A Cúpula dos Povos, evento paralelo à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), terminou neste domingo (16) com um emocionado apelo do cacique Raoni Metuktire pela defesa da vida, da floresta e dos povos originários. Reconhecido mundialmente como uma das maiores lideranças indígenas do Brasil, ele voltou a alertar o planeta sobre as consequências da destruição ambiental e das mudanças climáticas.
“Há muito tempo, eu vinha alertando sobre o problema que hoje nós estamos passando, de mudanças climáticas, de guerras”, afirmou. Em tom firme, pediu a continuidade da mobilização global: “Peço a todos que possamos dar continuidade a essa missão de defender a vida da Terra. Que possamos lutar contra aqueles que querem destruir a nossa terra”.
Raoni encerrou sua fala com um chamado à paz: “Há muito tempo venho dizendo que precisamos ter respeito um com o outro, para que possamos viver em paz nessa terra”.
O maior espaço de participação social da COP30
A Cúpula dos Povos reuniu cerca de 70 mil participantes, entre indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, camponeses, moradores das periferias urbanas e representantes de 62 países. O encontro foi o maior espaço de participação popular da COP30 e culminou na leitura da Declaração da Cúpula dos Povos, entregue ao presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago.
O diplomata garantiu que levará as reivindicações às reuniões de alto nível do evento, que começam nesta segunda-feira (17). “Saber que a sociedade civil mundial tem voz em Belém é absolutamente sensacional”, destacou.
Declaração critica “falsas soluções” e reforça o papel dos povos tradicionais
O documento final afirma que muitas das estratégias apresentadas por governos e empresas para enfrentar a crise climática são “falsas soluções”, insuficientes diante da urgência planetária. “Nosso compromisso é fortalecer soluções construídas em nossos territórios, por muitas mãos”, enfatiza o texto.
A declaração reforça que “não há vida sem natureza” e reconhece o papel central das mulheres na reconstrução ética e ambiental do mundo. “O feminismo é parte central do nosso projeto político”, explica, ao defender que a vida — e não o lucro — deve estar no centro das decisões econômicas.
O texto aponta ainda o capitalismo global como causa estrutural da crise climática e denuncia o peso desproporcional que os impactos exercem sobre povos vulnerabilizados, especialmente comunidades tradicionais e periféricas. As grandes corporações transnacionais – mineradoras, empresas de energia, indústrias bélicas, agronegócio e Big Techs – também são citadas como responsáveis diretas pela degradação ambiental.

Principais reivindicações dos movimentos sociais
Entre as demandas apresentadas ao presidente da COP30 estão:
- Demarcação de terras indígenas;
- Reforma agrária e fortalecimento da agroecologia;
- Fim dos combustíveis fósseis;
- Financiamento público para uma transição ecológica justa;
- Taxação de grandes fortunas, corporações e do agronegócio;
- Fim das guerras e da militarização de territórios.
A declaração também manifesta apoio ao povo palestino, denunciando o “genocídio praticado contra a Palestina” e condena ações imperialistas em diferentes regiões do mundo. Por fim, expressa solidariedade a povos de países da América Latina, África e Ásia que enfrentam conflitos, opressões ou disputas geopolíticas.
A voz das infâncias
Durante o encerramento, André Corrêa do Lago também recebeu a Carta das Infâncias, elaborada por cerca de 700 crianças e adolescentes que participaram das atividades da Cúpula.
O texto expressa preocupação com o futuro em meio à emergência climática: “Para que as próximas crianças não tenham medo do calor, da fumaça, da falta de água, da extinção dos animais. Para que elas possam desenhar florestas vivas e não florestas morrendo”.
Lula: “A COP30 não seria viável sem vocês”
Em carta enviada aos participantes e lida pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a importância da participação popular na construção do evento internacional.
“A COP30 não seria viável sem a participação de vocês. Esta extraordinária concentração de pessoas que acreditam que outro mundo é possível e necessário”, afirmou. E ainda lembrou: “Debaixo de cada árvore da Amazônia há uma mulher, um homem, uma criança”.
Encerramento com Banquetaço pela Justiça Climática
Após cinco dias de debates, marchas e atos públicos, a Cúpula dos Povos terminou com o Banquetaço pela Justiça Climática, realizado na Praça da República, em Belém. Cozinhas comunitárias distribuíram refeições gratuitamente em um gesto de solidariedade e partilha, acompanhado de apresentações culturais e mensagens de união.
O ato final simbolizou o compromisso coletivo de defender a Amazônia, os direitos humanos e o equilíbrio do planeta, reafirmando o protagonismo dos povos da floresta, do campo e da cidade na luta por justiça climática.
Carlos Magno
Jornalista – DRT/PA 2627







