A Rodovia Transamazônica, construída na década de 1970 pelo governo militar, tornou-se uma das mais importantes vias de integração da Amazônia. Durante mais de quatro décadas, porém, ela foi apenas uma estrada de chão batido. No período chuvoso, os intermináveis atoleiros tornavam a viagem uma verdadeira odisseia; já no verão, a poeira constante provocava inúmeros acidentes.
Hoje, graças ao esforço de diferentes governos, a realidade mudou: vários trechos foram pavimentados, garantindo mais segurança e agilidade ao transporte. Entre Marabá e Altamira, um dos mais movimentados da região, o asfaltamento trouxe desenvolvimento, dinamismo e progresso para as comunidades ao longo da rodovia.
O jornalista Carlos Magno, criado às margens da Transamazônica nas décadas de 1970 e 1980 e profundo conhecedor da região, percorreu recentemente o trecho Marabá–Novo Repartimento e comprovou as transformações. “Viagens que, no período do inverno, chegavam a demorar uma semana hoje são feitas em poucas horas, graças ao excelente pavimento da rodovia. As antigas pontes de madeira deram lugar a estruturas modernas de concreto. O fluxo de carretas transportando produtos para toda a Amazônia é intenso. Ônibus confortáveis agora circulam com regularidade, algo impensável no passado, quando a poeira e a lama inviabilizavam o transporte”, relatou.
Cidades próximas também foram beneficiadas. Tucuruí, localizada em um ramal de 70 quilômetros fora do eixo principal, passou a receber mais viajantes, já que cerca de 80% das pessoas que saem de Marabá com destino ao município preferem seguir pela Transamazônica, em vez da PA-150, que em breve passará a cobrar pedágio após ser privatizada pelo governo estadual.
Para Carlos Magno, ver a rodovia pavimentada é a realização de um sonho de infância. “Quando criança, viajei inúmeras vezes com meu saudoso pai, Manoel Paulo de Oliveira, e ficávamos dias atolados nos atoleiros do inverno amazônico. Muitas vezes, as cargas de banana, abacaxi e outros produtos agrícolas acabavam se perdendo. Hoje, a realidade é outra: o produtor rural consegue transportar seus produtos de forma mais rápida e eficiente. Além disso, as propriedades ao longo da rodovia se valorizaram consideravelmente”, afirma.
Um projeto ambicioso e inacabado
Oficialmente denominada BR-230, a Transamazônica foi idealizada para integrar a Amazônia ao restante do Brasil. Inaugurada em 1972, durante o governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, fazia parte do Programa de Integração Nacional (PIN), que prometia conectar o Atlântico ao Pacífico com 4.260 quilômetros de extensão, atravessando sete estados brasileiros.
No entanto, o projeto enfrentou enormes desafios. As condições climáticas extremas, a falta de estudos de viabilidade econômica e ambiental e a dificuldade de manutenção inviabilizaram a pavimentação completa. Até hoje, grandes trechos permanecem de terra, tornando a rodovia intransitável em determinadas épocas do ano, especialmente na estação chuvosa.
A construção também gerou impactos ambientais significativos, como o desmatamento e a alteração de ecossistemas. Mesmo assim, a Transamazônica continua sendo uma das maiores rodovias do país e desempenha um papel crucial para o escoamento da produção agrícola e a mobilidade de inúmeras comunidades amazônicas.
Cinco décadas depois de sua inauguração, a BR-230 ainda representa um misto de sonho e desafio para a região. Seu asfaltamento, quando concluído, poderá finalmente concretizar a promessa de integração e desenvolvimento sustentável para a Amazônia.
Por Carlos Magno
Jornalista – DRT/PA 2627