O pobre deputado federal

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PC Crônica do PC de Moura Reis

Conheço um deputado federal, e vou chamá-lo de J.F.P.L natural de um estado nordestino, pertencente a uma oligarquia, cuja família é ramificada em cidade do interior, detendo o poder municipal há mais de 60 anos. O deputado foi re-eleito nas últimas eleições pela sétima vez seguida, indo completar 28 anos de mandato. Ficou conhecido nas regiões onde é votado como um parlamentar presente, dando assistência ao povo, pois, todo o fim de semana, deixa Brasília e vem contatar com os amigos, conversando com um e com outro em audiências marcadas pelo seu secretário particular, quando o deputado procura se inteirar de tudo, até mesmo brigas de casais, e fuxico de vizinhos A exemplo do amigo político, que cabisbaixo se queixou:

“ Deputado, minha mulher me traiu”.

“ Com quem?

“ Com o safado do delegado. O que faço?”

Conselho do deputado:

“Primeiro, vou conseguir a transferência do dito cujo para uma cidade de fronteira, e bem distante daqui: segundo, mande sua mulher se confessar com Padre Leopoldo, que receberá uma reprimida, cumprirá disciplina, ao mesmo tempo será perdoada, a exemplo de Maria Madalena: terceiro, continue do lado dela, porque, para viver com mulher-do-pala-aberto, fique com a que você casou”.

É verdade, nenhum correligionário fica sem uma palavra de apoio do deputado, que ainda encontra tempo para participar de festas na cidade e interior, sejam de batizados, casamentos, ou arrasta-pés, às vezes em salões poeirentos de terra batida.

Ninguém nesse mundo fala mal do deputado, pela humildade do que lhe é peculiar, e fama de ser um pobretão, daqueles de sempre andar “duro” e de ter poucos bens.

Mesmo assim, viu-se envolvido no escândalo da CPI do Orçamento, 1993/1994, citado como um dos integrantes da quadrilha do esquema de manipulação de verbas públicas, que eram desviadas para empreiteiras e parlamentares. Seu nome foi parar nas manchetes dos jornais, acusado de enriquecimento ilícito. Não adiantou bradar que era inocente, terminou sendo investigado.

Sua vida transformou-se em livro aberto, esmiuçada desde o início de sua atividade política. Mexeram e remexeram, quebraram o sigilo bancário do deputado, e em quatro bancos encontraram apenas 12.345 reais de saldo e mais uma poupança no valor de 14.378, aberta há mais de dez anos. Nenhuma entrada e nem saída de dinheiro ou cheques de valores vultosos. Nos cartórios de imóveis, o deputado não possuía bens registrados, apenas um terreno e uma casa na sua cidade de origem, tudo declarado no IR. Resumindo: o parlamentar era um pobretão, vivendo unicamente dos salários que recebe no Congresso Nacional. A CPI constatou ainda que seu relacionamento com laranjas, só existia com um pé da referida árvore, plantada no quintal de sua casa, que ele mesmo colhia os frutos para chupar após o almoço.

Um jornal da capital do estado escreveu reportagem sobre o deputado, logo após a CPI o ter inocentado de todas as acusações, existentes contra ele, o matutino iniciando a matéria com o título e subtítulo dessa maneira:

“PARLAMENTAR É INOCENTADO”

“Nada ficou provado contra o deputado federal J.F.P.L na CPI do Orçamento, descobriram apenas ser o parlamentar investigado, “ilicitamente” pobre, e isso não é crime, é mistério”.

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