O Blogger entrevistou Lucivaldo Sozinho (foto), diretor administrativo e financeiro da Funsider S. A, controladora da Siderúrgica Ibérica S/A, de Marabá, para saber sobre os boatos de que a guseira estaria deixando Marabá. Confira a entrevista:
Zé Dudu – O Distrito Industrial de Marabá está vivendo dias difíceis. Há menos de dez anos funcionavam 11 guseiras. Hoje, estão em funcionamento apenas a Ibérica e a Sidepar e as notícias recentes são de que a Sidepar fechará as portas e demitirá seus empregados. E a Ibérica? A empresa continua ou encerra também suas atividades?
Lucivaldo Sozinho – Continuaremos trabalhando. Não existe em nosso planejamento nenhuma previsão que indique suspender nossas atividades. É fato que o mercado mundial de gusa está atravessando um período de baixa que vem sendo sentido pelas empresas instaladas no Distrito Industrial de Marabá (DIM) desde meados de 2008. Mas a convicção quanto à nossa continuidade está baseada em decisões que tomamos tempos atrás. A partir de 2009 adaptamos nosso volume de produção ao poder de absorção de nossos produtos e passamos a operar um alto forno ao invés dos três utilizados até então. O volume de produção a partir de 2009 passou das 300 mil toneladas para 100 mil toneladas por ano. A partir de 2012, ao invés de enviar 100% do volume produzido aos Estados Unidos, passamos a enviar para a Espanha, país sede de nossa controladora Funsider, a maior distribuidora de ferro gusa na Espanha. Atualmente 100% da produção é comprada pela Funsider.
Zé Dudu – E por que o mercado espanhol continuou comprando quando o mercado americano parou de adquirir este tipo de produto?
Lucivaldo Sozinho – O mercado espanhol também foi afetado pela crise mundial e atualmente compra por volta de 200 mil toneladas/ano de ferro gusa. Porém, a Ibérica pertence à Funsider, uma sociedade espanhola com mais de 30 anos de atuação e que detém mais de 80% do mercado consumidor na Espanha. Assim, o que fizemos foi deixar de vender a nossa produção para os Estados Unidos e passar a comercializar o produto apenas através da Funsider, que é um distribuidor de produtos siderúrgicos. Na Espanha, a Funsider vende diretamente ao consumidor final. Consumidores de todos os portes, desde os grandes siderúrgicos que fabricam peças para o setor automotivo ou de equipamentos para energia eólica, como para aquele bem pequeno que compra dois caminhões por ano e fabrica ferramentas como um torno mecânico. Assim, podemos trabalhar com margens financeiras que nos permitem negociações individuais e que viabilizam o negócio.
Zé Dudu – E quem vende para os EUA?
Lucivaldo Sozinho – Os que vendem para os Estados Unidos, vendem para no máximo três distribuidores gigantes que ditam o preço do mercado e que não permitem a competitividade de muitas empresas.
Zé Dudu – E quanto representa a produção da Ibérica, no Brasil, em Marabá e no mercado espanhol?
Lucivaldo Sozinho – A Funsider compra ferro gusa da Ibérica no Brasil e também de guseiras na Rússia e na Ucrânia. Metade do que vendemos no mercado espanhol é produzido aqui na Ibérica, ou seja, cerca de 80 mil toneladas por ano.
Zé Dudu – É a garantia destes contratos que permite à Ibérica manter seu funcionamento?
Lucivaldo Sozinho – Exatamente, sabemos que o mercado consumidor da Espanha demanda em média 200 mil toneladas por ano de gusa. Sabemos também que podemos abastecer esse mercado e isso nos dá o conforto e a segurança de garantir as atividades da Ibérica em Marabá, no Pará.
Zé Dudu – E quanto à Recuperação Judicial em que se encontra a Ibérica? Como está o processo?
Lucivaldo Sozinho – A crise mundial e a consequente redução das operações naquela época, encontrou a Ibérica alavancada devido aos investimentos que realizamos para a garantia de sua autossustentabilidade em matéria prima energética. No início de 2010, a Ibérica recorreu ao instrumento da Recuperação Judicial, cuja homologação judicial ocorreu em março 2011, após aprovação, por parte de seus credores, do Plano de Recuperação Judicial em Assembleia Geral. Esse plano prevê uma carência de dois anos para o início dos pagamentos. A Ibérica vem cumprindo o planejamento integralmente, incluindo os pagamentos a credores, iniciados em 2013. Em setembro de 2014, a Ibérica requereu formalmente o encerramento da Recuperação Judicial por estar cumprindo todos os compromissos assumidos, não havendo pendência ou reclamação de seus credores.
Zé Dudu – Quantos empregos são gerados pela Ibérica?
Lucivaldo Sozinho – Hoje a Ibérica emprega 240 pessoas diretamente. Indiretamente, esse número chega a mais de 750 pessoas. Um número que cresce nas épocas de plantio e corte de eucalipto, uma vez que temos nove fazendas de reflorestamento de eucalipto destinadas à produção de carvão para abastecimento de nossa planta industrial.
Zé Dudu – Quantos hectares reflorestados a Ibérica possui?
Lucivaldo Sozinho – Cerca de 13 mil hectares em fazendas localizadas no Pará (Nova Ipixuna, Goianésia, Rondon do Pará, Abel Figueiredo e Dom Eliseu) e Tocantins (Axixá).
Zé Dudu – E qual a avaliação da Ibérica sobre este cenário econômico mundial atual? Quais as expectativas da empresa?
Lucivaldo Sozinho – A Espanha foi um dos países europeus que mais sofreu com a crise mundial, mas também tem se apresentado como um dos que estão se recuperando mais rapidamente. Temos uma expectativa positiva de que o mercado onde atuamos se fortaleça cada vez mais e que a Ibérica continue produzindo com qualidade e responsabilidade social e ambiental.