CNI e MDIC lançam Programa Nacional de Descarbonização na COP30, em Belém

Representando o governo federal, Geraldo Alckmin enfatizou que o Brasil vive uma oportunidade histórica para liderar a transição verde
(Foto: Augusto Coelho/CNI)

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O governo federal lançou nesta segunda-feira (17), durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), em Belém, a Estratégia Nacional de Descarbonização Industrial (ENDI), iniciativa estruturante que consolida o Brasil como protagonista na agenda climática global. O evento contou com a participação do vice-presidente da República e gestor do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, e do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), Alex Carvalho, como representante da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Para o presidente da FIEPA, a ENDI inaugura um novo marco para o futuro sustentável e competitivo da indústria brasileira. “A transição para uma economia de baixo carbono não é apenas ambiental: é econômica, tecnológica e estratégica. A indústria brasileira já dispõe de alternativas maduras de mitigação, como biomassa, eficiência energética e circularidade, e se prepara para tecnologias emergentes como hidrogênio verde, digitalização, inteligência artificial e CCUS [trazido do inglês para Captura, Utilização e Armazenamento de Carbono]”, afirmou Alex Carvalho.

Ele destaca que a ENDI está estruturada sobre quatro pilares decisivos que consistem em inovação, P&D e formação de capital humano; insumos descarbonizantes e energia limpa; estímulo à demanda por produtos de baixo carbono; e financiamento e incentivos que garantam inclusão produtiva.

Indústria brasileira apoia a estratégia e reforça o papel da inovação

Um dos momentos centrais do evento foi a assinatura da Carta de Engajamento entre CNI, MDIC e setores energointensivos da indústria – documento que convoca o setor a contribuir para a consolidação de uma política industrial moderna, comprometida com o desenvolvimento sustentável, o avanço da inovação tecnológica e a construção de uma economia de baixo carbono.

Carvalho, que integrou o ato de assinatura do documento, ressaltou que o diálogo permanente é fundamental para aperfeiçoar e implementar a estratégia de descarbonização: “Somente por meio de cooperação contínua será possível consolidar uma indústria inovadora, competitiva e cada vez menos intensiva em carbono”.

“Nesse sentido, temos que exaltar a atuação da CNI, com iniciativas como a Sustainable Business COP (SB COP), aliança global de empresas comprometidas com a agenda climática, responsável pela elaboração do Legacy Report, que apresenta caminhos concretos para transformar a Amazônia em um polo global de desenvolvimento sustentável, com potencial de agregar R$ 40 bilhões ao PIB e gerar mais de 300 mil empregos”, pontuou Carvalho, que participou também de uma reunião com lideranças industriais da SB COP, da CNI.

Geraldo Alckmin destaca oportunidade histórica

Durante o evento, Alckmin afirmou que o país vive “uma oportunidade histórica” para liderar a transição verde, combinando preservação ambiental, inovação industrial e competitividade internacional. Segundo ele, conter emissões é um imperativo civilizatório. No caso brasileiro, essa trajetória começa pelo enfrentamento ao desmatamento, principal fonte de emissões do país. “Um hectare desmatado e queimado emite cerca de 300 toneladas de carbono. O compromisso do governo Lula é zerar o desmatamento ilegal até 2030, e já reduzimos em 50% ao longo deste ano”, destacou.

A estratégia ambiental do governo ganha força com o lançamento do Fundo Tropical Florestas para Sempre (TFFF), programa apresentado na COP, destinado a atrair investimentos internacionais para conservação e recomposição florestal. O objetivo é restaurar áreas degradadas e impulsionar cadeias produtivas de bioeconomia na Amazônia. “Somos o Estado do açaí, do cupuaçu, da castanha. A floresta em pé é um ativo econômico, cultural e tecnológico”, disse Alckmin.

O vice-presidente da República também defendeu uma política industrial baseada em valor agregado, lembrando que ciência e tecnologia transformam matérias-primas simples em produtos de altíssimo valor: “Um quilo de carne de porco custa cerca de R$ 20. Mas uma válvula cardíaca feita com membranas do pericárdio suíno vale R$ 70 mil. Isso é indústria, isso é inovação”.

(Foto: Augusto Coelho/CNI)

Nesse cenário, ganha centralidade o programa Nova Indústria Brasil, que integra sustentabilidade, produtividade e exportação. Entre os mecanismos anunciados, está a concessão de crédito a juros reais negativos para estimular pesquisa, inovação e expansão da base produtiva nacional. “Existem setores que só sobrevivem se exportarem, porque dependem de escala. Precisamos apoiar essa vocação”, reforçou.

A agenda de descarbonização também avança com o Programa Mover – Mobilidade Verde, que incentiva a indústria automotiva a produzir veículos mais limpos, eficientes e competitivos. O Brasil amplia seu protagonismo ao manter a gasolina com 30% de etanol – proporção única no mundo – e elevar para 15% o percentual de biodiesel no diesel. “Isso reduz emissões e fortalece um setor no qual o Brasil já é líder global”, afirmou o vice-presidente.

Outro ponto central é a força da matriz elétrica brasileira: 85% renovável, a mais limpa entre as grandes economias. Para Alckmin, essa vantagem competitiva deve se conectar a uma estratégia industrial robusta e integrada ao território: “O Brasil assume com responsabilidade seu papel no mundo. Nossa meta é clara: alcançar a neutralidade de carbono até 2050”.

(Foto: Augusto Coelho/CNI)

Convergência entre sociedade, indústria e governo

O avanço do Programa Nacional de Descarbonização também encontra ressonância em iniciativas que vêm sendo articuladas no estado do Pará, como a Jornada COP+, movimento multissetorial liderado pela FIEPA. Criada na Amazônia e construída de forma colaborativa, a iniciativa antecipou pilares, hoje assumidos pelo governo federal, como o combate ao desmatamento ilegal, a recomposição florestal, a bioeconomia como motor de inovação, a integração entre indústria e sustentabilidade, e a construção de valor agregado a partir dos recursos amazônicos.

Com quase dois anos de atuação e mais de 30 mil pessoas mobilizadas em dezenas de ações, o movimento demonstra que a transição climática precisa ser territorializada, participativa e capaz de gerar desenvolvimento real para quem vive na Amazônia. “Ao alinhar esforços com o governo e o setor industrial, a Jornada COP+ reforça que a Amazônia é parte central da nova economia brasileira, uma economia que precisa ser limpa, inovadora e baseada em cadeias de valor sustentáveis”, concluiu o presidente da FIEPA.

(Fonte: Fiepa)