A Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889, durante muito tempo foi ensinada como um movimento cívico, pacífico e inevitável, conduzido por lideranças comprometidas com a modernização do país. No entanto, a historiografia mais recente tem revisitado esse episódio, apontando que o que se deu naquele dia foi, essencialmente, o primeiro golpe militar ou político-militar da história brasileira.
Porém, pesquisas atuais destacam que não houve mobilização popular significativa nem um movimento republicano massivo pressionando por mudanças. A transição do Império para a República foi articulada por uma elite militar e civil descontente com o governo de Dom Pedro II, em um contexto de tensões envolvendo a perda de influência do Exército, disputas com o gabinete imperial e o desgaste político causado pela abolição da escravidão, que enfraqueceu a base econômica dos grandes proprietários rurais.
O marechal Deodoro da Fonseca, personagem central do episódio, não era um republicano convicto. Sua adesão ao movimento se deu mais por rivalidades políticas do que por convicção ideológica. Ainda assim, foi ele quem liderou tropas para depor o gabinete ministerial e forçar a renúncia do Imperador, instaurando um novo regime sem consulta pública, sem debate no Parlamento e sem participação da sociedade.
Sob essa ótica, a Proclamação da República inaugura um padrão que se repetiria ao longo da história brasileira: a intervenção militar como instrumento legítimo de reorganização do poder. A República nasceu, portanto, não de um processo democrático, mas de uma ruptura forçada, conduzida por quartéis e respaldada por grupos civis influentes.
As revoltas que se seguiram e a resistência à nova ordem
A instauração da República não pacificou o país. Ao contrário: a falta de legitimidade popular do novo regime deu origem a uma série de levantes regionais, conflitos armados e movimentos de contestação ao poder central, especialmente nas duas primeiras décadas republicanas.
Ainda que anterior à Proclamação, a Cabanagem (1835–1840), ocorrida na então Província do Grão-Pará, costuma ser relembrada como um dos maiores movimentos de resistência da população amazônica contra o domínio político distante do poder central. Muitos estudiosos a citam como um antecedente histórico da dificuldade de integração das províncias ao projeto político imposto de cima para baixo — dinâmica que se repetiria na República recém-proclamada.
Já no período republicano, diversas revoltas mostraram que o novo regime não foi aceito de forma automática pela sociedade brasileira:
- Revolta da Armada (1891–1894), no Rio de Janeiro, liderada pela Marinha, que reagiu contra o autoritarismo dos primeiros governos republicanos, especialmente de Floriano Peixoto.
- Revolução Federalista (1893–1895), no Sul do país, contestando o centralismo republicano e o domínio político de elites regionais alinhadas ao governo.
- Guerra de Canudos (1896–1897), no sertão baiano, onde sertanejos organizaram uma comunidade autônoma e foram destruídos pelas forças militares que viam no movimento uma ameaça à ordem republicana.
- Revolta da Vacina (1904), no Rio de Janeiro, que, embora motivada por medidas sanitárias, também expressou a rejeição da população urbana ao autoritarismo do Estado republicano.
Esses movimentos revelam um país profundamente dividido, onde a República se impôs muito mais pela força das armas do que pela adesão popular. A instabilidade das primeiras décadas confirma o diagnóstico revisionista: a República nasceu sob o signo da coerção militar e carregou consigo as contradições e resistências geradas por uma mudança abrupta, pouco discutida e pouco legitimada socialmente.
Presidentes do Brasil
| Nº | Presidente | Mandato | Observações / Partido |
| 1 | Deodoro da Fonseca | 1889–1891 | Militar |
| 2 | Floriano Peixoto | 1891–1894 | Militar |
| 3 | Prudente de Morais | 1894–1898 | PR Federal |
| 4 | Campos Sales | 1898–1902 | PRP |
| 5 | Rodrigues Alves | 1902–1906 | — |
| 6 | Afonso Pena | 1906–1909 | — |
| 7 | Nilo Peçanha | 1909–1910 | — |
| 8 | Hermes da Fonseca | 1910–1914 | Militar |
| 9 | Venceslau Brás | 1914–1918 | — |
| 10 | Delfim Moreira | 1918–1919 | — |
| 11 | Epitácio Pessoa | 1919–1922 | — |
| 12 | Artur Bernardes | 1922–1926 | — |
| 13 | Washington Luís | 1926–1930 | — |
| — | Junta Militar (provisória) | 1930 | — |
| 14 | Getúlio Vargas | 1930–1945 | — |
| 15 | José Linhares | 1945–1946 | — |
| 16 | Eurico Gaspar Dutra | 1946–1951 | PSD / Militar |
| 17 | Getúlio Vargas | 1951–1954 | PTB |
| 18 | Café Filho | 1954–1955 | — |
| 19 | Carlos Luz | 1955 | Interino |
| 20 | Nereu Ramos | 1955–1956 | — |
| 21 | Juscelino Kubitschek | 1956–1961 | — |
| 22 | Jânio Quadros | 1961 | — |
| 23 | Ranieri Mazzilli | 1961 | Interino |
| 24 | João Goulart | 1961–1964 | — |
| 25 | Ranieri Mazzilli | 1964 | Interino |
| 26 | Castelo Branco | 1964–1967 | Militar |
| 27 | Costa e Silva | 1967–1969 | Militar |
| — | Junta Militar (provisória) | 1969 | — |
| 28 | Emílio Médici | 1969–1974 | Militar |
| 29 | Ernesto Geisel | 1974–1979 | Militar |
| 30 | João Figueiredo | 1979–1985 | Arena/PDS |
| 31 | Tancredo Neves | Eleito em 1985 | Não assumiu |
| 32 | José Sarney | 1985–1990 | PMDB |
| 33 | Fernando Collor | 1990–1992 | PRN |
| 34 | Itamar Franco | 1992–1995 | PMDB |
| 35 | Fernando Henrique Cardoso | 1995–2003 | PSDB |
| 36 | Luiz Inácio Lula da Silva | 2003–2011 | PT |
| 37 | Dilma Rousseff | 2011–2016 | PT |
| 38 | Michel Temer | 2016–2019 | PMDB/MDB |
| 39 | Jair Bolsonaro | 2019–2023 | PSL / PL |
| 40 | Luiz Inácio Lula da Silva | 2023– | PT |
(Eleutério Gomes. Com informações de sites especializados em História do Brasil; e pesquisas do ChatGPT, da OpenAI)