Português falado no Brasil pode ser substituído por nova língua

O "brasileiro", como provavelmente se chamará o novo idioma, se desenvolveu de forma tão independente, que atualmente já não se configura como a língua de origem
(Foto: Guilherme Sá/ Museu da Língua Portuguesa)

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Nas ruas de Portugal, dizer palavras como “frigorífico”, “ficar de lado” ou “rapariga” é algo comum. Já no Brasil, essas palavras têm significados diferentes: geladeira, ladeira e moça, respectivamente. Esse é apenas um dos muitos exemplos das profundas diferenças entre o português falado no Brasil e o de Portugal, variações que, segundo alguns linguistas, podem levar a um processo oficial de separação linguística em breve.

Pesquisadores apontam que o português falado no Brasil já se descolou tanto do padrão europeu que, em futuro próximo, poderá ser reconhecido oficialmente como uma nova língua: o “brasileiro”.

Um dos principais defensores dessa ideia é o linguista português Fernando Venâncio, autor do livro Assim Nasceu uma Língua. Segundo ele, o idioma que chamamos de português nasceu originalmente na Galícia, região que hoje pertence à Espanha, e não no que hoje é Portugal. O linguista defende que o português brasileiro, com suas influências indígenas, africanas e internas, desenvolveu-se de forma tão autônoma que já configura uma nova língua.

Desde a independência do Brasil, em 1822, o país tem acumulado o que os estudiosos chamam de brasileirismos — expressões, vocabulário e construções gramaticais próprias. O contato com mais de mil línguas indígenas, além da forte influência de idiomas africanos como os da família banto, gerou um português falado com identidade única.

Expressões como cafuné, banguela e fofoca nasceram da mistura com línguas africanas, enquanto palavras como mandioca, tatu e tietê são legados indígenas que não existiam no vocabulário europeu.

O português do Brasil é um só?

Nem mesmo dentro do território brasileiro é possível falar em uma versão única da língua. O país apresenta fortes variações regionais, como o “r caipira” do interior paulista, o “s chiado” do carioca, ou o sotaque cantado do Nordeste.

Segundo especialistas, essa diversidade fortalece ainda mais a ideia de que o Brasil já construiu uma nova língua — rica, plural e moldada por sua própria realidade histórica e cultural.

Atualmente, o português é falado em nove países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), incluindo Brasil, Portugal, Angola e Moçambique. É também idioma oficial em Macau e falado por mais de 280 milhões de pessoas, com o Brasil concentrando mais de 80% dos falantes.

Apesar disso, há uma clara divisão entre o português europeu e o brasileiro, tanto na fala quanto na escrita. Tentativas de padronização, como o Acordo Ortográfico, têm sido alvo de críticas e resistências — principalmente no Brasil, onde muitos argumentam que a língua já seguiu seu próprio caminho.

A hipótese de uma oficialização do “brasileiro” como língua independente ainda é vista com ceticismo por muitas autoridades e linguistas conservadores. Mas o movimento já existe, especialmente entre estudiosos que consideram que o idioma falado pela maioria dos brasileiros não precisa mais ser validado pela norma europeia.

Texto: Paulo Silvini
Fonte: Diário do Comércio

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