Na semana do aniversário de 37 anos de emancipação político-administrativa de Parauapebas, que nada terá a comemorar a não ser a entrega de meio balde de tinta em obras prontas, o governo de Aurélio Goiano chegou ao que parecia impossível: empenhou mais de R$ 1 bilhão. Você não leu errado: R$ 1 bilhão, em pouco mais de quatro meses de gestão. Para ser mais preciso: R$ 1.040.922.382,26.

As informações foram levantadas com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu e são preocupantes no cenário atual de queda de arrecadação. E pior: à exceção da folha de pagamento dos servidores públicos, a maior parte desses empenhos é para pagar empresas com sede fora de Parauapebas, no que se configura a maior evasão de recursos da história.

Mas o prefeito já gastou R$ 1 bilhão? Não. O empenho é a primeira etapa do processo de execução da despesa pública e funciona como garantia ao prestador de serviços ou fornecedor da prefeitura de que existe o crédito necessário para liquidar e pagar um compromisso assumido. Só que a parte do “existe o crédito” é teórica, apenas no papel do orçamento anual.

Ainda assim, se há empenho, há serviço executado ou por executar. E é aí que mora o perigo, uma vez que, como Parauapebas arrecadou cerca de R$ 760 milhões nesse período, se o município tivesse de pagar todos os empenhos hoje, acabaria dando um calote de, no mínimo, R$ 280 milhões em fornecedores e prestadores de serviços porque não há recurso real suficiente.

A bem da verdade, de acordo com dados lançados no portal da transparência da prefeitura de Parauapebas pela própria equipe de Aurélio Goiano, a administração pagou até o momento R$ 580 milhões em despesas. Ou seja, há R$ 460 milhões pendentes de pagamento – quase meio bilhão de reais, um valor épico para apenas quatro meses e nove dias de mandato.

Contratos graúdos sem empenho

E Parauapebas ainda não viu tudo. Parte dos contratos graúdos firmados pela gestão de Goiano com empresas de fora está misteriosamente sem empenho. É o caso do contrato de R$ 24,578 milhões da construtora Porto, de Palmas (TO), responsável pela reforma das escolas públicas municipais. Atualmente questionado na Justiça (relembre aqui), o contrato da Porto não tem um empenho sequer até hoje.

Também estão sem empenhos completos contratos como o de R$ 29,628 milhões da empreiteira Pavifênix, de Barcarena (PA), responsável pela questionável operação tapa-buraco e que também está sendo questionada judicialmente; e o da locadora ALL, de Marabá (PA), que acertou locação de caminhões com a prefeitura. A Pavifênix empenhou R$ 9,852 milhões, que nunca foram pagos, ao passo que a ALL já empenhou e até liquidou R$ 6,746 milhões, mas também não recebeu.

São dívidas demais pendentes na praça que o prefeito Aurélio Goiano terá de pagar. Para além do que se visualiza em empenhos no portal da transparência, há cerca de R$ 100 milhões em serviços contratados flutuantes, os quais não têm empenhos gerados. Merenda escolar, insumos da saúde pública, tudo isso, entre outros, são obrigações já assumidas que mais cedo, mais tarde terão de ser quitadas.

Dizendo sempre por aí que terá muito trabalho para reconstruir Parauapebas, em uma coisa Aurélio Goiano não mente: está gostando de trabalhar adoidado para empenhar cada vez mais recursos do orçamento e torná-lo impagável, tanto que, em apenas um terço do ano, o prefeito já comprometeu 46% do orçamento autorizado para a prefeitura em 2025. 

Com seu chapéu de boiadeiro, que profetiza com pompa e circunstância o emergir de um fazendeiro em potencial, vislumbrado em voar pelo céu de anil em jatinhos particulares como uma criança iludida com o brinquedo novo, Aurélio Goiano, com sua “equipe técnica”, pode estar levando Parauapebas ao precipício. Ele, pela inocência de uma criança vislumbrada com o presente (o de ser prefeito); e sua equipe técnica por não ser equipe, por não ter técnica e, principalmente, por não conseguir domar o ímpeto do adulto infantil birrento que quer tudo a seu modo. As consequências poderão ser trágicas e dolorosas para o município.