Canaã: Sarau das Multivozes reúne 500 pessoas em comemoração ao Dia do Livro

Casa da Cultura promoveu evento com programação voltada à valorização das narrativas originárias, reunindo literatura, música e poesia

Continua depois da publicidade

“Participar do Sarau Multivozes na Casa da Cultura de Canaã dos Carajás foi uma experiência profundamente significativa. Estar nesse espaço de celebração do livro, da palavra e da escuta me tocou como mediadora, contadora de histórias e amante da literatura,” afirmou a produtora cultural Gabriela Silva, durante o Sarau das Multivozes realizado nesta terça-feira (22).

A ocasião reuniu cerca de 500 pessoas na Casa da Cultura de Canaã dos Carajás, espaço vinculado ao Instituto Cultural Vale (ICV), e teve contação de histórias, palestras, declamações poéticas e vivências culturais conduzidas por artistas e representantes de povos indígenas.

A intenção da Casa da Cultura foi lançar o olhar para a ancestralidade amazônica durante a celebração do Dia do Livro, comemorado no dia 22 de abril, data também alusiva ao Dia Nacional do Livro Infantil.

“O livro é uma porta mágica que se abre para mundos possíveis. E, para as infâncias, ele é ainda mais: é afeto, descoberta, imaginação. É através da leitura que as crianças ampliam sua percepção de si, do outro e do mundo. Por isso, eventos como esse são tão importantes — porque oferecem espaços onde as crianças podem se reconhecer, se encantar e sonhar,” destacou Silva, que integrou a programação com a contação de histórias de temática indígena.

Para a produtora, ver as crianças ouvindo histórias com os olhos brilhando, participando com o corpo inteiro, foi um presente. Ela afirma que a leitura, quando vivida em comunidade, fortalece vínculos e semeia futuros mais humanos e sensíveis.

“Agradeço imensamente à Casa da Cultura de Canaã dos Carajás pela oportunidade e pelo acolhimento, à equipe que trabalhou com tanto carinho para tornar esse encontro possível, aos convidados Auritha Tabajara, Regilane Guajajara, Airton Souza, aos membros da Academia de Letras de Canaã e às queridas bibliotecárias que são guardiãs dos nossos livros e sonhos. Que venham muitos outros encontros como esse, onde a cultura floresce e os livros tocam corações desde cedo,” concluiu.

Experiência sensível e plural

O evento destaca a potência da arte e oralidade na valorização da diversidade e no fortalecimento da representatividade indígena no campo intelectual e artístico. A intenção, segundo a diretora da Casa da Cultura, Gabriela Sobral, é trazer à luz as diversas narrativas originárias, em um dia regado a música, literatura e poesia.

“O Sarau das Multivozes é uma iniciativa que traz narrativas plurais dos povos indígenas para dialogar com o público da Casa da Cultura de Canaã. Isso é muito importante, porque estamos contando a história dessas comunidades, dos que constituíram a história do Brasil. Não estamos trabalhando uma narrativa única da história,” afirma. O ambiente de troca e inspiração também serviu como ponto de encontro para exaltar o poder dos livros, das palavras e das diferentes formas de contar histórias, seja pela escrita, pelo corpo ou pelo som.

Ela conclui: “O Sarau veio com um recorte voltado para a promoção do livro, da leitura e da literatura, um nicho artístico em que os povos originários, por muitos anos, tiveram pouco espaço. Hoje, essa produção tem se amplificado e o objetivo é justamente contribuir para ecoar essas histórias, saberes e percepções de conhecimento que não estejam centrados apenas no Brasil da história europeia que conhecemos como cânone. É fundamental reconhecer que a produção literária dos povos indígenas faz parte do nosso patrimônio e precisa ocupar, com potência, os espaços de criação artística”.

O escritor, poeta, professor e pesquisador Airton Souza foi um dos convidados. Entre dezenas de outras obras, é autor do romance “Outono de carne estranha”, vencedor do Prêmio Sesc 2023. Para ele, as ações em torno do livro, da leitura e das literaturas vêm se fortalecendo na região sudeste do Pará. “O Sarau das Multivozes é um bom exemplo disso. Ações como essa promovem intercâmbios e revelam o quão diversa é a nossa cultura,” complementa.

A programação contou ainda com uma palestra sobre literatura e resistência cultural, uma vivência sobre grafismos e pintura corporal Guajajara, além de um momento dedicado à declamação de poesias com escritores locais. Todas as atividades dialogam com o propósito de amplificar vozes, saberes e percepções indígenas, promovendo o reconhecimento de seus lugares na produção de conhecimento e na arte.

 (Texto: Natália Mello)

Deixe seu comentário

Posts relacionados

plugins premium WordPress