ENTREVISTA: Flávia Constant, diretora-presidente da Fundação Vale

Ela fala sobre projeto para melhorar aprendizagem em oito municípios do sudeste do Pará e afirma: “Alfabetização é um direito fundamental”

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 Dia 14 de novembro é celebrado o Dia Nacional da Alfabetização, data importante para se discutir a importância de fortalecer políticas públicas para garantir que toda a criança saiba ler e escrever plenamente, até os oito anos de idade. Para melhorar os índices de aprendizagem nesta etapa, oito municípios no sudeste do Pará contam com o apoio do projeto Trilhos da Alfabetização, iniciativa da Fundação Vale, implementada a partir deste ano no estado em parceria com a Fundação Getúlio Vargas e as secretarias municipais de educação.

O projeto auxilia as prefeituras na formação continuada de técnicos, gestores e professores e produziu materiais didáticos complementares que abordam a cultura paraense, animais e frutos da Amazônia. Em entrevista exclusiva, a diretora presidente da Fundação Vale, Flavia Constant, conta sobre os desafios da alfabetização e a atuação da instituição no estado.

  1. O Compromisso Nacional Criança Alfabetizada e o Alfabetiza Pará, do governo do estado, colocam a alfabetização como uma das prioridades para os próximos anos. Qual a importância de garantir a alfabetização na idade certa?

A alfabetização é um direito fundamental, uma etapa crucial do desenvolvimento humano e de extrema importância para a inclusão social. É a partir da leitura do mundo que novas ideias surgem, novos olhares se desenvolvem e comunidades inteiras podem se transformar.

Sem uma alfabetização plena no início da trajetória escolar, todo o aprendizado nos anos seguintes, em diferentes áreas do conhecimento, é prejudicado. Isso também pode resultar em aumento de distorções idade-ano, perda de interesse pela escola, abandono da escola, reforçando desigualdades e refletindo na economia e desenvolvimento social dos municípios.

  • Como a parceria entre os setores público e privado e terceiro setor pode contribuir para garantir a alfabetização na idade certa?  

No Trilhos da Alfabetização, estamos somando esforços com o Alfabetiza Pará, programa executado pela Secretaria Estadual de Educação, as prefeituras de oito municípios, a Fundação Getúlio Vargas, que conta na equipe do projeto com a educadora Vilma Guimarães, uma das mais renomadas especialistas do país neste tema, além de investimentos do BNDES e Wheaton Precious Metals para desenvolver ações que contribuam para a melhoria da aprendizagem de forma perene.

Essa perenidade está relacionada com o apoio aos municípios na formação contínua dos professores, técnicos e gestores da educação. O projeto os apoia para que conduzam essa jornada junto aos alunos de forma prazerosa e valorizando seus saberes locais. Para isso, também produzimos e distribuímos almanaques e jogos educativos, que são materiais didáticos complementares, para tornar a aprendizagem mais divertida e estimulante, abordando vocabulários e conteúdos relacionados a cultura paraenses e sua biodiversidade. O projeto impacta os mais de 32 mil alunos matriculados do 1º ao 3º ano do ensino fundamental da rede pública dos municípios participantes.

Também somos parte, junto com a Fundação Lemann e o Instituto Natura, da Parceria pela Alfabetização em Regime de Colaboração no Pará, programa criado pela Associação Bem Comum, com o propósito de apoiar o poder público estadual no desenho e implementação de uma política de melhoria da aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental, com ênfase na alfabetização de crianças. 

  • Como garantir a alfabetização plena?

Dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) apontam que quanto mais bem formados são os professores de um município, mais alto é o nível de aprendizagem dos estudantes medido pela ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização). Esse é o ponto chave do projeto: formar todos os quase 2 mil alfabetizadores dos oitos munícipios onde atuamos e acompanhá-los em sua jornada em sala de aula, promovendo a troca de experiências do que está funcionando ou não.
Em segundo lugar, é preciso criar uma cultura de avaliação de cada criança, para garantir que aquele aluno tenha aprendido de fato. Também é importante aliar o ensino à cultural local, valorizando os saberes que as crianças trazem de casa, e unindo aprendizagem com o brincar, tornando o processo prazeroso, significativo e retendo o interesse do aluno. Daí a importância dos materiais complementares. E por fim, ter também como parceiros dessa jornada as famílias, que estimulam, apoiam e acompanham cada criança.

  • Como a Fundação Vale tem atuado no Pará?

No Pará, os projetos da Fundação Vale beneficiam mais de 500 mil pessoas em oito municípios do sudeste do estado: Bom Jesus do Tocantins, Canaã dos Carajás, Curionópolis, Eldorado dos Carajás, Marabá, Parauapebas, Ourilândia do Norte, Tucumã.

Em 2023, com investimentos também do BNDES e do parceiro Wheaton Precious Metals, implementamos o Programa Educação e Saúde, que além do Trilhos da Alfabetização conta com o Territórios em Rede, para enfrentar a exclusão escolar e apoiar o retorno das crianças em sala de aula, por meio de busca ativa em domicílios; e o Ciclo Saúde Proteção Social que vem melhorando as condições técnicas e materiais de todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), melhorando o atendimento nessas áreas.

Além disso, a instituição também mantém em Marabá e Tucumã duas unidades da Estação Conhecimento, espaço próprio que oferece atividades culturais e esportivas no contraturno escolar, além de consultas odontológicas. Em 2022, 2,2 mil pessoas foram beneficiadas no estado.

(Ascom Vale. Fotos: Divulgação)