Momento inspiration* - ZÉ DUDU

Momento inspiration*

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Ouvindo silêncios pelas estradas

Por Demerval Moreno

Deputados falam da Tribuna da Câmara Federal.

Aqui os manifestantes gritam por uma nova faculdade.

No Maraca lotado o Bota bota no Flamengo.

No quintal de casa, uma silenciosa jabuti caminha em busca de um pouco de comida e os Sanhaçus brincam, um a um, um de cada vez, toda vez que vão comer o pedaço do mamão que coloquei para eles hoje de manhã.

Saio devagar e aos poucos vou deixando a vida pegar velocidade pela estrada que me liga a tudo. É uma forma de fugir, até mesmo da calma que estressa, quanto do estresse que desacalma a alma.

Minha cabeça está cheia de letras e meu estômago embrulha de tanto papel e texto.

Tenho comido caracteres, tipos, fontes… ando empanturrado de Garamond’s, Georgias, Ariais.

Tudo é redação em torno da história que construo com pedaços de ideias, restos de papel, tocos de lápis, teclados de computador. Onde está minha máquina de escrever que me fazia pensar o quanto sou falho?

Sou desumano com as máquinas e às vezes muito máquina com os seres humanos.

Por isso corro em busca do silêncio dos caminhões fora de estrada, dos automóveis de rua, dos escapamentos tóxicos a poluir minhas paisagens pálidas, minhas páginas de tisna e fumaça. Só por isso…

Texto publicado originalmente no Blog do Amigo Moreno

* = inspiração

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1 comentário em “Momento inspiration*

  1. Fermina Daza Responder

    Caro Demerval,
    Quanto de sua escrita de agora tem um pouco de mim, tem um pouco de nós todos que viemos de longe com a algibeira de não caber de tantos sonhos e mapas. Quanto de tua busca pelo barulho dos escapamentos e da chuva é a nossa busca pelo barulho de fora a silenciar o barulho de dentro – essa nota fina e incômoda da saudade das coisas de nossa terra, daquilo que nos constitui. Silenciar o dentro, por um tempo, passa a ser uma profissão de fé. Amiúde deixamo-nos capturar pela teia grave do trabalho. Abandonamos a nossa capacidade de amar, só pra não sofrermos. Mas de que adiantam todos esses exílios, se sem o coração não há circulação, não há vida?

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