Ato em Defesa da Amazônia reúne povos indígenas e lideranças em Marabá

Cerca de 4 mil participantes e mais de 30 lideranças sociais e políticas estão hoje em Marabá, debatendo a defesa da região diante dos ataques aos povos indígenas e ao meio-ambiente

Continua depois da publicidade

Com a destacada presença do cacique Raoni Metuktirê, 89 anos, líder maior do povo indígena do País, acontece durante todo o dia de hoje, quinta-feira (17), no Ginásio Poliesportivo “Renato Veloso”, em Marabá, o Ato Nacional em Defesa do Meio Ambiente e dos Povos da Amazônia. Participam mais de 30 lideranças indígenas, sindicais, dos movimentos sociais de luta pela terra, de defesa do meio ambiente, da classe trabalhadora, comunidade acadêmico-cientifica e de seis partidos políticos de esquerda.

O objetivo do ato é mostrar publicamente uma posição a respeito dos desafios e riscos que a cultura, a floresta, os rios e os territórios da Amazônia estão enfrentando. O ato faz parte, ainda, do Fórum Nacional Permanente em Defesa da Amazônia. Trata-se, nas palavras deputado federal Airton Faleiro (PT/PA), de uma reação ao discurso oficial do governo brasileiro, que autoriza ataques contra a Amazônia e contra o seu povo.

Uma das primeiras a discursar, a deputada federal Jandira Feghali (PC do B/RJ), líder da minoria na Câmara dos Deputados, disse que estar nesta quinta-feira em Marabá significa ouvir e aprender muito com os povos da região.

“Porque é muito fácil falar sem ouvir. O difícil é saber ouvir para errar menos, acertar mais e construir coletivamente os projetos, construir coletivamente as leis, construir coletivamente as ações”, destacou ela.

Justificou que a presença dela e de outros deputados federais no ato é para que as populações envolvidas saibam que não vai se construir nada sem ouvir os povos da Amazônia, as representações e as pessoas que vivem na região “e sofrem o dia a dia da exploração, da depredação, com o abandono das políticas públicas, com falta de escrúpulos dos grupos do dinheiro, que não tem limites para retirar a riqueza desta região”.

“Nós sabemos que a Amazônia sofre com a mineração, sofre com a garimpagem, com a grilagem, com a substituição da floresta pelo gado e pela soja, sofre com a falta de visão da valorização da floresta, de todo o potencial que ela tem”, salientou a deputada.

Mais adiante, ela afirmou que o governo que aí está – referindo-se ao governo Bolsonaro – é cúmplice do crime, paralisou as políticas ambientais, não quer mais demarcar as terras indígenas e quer destruir o Incra e a Funai: “Mas nós não vamos deixar, nós vamos resistir juntos. Porque não podemos deixar destruir aquilo que construímos durante anos, com perdas de vidas, com perdas de pessoas que são nossos heróis e heroínas na Amazônia”.

Jandira Feghali reforçou que é necessário construir políticas públicas para o povo, para as crianças, para as mulheres, políticas para reduzir as mortes no campo, na luta pela terra, de apoio à agricultura familiar e de saneamento.

“Mas nós precisamos também construir políticas de desenvolvimento sustentável, um projeto socioambiental para a Amazônia, fazer com que tenhamos um projeto de desenvolvimento com a floresta em pé, um projeto de economia alternativa. Aqui, o trem vai com o minério e a pobreza fica. Nós precisamos impedir que isso continue acontecendo. O capitalismo é depredador e nós precisamos construir projetos alternativos, onde toda essa riqueza possa ter beneficiamento para o povo da região”, concluiu a deputada.

Gilmar Mauro, liderança nacional do MST, num discurso veemente, destacou os crimes ambientais que vêm destruindo a natureza e, consequentemente o ser humano, e afirmou que a luta pela terra vai continuar: “Nós vamos continuar lutando pela terra e resistindo sim. Enquanto tiver um sem-terra neste País, nós vamos continuar ocupando o latifúndio, vamos continuar fazendo assentamentos. Entretanto, junto com a ocupação do latifúndio, da defesa dos povos indígenas, como movimento popular e social, nós devemos discutir a questão ambiental”.

“Essa questão não é conjuntural, não é só para enfrentar o Bolsonaro, embora tenhamos de enfrentá-lo sim, porque é mais um criminoso que está no governo neste País. É uma questão estrutural, de todos e todas. Porque a ordem do capital é a ordem da produção de lucro e transformar tudo e todos em mercadoria todo tempo. Essa ordem não tem sustentabilidade. Não haverá sustentabilidade sob a lógica do capital e enfrentar isso é enfrentar em cada canto deste País”, alertou.

Paulo Rocha, senador do Pará pelo PT, destacou que, diferentemente de 1964, quando o poder econômico usou os militares para dar um golpe na democracia, o País acaba de ser vítima de outro golpe, agora usando “instrumentos modernos de manipulação das massas para trair a democracia”.

“Companheiros, nós estamos vivendo de novo uma ditadura do poder econômico, que usa os seus representantes aqui para poder implementar de novo um modelo de processo escravocrata no nosso País, por isso eles estão destruindo tudo. O Bolsonaro é um destruidor das nossas riquezas e entrega as nossas riquezas para o capital internacional. É destruidor das nossas conquistas, dos nossos direitos. É destruidor dos povos da floresta. Eles sabem que os indígenas são os mais resistentes, por isso eles atacam dessa forma. Por isso, companheiros, esse fórum aqui serve para a gente unir os nossos interesses e direcionar uma força única, a força do povo para dar um basta a essa situação”, conclamou Rocha.

Joenia Wapichana (Rede/RR), primeira deputada federal indígena, disse que a Amazônia é avida de todos, independentemente de viver nela ou não. “Aqui não é uma luta de partidos, é uma luta de todos, porque é uma luta pela vida, pelo patrimônio que vai além do Brasil, mas a nossa responsabilidade aqui é chamar a todos que têm o dever de proteger o nosso bem maior”, discursou ela.

Em sua fala, uma das mais aguardadas, o cacique Raoni foi breve, disse que só queria o bem. Não queria o mal de nenhum, mas o bem de todos. “Eu vou dizer para vocês: todos precisamos nos unir, para termos mais força e lutar pela liberdade da Amazônia. A nossa cultura, as nossas raízes, já vêm de muito tempo. Então, nós devemos preservá-las”, apelou.

Em seguida, Raoni disse que não gosta de bandido nem de ladrão e afirmou que o atual governo está apoiando esse tipo de gente, contra o povo brasileiro “e contra os povos indígenas também”.

“Eu quero todos os brasileiros e o povo indígena em paz. É isso que eu estou levando para todas as regiões do Brasil e para outros países. Antes, eu era inimigo. Hoje eu não sou mais inimigo. Hoje nós somos todos amigos e estamos lutando para viver em paz, sem matança, sem homicídios. Eu luto até hoje. Todos os governos brasileiros anteriores respeitavam os povos da Amazônia, os povos indígenas. E esse governo não respeita. Por isso, devemos unir forças e combatê-lo”, encerrou o velho cacique Kayapó.

Representando o Governo do Pará, o secretário Regional de Governo do Sul e Sudeste do Estado, João Chamon Neto (MDB), informou que hoje e amanhã o governador Helder Barbalho (MDB) se encontra em New Jersey (EUA), na Universidade de Princeton, representando o Brasil e dos nove estados da Amazônia Legal, em evento em defesa do meio-ambiente e da Amazônia.

Chamon lembrou que, quando deputado estadual, ao ado de Airton Faleiro e de Dirceu ten Caten (PT), defendeu a defesa da região no Parlamento Amazônico e disse que “o Governo do Estado está firme na luta e na defesa intransigente dos interesses da Amazônia, do meio-ambiente e dos povos indígenas.

O evento segue até a noite de hoje, com cerca de 4 mil pessoas no Ginásio Poliesportivo de Marabá.

Por Eleuterio Gomes – de Marabá