”, afirmou Conrado.

Embora o crescimento nacional esteja na ordem de 1%, o estado do Pará teve o incremento de 8,23% em seu PIB, semelhante às taxas de crescimento da China, hoje a 2ª maior economia do planeta. “Poderíamos inclusive estar melhor. O Pará, em comparação com outras unidades da federação, apresenta-se mais atrativo na captação de novos investimentos, e isso se deve, com peso relevante, àa atuação das entidades de classe como a FIEPA e FAEPA (Federação da Agricultura e Pecuária do Pará), cujo o enorme peso no desenvolvimento do estado pode ser comprovado através desses dados”, informou Conrado, acrescentando que falta para o Pará  “uma melhor infraestrutura, logística para melhor aproveitamento dos nossos rios. E, na hora que isso acontecer, o Pará será realmente uma China no Brasil”, garantiu.

Na avaliação do vice-Presidente da Fiepa, deputado estadual e pré-candidato ao Senado, Shydney Jorge Rosa, o Encontro Nacional Anual da Indústria é de alto nível e imperdível, uma vez que nos dá uma visão do Brasil e do mundo, especialmente dos assuntos que interessam à indústria brasileira, que a cada ano vem conquistando maiores índices de produtividade e excelência e que a
qualifica para disputar, em condições de igualdade, os maiores mercados do mundo.

Rosa lembrou que os últimos cinco anos foram terríveis para o setor, mas que, mesmo assim, foi um  aprendizado para os industriais nacionais. “Começamos aos poucos a nos recuperar da maior recessão da história brasileira. São dois os viés do papel da FIEPA nesse processo: o primeiro refere-se à necessidade de agregação de valor às nossas matérias-primas, –– trata-se de um desafio histórico –– e que nos compete buscar soluções para equacionarmos essa deficiência através de gestões junto aos governos e fortalecendo a nossa representação no Congresso Nacional”, explicou. ” O segundo viés trata-se de promover em solo paraense a industrialização dos itens que são consumidos no próprio território amazônico”, citando com exemplo o fato do Pará vender para os outros estados brasileiros R$ 20 bilhões por ano, e comprar R$ 60 bilhões, ocasionando uma déficit da balança comercial dentro do próprio país, no território paraense, de R$ 40 bilhões. A lógica é aproveitar a nossa posição geográfica privilegiada, não apenas para ser um corredor de exportação, mas também para receber insumos com vistas à instalação de uma grande parque fabril, nas mais diversas atividades, para suprir as necessidades de consumo interno no próprio Pará, como também o do Amapá, Amazonas, Maranhão e demais estados que compõem a Amazônia Legal”, ensinou.

Por Val-André Mutran – correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.