Entrevista Exclusiva com Zé Lima: o homem, o político e a história viva de Novo Repartimento

Com vida política iniciada em 1992, o maranhense já foi prefeito, deputado estadual e federal

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Nascido em 31 de outubro de 1946, na cidade de Mirador (MA), José Lima da Silva, conhecido popularmente como Zé Lima, é uma das figuras políticas mais emblemáticas da região sudeste do Pará. Ex-prefeito de Novo Repartimento, ex-deputado estadual e federal, Zé Lima construiu sua trajetória marcada por coragem, empreendedorismo e compromisso com o povo. Em entrevista exclusiva ao jornalista Carlos Magno, com apoio do ex-chefe de gabinete da prefeitura de Novo Repartimento, Clebson Carvalho, o veterano político abriu as portas da sua casa em Tucuruí e da sua memória para compartilhar sua caminhada de vida e política.

Logo ao chegar, o jornalista se deparou com um ambiente de profunda espiritualidade: um oratório cuidadosamente montado na sala principal, refletindo a fé e religiosidade da família Lima. Imagens sacras, terço, velas e a Bíblia compunham o espaço de devoção.

Das mãos calejadas da roça à tribuna da Câmara Federal

Zé Lima é filho de Vicente Angelino e Eudoxa Barbosa da Silva. Aos dois anos, migrou com a família para a região que hoje corresponde ao estado do Tocantins. Ainda jovem, aprendeu o ofício de alfaiate e chegou a confeccionar paletós de alto padrão. Trabalhou por um período em uma farmácia do tio, em Imperatriz (MA), onde adquiriu conhecimentos sobre medicamentos e chegou a realizar extrações dentárias — prática comum no interior do Brasil à época.

Casou-se com Nilde Cardoso Lima, com quem teve três filhos. Ao ter o terceiro filho, Nilde faleceu por complicações do parto, deixando Zé Lima viúvo e responsável por criar os filhos. Mais tarde, casou-se com Valmira Alves da Silva, filha de Raimundo Ademar, um respeitado produtor rural da região, com quem teve mais três filhos. A união, inicialmente reprovada pelo pai da noiva, prosperou com amor e parceria.

Empreendedor por natureza, Zé Lima iniciou suas atividades no comércio farmacêutico durante a construção da rodovia Transamazônica nos anos 1970, atendendo trabalhadores da Construtora Mendes Júnior. Mais tarde, em Tucuruí, fundou a famosa Farmácia Nossa Senhora de Fátima, sucesso absoluto durante as obras da Usina Hidrelétrica de Tucuruí. A farmácia funcionava das 4h às 23h, acompanhando o ritmo dos trabalhadores. Esse espírito incansável lhe rendeu respeito e visibilidade.

O nascimento de um líder político

Com a emancipação do distrito de Repartimento em 1992, seu nome passou a ser cogitado para disputar a prefeitura do recém-criado município de Novo Repartimento. A princípio relutante, e até mesmo viajando para Goiânia, Zé Lima decidiu aceitar o desafio após adversários tentarem convencê-lo a desistir com ofertas financeiras, o que ele considerou uma grave ofensa. Isso acendeu seu espírito de luta.

No dia 15 de novembro de 1992, foi eleito o primeiro prefeito de Novo Repartimento, com 2.573 votos, tendo como vice Dionízio Francisco de Melo, o popular Dió. Sua gestão foi marcada por desafios estruturais: não havia sede da prefeitura, câmara municipal, escolas ou hospital. Com o apoio do senador Jarbas Passarinho, do deputado federal Gerson Peres e da Eletronorte, Zé Lima implantou as primeiras estruturas do município e firmou mais de 30 convênios com o governo federal nas áreas de saúde, educação, saneamento e infraestrutura.

Entre os marcos de sua gestão destacam-se:

  • Implantação da cultura do cacau, que hoje torna Novo Repartimento um dos maiores produtores do país;
  • Melhoramento genético do rebanho bovino;
  • Vitória judicial que aumentou de 12% para 42% a área alagada do município no entorno do lago de Tucuruí, elevando significativamente as receitas municipais;
  • Construção de prédios públicos e aquisição de patrulhas mecanizadas.

Ao fim do mandato, Zé Lima saiu com 92% de aprovação popular.

Do Legislativo Estadual à Câmara Federal

Em 1998, foi eleito deputado estadual pelo PMDB, com 13.555 votos distribuídos em 99 municípios, sendo o terceiro mais votado da legenda. Já em 2002, pelo PP, elegeu-se deputado federal com mais de 48 mil votos, ganhando destaque pela defesa incansável dos interesses do Pará.

Na Câmara Federal, Zé Lima atuou em comissões importantes como:

  • Agricultura e Pecuária;
  • Amazônia e Desenvolvimento Regional;
  • Defesa do Consumidor;
  • Educação e Cultura;
  • Trabalho Escravo e Gestão de Florestas Públicas.

Ele destacou sua amizade com parlamentares como Jair Bolsonaro e Onyx Lorenzoni, com quem manteve relações cordiais. Sobre Bolsonaro, Zé Lima disse manter uma amizade respeitosa desde a legislatura, muito antes da presidência.

Acusações políticas e legado

Quando questionado sobre recentes acusações de envolvimento no assassinato do vereador Francisco Laércio Ferreira da Silva, crime ocorrido há quase 20 anos, Zé Lima foi enfático: classificou as alegações como caluniosas e de cunho político. Reafirmou que Laércio era seu aliado, amigo e chegou a morar em sua casa. Inclusive, foi ele quem nomeou o vereador como administrador da Vila 112, lhe dando visibilidade política. O próprio Laércio, por inúmeras vezes, utilizando a tribuna da Câmara, agradecia seu mandato, ao empenho pessoal de Zé Lima e Dona Valmira. 

Sobre o asfaltamento da BR-230 (Transamazônica) e da BR-422, Zé Lima relembrou as inúmeras audiências em Brasília, no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e com ministros, destacando o orgulho de ver a obra finalmente concluída. “É a realização de um sonho amazônico, uma luta que abracei desde o meu primeiro mandato”, afirmou.

Zé Lima fez questão de lembrar sua história política no Pará, desde a chegada em 1976. Foi prefeito, deputado estadual, deputado federal, e viu sua esposa Valmira Alves ser eleita prefeita por dois mandatos e um mandado tampão, além de ter promovido melhorias históricas como o 14º salário aos professores. Sua filha Eliane Lima foi eleita deputada estadual e seu genro à época, Sancler Ferreira, foi eleito vice-prefeito, prefeito reeleito de Tucuruí, com campanha coordenada por ele.

Um dos momentos mais emocionantes da entrevista foi quando Zé Lima relembrou o apoio político do irmão José Mendes de Oliveira – o “Oliveira” – e ainda mencionou o pai do jornalista, Manoel Paulo de Oliveira, a quem, mesmo não podendo comparecer ao velório, fez questão de prestar condolências pessoalmente à viúva, dona Brazilina.

Ao final da entrevista, o ex-deputado presenteou o jornalista com um exemplar de um livro sobre sua trajetória política no estado do Pará.

Casado com dona Valmira Alves, pai de seis filhos, avô de 13 netos e bisavô de cinco, José Lima da Silva segue sendo uma figura de respeito, fé e legado.

Por Carlos Magno
Jornalista DRT/PA 2627

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