Projeto na Amazônia devolve mais de 1.700 quelônios à natureza

Fenômeno com filhotes de tartarugas, tracajás e pitiús acontece todos os anos durante ciclo de reprodução monitorado no Médio Xingu, pela Norte Energia com o Ideflor-Bio
(Foto: Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real)

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A natureza está em festa no Rio Xingu. Mais de 1.700 quelônios, entre tartarugas-da-Amazônia, tracajás e pitiús, conquistaram, neste sábado (2), as águas após o ciclo de reprodução, iniciado em junho e monitorados pela Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio). Desde o começo do Projeto Tartarugas do Xingu, em 2011, pouco mais de 6 milhões de filhotes de quelônios foram devolvidos à natureza. 

Desde agosto deste ano, o monitoramento vem sendo acompanhado por três biólogos e 15 auxiliares do projeto. É quando se tem início o período de desova na Unidade de Conservação Refúgio de Vida Silvestre (Revis) Tabuleiro do Embaubal, no município de Senador José Porfírio, no Pará. A desova das espécies ocorre em 20 praias do Tabuleiro entre o final de agosto e novembro, com o período de eclosão, quando os quelônios nascem e vão para o rio, entre a madrugada e o amanhecer, principalmente, do final de novembro aos primeiros dias de dezembro.  

Para ajudá-los a ingressarem na natureza e auxiliar no nascimento dos filhotes, a Norte Energia realizou, durante o fim de semana, ação do Projeto Tartarugas do Xingu, com escavação na areia por um grupo de voluntários. O objetivo foi sensibilizar e conscientizar as pessoas para a importância de preservação dos quelônios. 

Se comparado à tartaruga marinha, o ciclo de reprodução da tartaruga-da-Amazônia é mais sensível em vários aspectos, o que exige cuidados especiais durante a colocação de ovos pelos quelônios. Daí a importância do monitoramento e fiscalização na Unidade de Conservação. O Tabuleiro do Embaubal é uma das principais áreas de reprodução das espécies e foi criado por meio do Decreto nº 1.566 de 17 de junho de 2016. Localizado na porção norte da Floresta Amazônica, possui área de 4.033,94 hectares. 

“Este é um importante reduto de biodiversidade, abrigando grande variedade de espécies animais e vegetais, além de ser o local de maior desova de quelônios. Graças a esse trabalho em parceria com o Ideflor-Bio, todos os anos ajudamos que cerca de 500 mil quelônios nasçam e habitem o Xingu e seus afluentes, bem como o rio Amazonas, mantendo assim o objetivo de conservação das espécies,” explica Roberto Silva, gerente dos meios físico e biótico da Norte Energia.  

Além da proteção contra predadores naturais, como aves, peixes e cobras, o trabalho de monitoramento da Norte Energia engloba ações educacionais com as comunidades da região para a conservação das espécies. Isso porque, ao se aglomerarem para a reprodução, as tartarugas acabam se tornando presas fáceis para pessoas que utilizam a pesca do quelônio em larga escala para pesca predatória ou de consumo, o que é proibido, exigindo grande esforço do trabalho de fiscalização dos órgãos de governos.

Profissionais do Ideflor-Bio, em parceria com servidores da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e Secretarias Municipais de Meio Ambiente de Vitória do Xingu e Senador José Porfírio, intensificam as ações de fiscalização nas praias da região, para evitar a caça predatória e coleta dos ovos.

“O maior desafio é garantir que elas sobrevivam. E para isso a gente faz uma série de atividades. A fiscalização é a principal, porque o nosso pior inimigo aqui é o ser humano, por conta da caça ilegal da espécie e o consumo que há muito nas cidades vizinhas. Nisso a gente tem o auxílio da Norte Energia, que faz o monitoramento, que é o que a gente está fazendo aqui hoje, de encontrar todas as tartarugas que nascem,” conta Átilla Melo, Técnico em Gestão Ambiental do Ideflor-Bio. “A tartaruga tem uma função dentro da biota muito grande, uma delas é semear sementes. Por ser uma espécie onívora, ela se alimenta também do resto de vegetação, frutas e tudo mais, e as frutas servem para poder levar as sementes para outros lugares”. 

Há algumas diferenças entre as espécies foco do projeto. Os tracajás colocam os ovos em solos de maior densidade, como barrancos de argila e de forma espalhada pelas margens do rio, enquanto a tartaruga e o pitiú escolhem uma área preferencialmente de areia. As tartarugas têm, em média, 1 metro e 75Kg na fase adulta. Já os tracajás alcançam 45 cm e 5Kg quando adultos, com os pitiús atingindo cerca de 4Kg e 35 cm entre as fêmeas, maiores do que os machos. As tartarugas depositam entre 80 e 100 ovos por ninho, os tracajás entre 15 e 30 ovos e os pitiús colocam entre 20 e 25 ovos em cada ninho. Os tracajás são comumente vistos na Volta Grande do Xingu, mas a tartaruga e o pitiú estão presentes apenas na parte de baixo da bacia do Xingu, da região do povoado de Belo Monte até a sua foz no rio Amazonas. A expectativa de vida desses quelônios passa dos 100 anos.  

De acordo com monitoramento feito por satélites desde 2012 em 100 animais, e considerando a área de vida máxima de 8.853,08 km² para um dos animais marcados, há casos de tartarugas que vêm desovar no Tabuleiro do Embaubal, mas tem áreas de vida no arquipélago de Marajó e no rio Amazonas.

“Esses dados são importantes para indicar o processo migratório dos quelônios, acompanhar sua dinâmica de reprodução e indicar áreas necessárias para fiscalização ambiental. É um trabalho que vem sendo coroado de êxito, pois os parâmetros de avaliação indicam que tartarugas retornam para desovar no Tabuleiro, o que garante a sobrevivência das espécies,” conclui Roberto Silva. 

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