No próximo sábado, Rock in Roça festeja 10 anos com volta às raízes

Mesmo diante das dificuldades deste ano, roqueiros não abrem mão de comemorar uma década do único festival do mundo realizado em área de criação de búfalos e de trilhas ecológicas. E tribos se unem para também valorizar músicos da região, com o tema “Eu quero botar o meu bloco na rua”. O ingresso? Solidariedade: dois quilos de alimento não perecível.
“É maravilhoso poder estar com essa galera nesse próximo dia 9”, comemora Conrado, vocal e guitarra da banda Mud Whiskey, de Marabá

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Qual a banda nacional que vai se apresentar no Rock in Roça no próximo sábado, dia 9? A pergunta vem sendo feita frequentemente aos organizadores do evento, que se programavam para comemorar os 10 anos do RiR somente depois de conseguirem patrocínio ou maior apoio para o festival. O que aconteceria, possivelmente, apenas em 2024.

Mas aí entraram em cena os roqueiros mais antigos de Parauapebas, especialmente aqueles que curtem o Rock in Roça desde as primeiras edições. E já chegaram avisando: “Eu quero botar o meu bloco na rua”, nome da música de Sérgio Sampaio, escolhido como o tema do festival deste ano.

“A galera não se conformou em adiarmos o festival para o ano que vem porque, afinal, são dez anos de história do Rock in Roça; são dez anos movimentando a cultura e a arte de Parauapebas e agora, mais recentemente, impulsionando a economia e se mostrando como opção turística em nosso município. Percebemos então que daria para realizarmos o festival fazendo aquilo que nos motivou desde a primeira edição: mostrar e valorizar os nossos músicos, nossas bandas da região”, diz o empresário e produtor cultural Pedro de Oliveira.

Pedro de Oliveira: “São dez anos movimentando a cultura e a arte de Parauapebas”

Ou seja, no Sítio Açaizal, onde é realizado o evento, não terá banda de rock nacional, mas terá músicos de altíssima qualidade, que não deixam a desejar a ninguém e que, ao subirem no palco, arrebentam a galera a exemplo da Banda Pilantropia, conhecida dentro e fora do Pará, com Luciano Figueiredo (vocal), Rogério Byron (guitarra), Diogo George (guitarra) e Johnny Antcorpus (bateria). Fica a dica para quem quer seguir a banda no Instagram: @Pilantropia.

Outra grande atração vem de Marabá, a Mud Whiskey, há 15 anos na estrada e formada por Conrado (guitarra e vocal), Geraldo Capilé (baixo e vocal) e Carlos (bateria). “Nós tocamos blues, rock, jazz, soul, funk, mas sempre deixando o blues como principal influência”, assinala Conrado, para quem “é lisonjeiro” participar do Rock in Roça. “É um evento que garante participação da cidade, região e de Estados vizinhos. Então, é maravilhoso poder estar com essa galera nesse próximo dia 9”, afirma o músico.

Conforme destacado por Conrado, nem só de rock vive o RiR. O evento é aberto para os ritmos regionais, e no X Rock in Roça não poderia faltar o grupo Raízes Parauara, que com seus músicos e dançarinos embala o público ao som de carimbó, boi, siriá e outros ritmos irresistíveis que atraem atenção principalmente de quem é turista. E os músicos, à frente Clodoaldo, ainda arrancam boas risadas com o “paraensês”.

E quem encarou 2,4 mil quilômetros de estrada para tocar no RiR, vindo de Maceió (AL), foi Dell, precursor do Rock in Roça. Ele participava dos encontros comuns de amigos que curtem rock, no Sítio Açaizal, de onde surgiu a ideia de criação do festival. Dell reside atualmente no Piauí, mas estava na capital alagoana quando surgiu o convite para voltar às origens daquele que é o maior evento de rock da região sul e sudeste do Pará.

Dell, precursor do Rock in Roça, veio de Maceió (AL) para participar da 10ª edição do evento roqueiro

“É muito chão, mas vim com muito amor e muito carinho, preparando o meu melhor para os meus amigos de quem tenho saudade. Vou dar o máximo de mim nesse evento, da minha musicalidade para eles. Eu não vou decepcionar os meus amigos. Quero que eles curtam o que vai acontecer de surpresa da minha parte musical”, pontua Dell.

E tudo começou assim …

Para Dell, “é muito emocionante” falar sobre o Rock in Roça, que começou como uma diversão entre um grupo de roqueiros. “Só ia eu, Pedro [de Oliveira], os irmãos dele, alguns amigos, e lá a gente ficava dois, três dias tocando e fazendo muito som, muito rock and roll. A galera ficava feliz e ali era um encontro massa”, lembra Dell.

Joaquim Campos, dono do Sítio Açaizal, o palco do Rock in Roça: “Espero que continue por muitos anos”

O dono do Sítio Açaizal, o médico Joaquim Martins Campos, de 71 anos de idade, acompanhava tudo, mesmo que de longe. Ao comprar o terreno, em 1989, a ideia inicial dele era criar bovinos e fazer dali uma área de lazer para a família. Os planos foram mudados e seu Joaquim decidiu investir em búfalos ao mesmo tempo em que observava a movimentação do filho e amigos no sítio.

“O que começou como uma confraternização entre amigos e admiradores do rock – acho que influenciado pelos Beatles, que o Pedro cresceu ouvindo e cantando – hoje temos esta dimensão e espero que continue por muitos anos”, diz Joaquim Campos, com quem os roqueiros concordam plenamente.

Ao mudar para o Piauí, Dell não deixava de acompanhar o festival e seu crescimento a cada ano. Vinham as lembranças em que ele e amigos enfrentavam sol escaldante, chuva, atoleiro, de carro e de moto, para chegar ao encontro no sítio.

Não era possível imaginar que aquele encontro de amigos roqueiros crescesse tanto. “O evento se tornou gigante, e o Pedro, por sua fortaleza, no coração do amor, fazer um evento assim pra deixar os músicos, a gente feliz”, reconhece Dell, ao observar que o objetivo maior do festival é valorizar os músicos da região.

Trilha ecológica e ingresso solidário

Quem vai ao Rock in Roça e quer aproveitar ainda mais a natureza, tem uma boa oportunidade de fazer uma trilha ecológica de um quilômetro, sob o comando de Valdivino Santos, condutor de atrativos naturais da Cooperativa de Ecoturismo (Cooperture).

A trilha ecológica, com uma hora de duração, é uma das atrações do Rock in Roça

“A caminhada começará por volta das 16h30 e terá cerca de uma hora de duração. No percurso, a gente pode contemplar o pôr do sol no mirante que dá para os campos ferruginosos, no topo da trilha. Depois, retornamos à base”, informa Valdivino.

O condutor recomenda: quem vai participar precisa levar água, chapéu ou boné, protetor solar, repelente, sapato fechado e usar calça comprida de tecido, evitando-se a calça legging, inadequada para trilhas.

Neste ano, o Rock in Roça será realizado somente no sábado. Os portões serão abertos às 16 horas. Para curtir o festival, basta a solidariedade: dois quilos de alimentos não perecíveis, que serão entregues à Associação Comunitária Amor ao Próximo (Acap), fundada há nove anos para ajudar famílias em situação de vulnerabilidade.

Os alimentos não perecíveis serão entregues à Acap, para ajudar famílias em situação de vulnerabilidade

“Já é o quarto ano que a gente participa junto com o pessoal do Rock in Roça e é muito gratificante”, frisa o presidente da Acap, Elvisley Silva, que vê o festival como um evento que agrega a cultura em Parauapebas e no Pará. “É muito louvável a questão de se fazer o arrecadamento de alimentos no primeiro dia do evento para poder ajudar as pessoas da nossa cidade. A gente está com o mesmo objetivo: além de levar o alimento, a gente leva esperança para outras famílias”, ressalta Elvisley.

Serviço: O X Rock in Roça será realizado no Sítio Açaizal, na estrada do Cedere I, a 22 quilômetros do centro de Parauapebas. Os portões serão abertos para o público às 16 horas, sendo o ingresso dois quilos de alimentos não perecíveis, por pessoa.

Texto: Hanny Amoras (Jornalista Profissional – SRTE/PA 1.294)